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A n a i s d o I HM T
A lusofonia e a irmandade dos povos na língua
The lusophony and the people brotherhood in the language
CláudioTadeu Daniel-Ribeiro
Presidente da Federação Internacional de MedicinaTropical
Médico, Doutor em Biologia Humana,
MembroTitular da Academia Nacional de Medicina (Brasil)
e PesquisadorTitular e Professor de Imunologia
e Malariologia do Centro de Pesquisa, Diagnóstico eTreinamento em Malária de Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz
ribeiro@ioc.fiocruz.brConvidou-me o Professor Paulo Ferrinho para, na qualidade
de Presidente da Federação Internacional de Medicina Tro-
pical (IFTM), cumprir a honrosa tarefa de escrever o Edito-
rial para este número dos
Anais do Instituto de Higiene e
MedicinaTropical
da Universidade nova de Lisboa (IHMT/
UNL), dedicado ao 2º Congresso Nacional de MedicinaTro-
pical. Deu-me somente uma instrução: - Faça-o em portu-
guês. Aceitei a empreitada e o desafio, enaltecido e ditoso
pela escolha de meu nome, e honrado e encantado pela oca-
sião oportuna e coincidente.
Oportuna, pela própria natureza das funções da IFTM que
incluem a promoção da interação entre profissionais na área
em diferentes Países e o estímulo à criação de Sociedades
Nacionais de MedicinaTropical onde elas ainda inexistem ou
deixaram de existir. Coincidente, por ter logrado a presença
de três lusófonos entre os membros da Diretoria e da Di-
retoria Expandida com as quais trabalharei no meu manda-
to de quatro anos, não obstante meu compromisso de nele
contemplar representantes dos cinco continentes. Apreciei,
portanto, a coincidência do chamamento para produzir esse
Editorial ao mesmo tempo em que celebrava a presença de
um português (Virgílio do Rosário) na Diretoria Expandida,
um Angolano (Filomeno Fortes) na Secretaria Geral e um
Brasileiro (eu mesmo) na Presidência da IFTM. Uma tal par-
ceria nos facilitará promover o fortalecimento de Redes Lu-
sófonas de Investigação, como a
Rides-Malária
, que tenho o
prazer de integrar há vários anos, ou de outras atividades de
fomento ao ensino de pós-graduação de forma inclusiva com
os Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOPs), como
as que minha casa mãe, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
mantém com o igualmente centenário IHMT.
O Brasil é um País plural em muitos sentidos, inclusive o da
constituição de seu povo de tão variadas etnias, de tal forma
que pode surpreender a alguns tomar ciência de meu relato
de que foi só ao me mudar, aos 25 anos, para Paris para espe-
cializar-me em Medicina Tropical e cursar meu Doutorado
em Imunologia, que me dei verdadeiramente conta que um
negro era um Africano e um amarelo um Asiático. Confesso
que até então, vendo-os todos convivendo e falando a mesma
língua em meu País, cuja nacionalidade é atribuída aos que
nascem em seu solo, nunca havia atentado para esse “deta-
lhe”. À essa lição se acrescentou uma outra, talvez mais im-
portante, “aprendida” primeiro também em França e depois
por influência de ações deflagradas por amigos portugueses
compromissados com a integração em Rede de cientistas lu-
sófonos empenhados no estudo da malária : “a identificação
de um “irmão” naquele com quem posso falar em português
em qualquer lugar do planeta”. Poder falar sobre nosso tema
de estudo e preocupação em encontros científicos interna-
cionais organizados em Lisboa, Luanda ou Rio de Janeiro
com Açorienses, Angolanos, Brasileiros, Cabo-Verdianos,
Moçambicanos, Portugueses e outros em uma mesma língua
tem sido um dos mais agradáveis exercícios desses últimos
anos. Devo tal experiência aos Portugueses, como Virgílio
do Rosário, Maria do Rosário Martins e Paulo Ferrinho, em
quem percebo tais compromisso e motivação. Da mesma
forma julgo que meu País deve a integração de etnias que vi-
vencia cotidianamente, com a mestiçagem que nos torna um
povo melhor a cada dia sob os pontos de vista genético e cul-
tural, à visão integradora, pelas motivações que fossem, dos
primeiros portugueses que chegaram ao Brasil em 1500 e
aqui viveram, primeiro no Brasil Colônia, pelos mais de 300
anos seguintes, e no Império e República livres até hoje.
O IHMT, fundado na Lisboa de 1902, como “Escola de Me-
dicina Tropical Portuguesa” juntamente com o Hospital Co-
lonial, valorizava o conhecimento especializado no âmbito
das Doenças Tropicais como resultado da preocupação das
autoridades sanitárias do País com as patologias dominantes
na época em territórios colonizados por Portugal, ameaça
real para os colonizadores, a medicina correspondendo a
Editorial