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No primeiro trabalho, Roenen e colegas

procuram

identificar

as

estratégias

de

sobrevivência económica e profissional de médicos

da África subsariana e, simultaneamente, fornecer

informação acerca da efetividade dessas mesmas

estratégias, bem como o seu eventual impacto no

funcionamento do sistema de saúde. Através de

entrevistas semiestruturadas, foram consultados 21

médicos a frequentar um mestrado de saúde

internacional na Bélgica ou em Portugal.

Este estudo conclui que a maioria das 28

estratégias de sobrevivência afeta o funcionamento

do sistema de saúde, não tanto pelo desvio de

material, mas grandemente pela redução do tempo

empregue pelo pessoal no setor público. Ainda que

a maioria dos entrevistados se identifique como

funcionário público, na realidade as atividades a

que recorrem para fazer face ao baixo salário do

setor público, são geralmente muito absorventes

em termos de tempo. A prática privada é

justificada, neste estudo, não só pelo complemento

salarial, mas também por outras questões tidas

como positivas: “facilidade para os utentes” ou

“continuidade do tratamento”. De facto, a linha

separadora entre o que se pode considerar

eticamente entre o correto ou incorreto, em termos

de prática privada, é muito ténue ainda mais

acentuado pela falta de regulamentação no setor.

No entanto, em última análise, este trabalho sugere

que são estas estratégias que permitem que os

médicos se mantenham no setor público, evitando

a fuga de quadros vitais da função pública.

O estudo de Ferrinho

et al.

(1998), sobre o

motivo e o processo pelos quais os médicos do

setor público nos PALOPs se envolvem na prática

privada, pretende explorar as atividades paralelas

geradoras de rendimento decorrentes da prática

privada, por médicos do setor público nos PALOPs

e, simultaneamente, averiguar as motivações e

razões pelas quais os médicos não saíram

completamente do setor público. Para tal, foram

aplicados questionários a um total de 68 médicos

angolanos,

guineenses,

moçambicanos

e

santomenses.

Este estudo conclui que, apesar de a maioria dos

inquiridos considerar o seu emprego público como

a sua principal atividade, reportam, como atividade

geradora de rendimento, outra que não a principal.

De facto, são as atividades para além do setor

público que os inquiridos referem como as que lhes

permitem fazer face ao custo de vida tornando-se,

em alguns casos, de suma importância. A

recompensa ganha com o trabalho privado em

todas as suas formas verificou-se muito vantajosa,

chegando a representar, em alguns casos, o dobro

do salário auferido no setor público. No entanto,

uma vez que os prestadores de um e outro sector

são os mesmos, e sendo esta área não regulada na

maioria dos PALOPs, corre-se o perigo de, em

última análise, ocorrer uma perda para todas as

partes envolvidas.

Num editorial do Boletim da Organização

Mundial da Saúde, Ferrinho

et al.

(1999) vêm

consolidar o conhecimento sobre as práticas

paralelas dos trabalhadores da saúde desenvolvidas

nos anteriores artigos, chamando a atenção sobre as

consequências deletérias de não se falar

abertamente sobre essas práticas. O artigo defende

que a atitude dos governos e agências

internacionais contribui para que estas práticas de

sobrevivência assumam um carácter clandestino,

afastando-as das tentativas de regulamentação e

ignorando as distorções de incentivos próprias do

sistema de saúde. O editorial conclui que, à luz

destas práticas, o papel do setor público deveria

focar-se mais na elaboração de políticas e

regulamentação, deixando a prestação de serviços

às parcerias formais ou não, de prestadores

públicos e privados. O mesmo tema é retomado na

publicação do

Bulletin of the World Health

Organization

(de 2002), onde Van Lerberghe e

colegas defendem que os governos deveriam

procurar compreender melhor estas práticas e as

suas potenciais consequências, assim como avaliar,

duma forma sistemática, as consequências das

políticas sobre os incentivos individuais a estas

práticas paralelas.

Na investigação “Formação e expectativas

profissionais dos estudantes de medicina de

Angola, Guiné Bissau e Moçambique”, Ferrinho e

colegas pretendem descrever e analisar o perfil dos

estudantes de medicina, em 2007, nas

universidades de Angola (Univ. Agostinho Neto),

Moçambique (Univ. Eduardo Mondlane) e Guiné

Bissau (Univ. Raul Diaz Arguellez). Foram

distribuídos, a todos os estudantes médicos

registados, questionários padronizados, com

perguntas abertas e fechadas.

O estudo refere que a migração para a capital,

que afeta a distribuição geográfica dos médicos,

tem início ainda nos estudos liceais. É também

nesta altura, por volta dos 15 anos, que os alunos

escolhem seguir medicina. A maioria dos