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sucessos e frustrações. Continuo esta luta com
entusiasmo, à luz de ideais e conhecimentos
transmitidos por muitos profissionais, cientistas e
académicos de várias partes do mundo. Mas, nesta
ocasião, não poderia deixar de exaltar as notáveis
figuras da medicina portuguesa com quem tive o
privilégio de interagir.
Magnífico reitor;
Excelências;
Senhoras e Senhores:
Após ter refletido aturadamente sobre as razões
pelas quais terei sido escolhido para receber tão
significativa distinção, considero que a hipótese
mais plausível terá a ver com os esforços
concertados e permanentes que os meus antigos e
actuais colegas e eu próprio, no Escritório Regional
da OMS para a África, temos envidado para
combater as doenças
e promover
o
desenvolvimento sanitário em África.
Por conseguinte, não seria curial da minha parte
assumir todo o mérito pelas realizações emergentes
da cooperação entre a OMS e os países africanos
sem recordar em primeiro lugar o insigne
malariologista e médico de saúde pública – o
Professor
Francisco
José
Carrasqueiro
Cambournac, que foi Director do Instituto
português de Malariologia de Águas de Moura de
1938 a 1953; e um dos fundadores da Organização
Mundial da Saúde durante a Conferência
Internacional de Saúde realizada em Nova Iorque
em 1946. O Professor Cambournac foi eleito e
exerceu as funções de Director Regional da OMS
para África de 1954 a 1965. Durante o seu mandato
foram criadas as estruturas iniciais da OMS na
Região Africana.
Eu tive o grato privilégio de participar na 31ª
Assembleia Mundial da Saúde e assistir a
cerimónia de 17 de Maio de 1978 em que o
Professor Cambournac foi galardoado com o
“
Premio e Medalha da Fundação Leon Bernard
”
em reconhecimento à sua notável contribuição à
saúde pública e medicina social.
O
Dr. Alfred Quenum,
médico, professor de
histologia e embriologia, cidadão da República do
Benin, sucedeu ao Professor Cambournac tendo
liderado a OMS-AFRO entre 1965 e 1984. Ele foi
sucedido pelo
Dr Gottlieb Lobe Monekosso
,
médico, professor de medicina interna, cidadão da
República dos Camarões que exerceu o cargo de
Director Regional entre 1985 e 1995. O
Dr.
Ebrahim Samba
, médico-cirurgião, cidadão da
República da Gâmbia, herdou o manto da liderança
legada pelo Professor Monekosso, tendo sido
Director Regional da OMS para África de 1995 a
2005. Em virtude do tempo limitado de que
disponho, não entrarei em pormenores sobre as
realizações destes médicos e humanistas de grande
talento, e com os quais tive a oportunidade de
conviver e trabalhar, e com quem descobri o
carácter ao mesmo tempo pletórico e complexo dos
problemas de saúde pública.
As orientações estratégicas atuais da OMS em
África agrupam-se em cinco categorias:
O reforço dos sistemas de saúde, com base na
abordagem dos cuidados de saúde primários;
A saúde da mãe e da criança como prioridade
absoluta;
As ações aceleradas de luta contra o VIH/SIDA,
paludismo e tuberculose;
A intensificação da prevenção e o controlo das
doenças transmissíveis, luta contra epidemias, e
controlo das doenças não transmissíveis; e
A promoção das determinantes de saúde e
prevenção de doenças pela abordagemdos factores
de risco associados às mesmas.
O principal obstáculo à melhoria do acesso por
parte das populações aos cuidados de saúde é a
fragilidade dos sistemas nacionais de saúde.
Contudo, apraz-me informar que os diversos países
da nossa região se encontram em diferentes fases
de reforma dos seus sistemas de saúde. A
cooperação técnica da OMS assenta em bases
factuais e tem consistido essencialmente na
produção de normas e intervenções estruturantes
no sentido de reforçar as capacidades e melhorar o
desempenho dos serviços de saúde.
A minha experiência na reforma de serviços de
saúde revelou-me a falta de metodologias e
ferramentas com potencial suficiente para uma
abordagem holística no diagnóstico e no processo
de criação de modelos alternativos. As
metodologias de investigação em saúde ainda estão
dominadas pelo pensamento positivista no âmbito
de um funcionalismo que pretere quase sempre os
factores de ordem subjectiva, apesar da sua
influência inevitável sobre a gestão dos serviços de
saúde. Por esta razão, julgo imprescindível
interpelar outros paradigmas e disciplinas para
melhor compreender e reformar os sistemas de
saúde.
As crises atuais à escala planetária afetam a
saúde das populações; refiro-me as crises políticas,
a crise financeira, a crise alimentar, a crise
energética e as mudanças climáticas; estas crises
podem agravar tensões sociais, a exclusão e a
pobreza, e influir negativamente sobre a saúde das
populações. Contudo, como otimista, acredito que