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privado e sobre a evolução da prática do emprego

duplo em África.

Uma primeira publicação científica está a ser

escrita com base na análise dos rendimentos dos

médicos nos setores público e privado, tentando

aplicar um modelo económico preditivo à taxa de

rendimento marginal do tempo que os médicos

dedicam às suas atividades profissionais (McPake

et al.

, 2008). O objetivo deste trabalho será

identificar os incentivos económicos que deveriam

ser proporcionados aos médicos que praticam

emprego duplo, de modo a atraí-los para trabalhar

horas adicionais no setor público.

Partindo da análise dos dados secundários do

inquérito sobre o duplo emprego, num artigo em

fase de elaboração sobre os médicos do setor

privado em África, Russo e colaboradores

(Unidade de Ensino e Investigação de Saúde

Pública Internacional e Bioestatística do IHMT)

tencionam debruçar-se sobre a minoria dos

médicos que, em Cabo Verde, Guiné Bissau e

Moçambique, escolhem trabalhar exclusivamente

para o setor privado. Este estudo pretende gerar

evidência para responder à pergunta do motivo de

alguns médicos escolherem afastar-se da função

pública que os formou, e que ainda parece oferecer

condições de estabilidade e segurança. Analisando

as características dos médicos do setor privado, das

horas dedicadas à profissão e da renda, o estudo

pretende demostrar que a dedicação exclusiva ao

setor público resulta numa modalidade menos

atrativa, em termos de remuneração, do que o

emprego duplo nos dois setores, mas que exige

também um menor compromisso em termos de

horas trabalhadas. Estes resultados parecem

suportar a hipótese de que as exigências de melhor

equilíbrio entre vida privada e vida profissional

estão na base da dedicação exclusiva ao setor

privado, mais do que as considerações meramente

económicas. Também o afastamento destes

médicos das instituições públicas de poder,

ajudaria a explicar a decisão de se dedicarem

exclusivamente à atividade privada.

Como as entrevistas com

policy-makers

e aparte

da oferta de serviços nos três países têm permitido

ter um olhar privilegiado sobre a evolução da

prática do emprego duplo dos médicos, bem como

sobre o papel das instituições da saúde neste

processo, uma outra área de investigação que se

poderia explorar seria a da história desta prática em

África, através da abordagem da

institutional

economics

(Walton e Hamilton, 1919), que permita

perceber o papel desempenhado pelas instituições

da saúde no relacionamento dos serviços sanitários

públicos e privados em África. O objetivo deste

trabalho seria o de criar evidência científica sobre

a influência das instituições sanitárias na

articulação da prática pública e privada, com vista

a ajudar a compreender os processos de reforma, e

ajudar os decisores de políticas na regulamentação

destas práticas.

CONCLUSÕES

O IHMT tem vindo desenvolver um número

considerável de trabalho, nas últimas três décadas,

sobre os prestadores privados de saúde nos

PALOPs. Alguns destes estudos têm-se centrado

nas atividades públicas e privadas dos médicos e de

outros profissionais de saúde; outros, sobre o setor

informal dos serviços sanitários, bem como sobre

as farmácias privadas e semiprivadas.

O trabalho do IHMT tem contribuído para

colocar os países africanos de expressão

portuguesa no mapa da investigação mundial em

serviços de saúde, e tem revelado a riqueza do

mundo marginal destes prestadores de serviços

nestes países. Seria assim fundamental dar

visibilidade ao trabalho desenvolvido, com vista a

promover a sua continuidade, explorando formas

de utilizar estas forças duma forma criativa, de

modo a melhorar os serviços de saúde para a

população, em particular para os mais pobres e

vulneráveis.

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