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DISCURSO PROFERIDO PELO DOUTOR LUÍS GOMES SAMBO NA ATRIBUIÇÃO DO SEU

GRAU DE DOUTOR

HONORIS CAUSA

É com profunda emoção e sobretudo motivado

por um justificado sentimento de orgulho que me

encontro nesta cidade de Lisboa e neste estimulante

Auditório da Universidade Nova de Lisboa. A

graduação emDoutor Honoris Causa que me acaba

de ser outorgada por esta Universidade, constitui

um ato deveras significativo por traduzir não só um

mérito pessoal, mas também por trazer

simbólicamente à ribalta todos quantos

contribuiram para que este reconhecimento se

tornasse possível.

Permitam-me que manifeste a minha mais

genuína gratidão ao Colégio de Directores da

Universidade Nova de Lisboa pelos créditos de

confiança em mim depositados. O meu

reconhecimento estende-se igualmente ao

conceituado Grupo de Professores Catedráticos do

Instituto de Higiene e Medicina Tropical pelo

apreço à minha pessoa porquanto, sem a sua pronta

iniciativa, não estaríamos hoje aqui nesta tão

prestigiante cerimónia de reconhecimento.

Depois de 35 anos de carreira profissional como

médico licenciado pela Universidade Pública de

Angola e submetido às exigências inexoráveis de

equivalência pela Faculdade de Medicina da

Universidade Nova de Lisboa, sinto-me hoje muito

honrado por passar a integrar a galeria dos grandes

ícones graduados Doutor Honoris Causa por esta

prestigiada Universidade cujo timbre é a

criatividade e inovação ao serviço do

desenvolvimento.

O meu interesse pela medicina despontou muito

cedo; tinha apenas 12 anos de idade enquanto aluno

do Colégio dos Maristas de Luanda, quando

comecei a acompanhar o meu saudoso pai, José

Ambrósio Sambo nas suas lides de ervanário

baseado nos conhecimentos que lhe tinham sido

transmitidos pelo meu bisavô Luis Gomes Sambo,

célebre ervanário entre os anos 1910 e 1946.

Assim, em 1970 ingressei no curso de medicina

na Faculdade de Medicina da Universidade de

Angola, onde tive o privilégio de ser aluno do

ilustre médico, cientista e humanista português, o

Professor Doutor Nuno Grande que já nos deixou,

mas continua a ser a maior referência da minha vida

académica.

Depois da minha licenciatura em Medicina, em

1977, trabalhei no Laboratorio de farmacognosia

da Faculdade de Medicina que tive de abandonar

muito cedo para me dedicar à prática da medicina

como generalista e depois como médico de Saúde

Pública em Angola em situação de guerra, tendo

colhido muito ensinamentos úteis que não seriam

possíveis fora daquele contexto.

De 1978 a 1982, representeiAngola no Conselho

Executivo da Organização Mundial da Saúde e

neste fórum, conheci e estabeleci relações de

amizade e trabalho com o Sr Doutor Arnaldo

Sampaio – na altura Director Geral de Saude de

Portugal e representante de Portugal no mesmo

Conselho Executivo.

Posteriormente, na qualidade de Vice-Ministro

da Saúde, propus a criação do Colégio de Pós-

Graduação Médica e fui encarregado de organizar

os primeiros exames de especialidades médicas em

Angola. Para o efeito, convidamos Professores da

Universidade Nova de Lisboa para presidirem os

júris para os exames de especialidade emMedicina

Interna, Cirurgia Geral, Obstetrícia e Ginecologia,

Pediatria e Saúde Pública. Foi nessa altura que

conheci o Senhor Professor Pereira Miguel que

presidiu o júri de Saúde Pública em que eu era um

dos examinandos. E o meu percurso profissional

continuou

além-fronteiras.

Ingressei

na

Organização Mundial da Saúde em1989 e em1990

fui nomeado Representante da OMS na Guiné-

Bissau para substituir o meu estimado amigo Dr.

Francisco George, actual Director-Geral da Saúde

de Portugal. Anos depois, enquanto representante

da OMS, recebi como colaborador o distinto

Professor Doutor Jorge Torgal com quem

desenvolvi excelentes relações de trabalho e

amizade que se arrastaram até ao seu mandato

como Director do Instituto de Higiene e Medicina

Tropical de Lisboa. Fui convidado várias vezes

como palestrante no IHMT e também tive a honra

de o ser no Instituto Ricardo Jorge a convite do

Professor Doutor Pereira Miguel.

Da Guiné-Bissau fui transferido para o

Escritório Regional da OMS para África em

Brazzaville, onde fui enquadrado por uma equipa

de Diretores de Programas da qual fazia parte o Dr.

Manuel Rodrigues Boal, meu mais velho e amigo

desvelado.

Entretanto, as relações de amizade e trabalho

com o IHMT estenderam-se à Direcção atual

através do Professor Doutor Paulo Ferrinho, que

tem sido impecável na manutenção da cooperação

com a OMS, a favor da comunidade dos países de

língua oficial portuguesa- CPLP.

Longe de um sonho ou de uma ficção, o meu

passado como médico foi uma realidade de