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DISCURSO PROFERIDO PELO REITOR DA UNL PROFESSOR ANTÓNIO RENDAS NA
ATRIBUIÇÃO DO GRAU DE DOUTOR HONORIS CAUSA A LUÍS G. SAMBO
Por proposta do Instituto de Higiene e Medicina
Tropical, ouvido o Colégio de Directores da
Universidade Nova de Lisboa, a Universidade
Nova de Lisboa decidiu atribuir o Grau de Doutor
Honoris Causa a Luís Gomes Sambo, Director
Regional da Organização Mundial da Saúde para a
África.
A cerimónia de hoje ao homenagear uma distinta
personalidade africana, prestigia e honra a NOVA,
ao demonstrar a sua abertura internacional no
espaço da lusofonia. Saúdo, por isso, com especial
consideração, o novo Doutor Honoris Causa e
todos os ilustres membros da comunidade
académica da NOVA que participaram
activamente nesta cerimónia: o Orador, o Padrinho
e o Diretor do IHMT.
Saúdo igualmente o Senhor Presidente do
Conselho Geral e, na sua pessoa, cumprimento toda
a comunidade académica aqui presente.
Ilustres convidados, minhas senhoras e meus
senhores, seja-me permitida uma palavra de
especial consideração a Sua Excelência o Ministro
da Saúde de Angola, José Van-Duném
,
e a sua
Excelência o Embaixador de Angola em Portugal,
José Marcos Barrica.
O Doutor Luís Sambo é uma figura proeminente da
saúde pública internacional que ocupa, desde 2005,
o lugar de Director Regional da Organização
Mundial da Saúde para a África. Essa direcção
regional foi ocupada pela primeira vez pelo
Professor Francisco Cambournac, diretor do
IHMT, figura única da saúde pública das regiões
tropicais, com quem tive a honra de privar quando
exerci as funções de diretor do IHMT. À sua
memória a minha mais sentida homenagem.
Existem muitas ligações entre o IHMT e a região
africana da OMS mas a memória do Professor
Francisco Cambournac é, porventura, a mais
significativa.
Depois das brilhantes exposições feitas pelos
oradores que me antecederam seria suficiente que
felicitasse o Dr. Luís Sambo por pertencer, a partir
de agora, à comunidade académica da NOVA e
encerrar a sessão.
Contudo, para lá de não assumir tal postura nestas
cerimónias, as circunstâncias especiais que
vivemos e a personalidade que
hoje
homenageamos, justificam uma mais longa
intervenção da minha parte.
É a primeira vez que a NOVA atribui o grau de
Doutor Honoris Causa a um médico natural de
Angola, licenciado pela Faculdade de Medicina
desse país onde ocupou lugares de grande relevo,
não só técnicos mas também políticos, na
coordenação dos serviços de saúde, assumindo-se
atualmente, e desse os últimos sete anos, como
representante máximo da OMS em África.
Dispenso-me também de mencionar as ligações do
Dr. Luís Sambo a Portugal e ao IHMT, porque são
conhecidas, mas devo acentuar que constituem um
capital precioso para o futuro da cooperação entre
Portugal e os Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa, muito para lá do prestigiado cargo que
o Dr. Luís Sambo ocupa presentemente.
A NOVA tem um plano estratégico para o
quadriénio 2012-2016 que assenta em pilares
inovadores de desenvolvimento, dos quais a
internacionalização é um dos vetores essenciais.
Essa internacionalização está orientada não só para
o espaço europeu, mas também para o espaço da
lusofonia: África lusófona e Brasil. O IHMT é por
vocação e competência própria o agente essencial
dessa estratégia na área da saúde.
Quando o IHMT foi fundado, em 1902, a palavra
tropical, e não devemos ter medo das palavras,
representava um conceito que pode ser visto, ainda
hoje, como estigmatizante face aos naturais dessas
regiões do mundo.
Contudo, o papel da medicina tropical portuguesa
foi de tal modo relevante desde essa data, e até
antes, que justifica uma brevíssima incursão no
passado porque, como espero demonstrar, esse
passado imbrica ao futuro da NOVA.
O ensino da medicina tropical começou
formalmente em 1887, na Escola Naval. Em 1901,
foi organizada uma missão a Angola para estudar a
doença do sono coordenada pelo Professor Aníbal
Bettencourt, diretor do recentemente fundado Real
Instituto Bacteriológico, mais tarde designado
Instituto Bacteriológico Câmara Pestana. É
importante acentuar que uma das principais figuras
da medicina portuguesa da época, Miguel
Bombarda, também ligado à fundação do IBCP,
proferiu na Sociedade das Ciências Médicas de
Lisboa, em outubro de 1901, uma conferência
intitulada: “A criação de uma escola médica
colonial”, que muito influenciou o governo da
época para que fosse criado, como efetivamente
aconteceu um ano depois, o Instituto de Medicina
Tropical.
No contexto atual não deixa de ser importante
assinalar que, mais de um século volvido, a NOVA
tem a enorme responsabilidade de integrar no seu
seio não só o IHMT mas também uma unidade de