Table of Contents Table of Contents
Previous Page  11 / 114 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 11 / 114 Next Page
Page Background

11

A n a i s d o I HM T

A lusofonia e a irmandade dos povos na língua

The lusophony and the people brotherhood in the language

CláudioTadeu Daniel-Ribeiro

Presidente da Federação Internacional de MedicinaTropical

Médico, Doutor em Biologia Humana,

MembroTitular da Academia Nacional de Medicina (Brasil)

e PesquisadorTitular e Professor de Imunologia

e Malariologia do Centro de Pesquisa, Diagnóstico eTreinamento em Malária de Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz

ribeiro@ioc.fiocruz.br

Convidou-me o Professor Paulo Ferrinho para, na qualidade

de Presidente da Federação Internacional de Medicina Tro-

pical (IFTM), cumprir a honrosa tarefa de escrever o Edito-

rial para este número dos

Anais do Instituto de Higiene e

MedicinaTropical

da Universidade nova de Lisboa (IHMT/

UNL), dedicado ao 2º Congresso Nacional de MedicinaTro-

pical. Deu-me somente uma instrução: - Faça-o em portu-

guês. Aceitei a empreitada e o desafio, enaltecido e ditoso

pela escolha de meu nome, e honrado e encantado pela oca-

sião oportuna e coincidente.

Oportuna, pela própria natureza das funções da IFTM que

incluem a promoção da interação entre profissionais na área

em diferentes Países e o estímulo à criação de Sociedades

Nacionais de MedicinaTropical onde elas ainda inexistem ou

deixaram de existir. Coincidente, por ter logrado a presença

de três lusófonos entre os membros da Diretoria e da Di-

retoria Expandida com as quais trabalharei no meu manda-

to de quatro anos, não obstante meu compromisso de nele

contemplar representantes dos cinco continentes. Apreciei,

portanto, a coincidência do chamamento para produzir esse

Editorial ao mesmo tempo em que celebrava a presença de

um português (Virgílio do Rosário) na Diretoria Expandida,

um Angolano (Filomeno Fortes) na Secretaria Geral e um

Brasileiro (eu mesmo) na Presidência da IFTM. Uma tal par-

ceria nos facilitará promover o fortalecimento de Redes Lu-

sófonas de Investigação, como a

Rides-Malária

, que tenho o

prazer de integrar há vários anos, ou de outras atividades de

fomento ao ensino de pós-graduação de forma inclusiva com

os Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOPs), como

as que minha casa mãe, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),

mantém com o igualmente centenário IHMT.

O Brasil é um País plural em muitos sentidos, inclusive o da

constituição de seu povo de tão variadas etnias, de tal forma

que pode surpreender a alguns tomar ciência de meu relato

de que foi só ao me mudar, aos 25 anos, para Paris para espe-

cializar-me em Medicina Tropical e cursar meu Doutorado

em Imunologia, que me dei verdadeiramente conta que um

negro era um Africano e um amarelo um Asiático. Confesso

que até então, vendo-os todos convivendo e falando a mesma

língua em meu País, cuja nacionalidade é atribuída aos que

nascem em seu solo, nunca havia atentado para esse “deta-

lhe”. À essa lição se acrescentou uma outra, talvez mais im-

portante, “aprendida” primeiro também em França e depois

por influência de ações deflagradas por amigos portugueses

compromissados com a integração em Rede de cientistas lu-

sófonos empenhados no estudo da malária : “a identificação

de um “irmão” naquele com quem posso falar em português

em qualquer lugar do planeta”. Poder falar sobre nosso tema

de estudo e preocupação em encontros científicos interna-

cionais organizados em Lisboa, Luanda ou Rio de Janeiro

com Açorienses, Angolanos, Brasileiros, Cabo-Verdianos,

Moçambicanos, Portugueses e outros em uma mesma língua

tem sido um dos mais agradáveis exercícios desses últimos

anos. Devo tal experiência aos Portugueses, como Virgílio

do Rosário, Maria do Rosário Martins e Paulo Ferrinho, em

quem percebo tais compromisso e motivação. Da mesma

forma julgo que meu País deve a integração de etnias que vi-

vencia cotidianamente, com a mestiçagem que nos torna um

povo melhor a cada dia sob os pontos de vista genético e cul-

tural, à visão integradora, pelas motivações que fossem, dos

primeiros portugueses que chegaram ao Brasil em 1500 e

aqui viveram, primeiro no Brasil Colônia, pelos mais de 300

anos seguintes, e no Império e República livres até hoje.

O IHMT, fundado na Lisboa de 1902, como “Escola de Me-

dicina Tropical Portuguesa” juntamente com o Hospital Co-

lonial, valorizava o conhecimento especializado no âmbito

das Doenças Tropicais como resultado da preocupação das

autoridades sanitárias do País com as patologias dominantes

na época em territórios colonizados por Portugal, ameaça

real para os colonizadores, a medicina correspondendo a

Editorial