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estudantes referiu pretender trabalhar quer no setor

privado, quer no público, enquanto somente uma

minoria referiu preferir trabalhar só no setor

privado. Ainda que a maioria tenha também

expressado vontade de se manter no seu país para

trabalhar, muitos também se manifestaram

interessados em fazer especialização no

estrangeiro. Quer a migração devido à falta de

estruturas de ensino de qualidade no interior, quer

a emigração devido à falta de opções locais para

obter formação especializada, mostram a

importância de investir na educação desde o ensino

primário até ao liceu, com especial enfoque na

formação especializada de medicina, como

ferramenta para controlar a fuga de cérebros.

Paulo Ferrinho

et al.

(2004), no estudo “Duplo

emprego no setor da saúde: uma revisão da

evidência”, exploram a prática de rendimentos

extraordinários entre os profissionais do setor da

saúde, com enfoque particular no duplo emprego.

O estudo demonstra que a existência do duplo

emprego na maioria dos países deve-se sobretudo

ao facto de o salário do setor público não conseguir

corresponder às expectativas que os profissionais

têm a nível económico e social. De facto, o setor

privado em África financia cerca de 50% dos

cuidados de saúde, principalmente em áreas rurais,

onde são o único recurso disponível. Apesar desta

preponderância, este setor continua em larga escala

sem ser devidamente regulamentado.

O impacto no setor público leva a que a noção de

exclusividade de emprego neste setor seja um

conceito praticamente extinto. Apesar das muitas

influências negativas do duplo emprego, este pode

ter efeitos positivos que podem ser explorados

aquando da implementação de uma regulação que

não deverá ignorar ou proibir a existência desta

prática. A prática de duplo emprego torna-se tanto

mais negativa (no caso de comportamentos lesivos

para o setor público, como desvio de materiais e

medicamentos, prescrição de exames e tratamentos

desnecessários, entre outros) quanto mais a

diminuição da mesma tiver um impacto direto no

rendimento obtido pelo prestador. Estes fatores

levam necessariamente a barreiras de acesso ao

sistema de saúde, dificultando a relação de

confiança entre utente e médico. Ao mesmo tempo,

de um ponto de vista positivo, a prática de duplo

emprego permite manter os seniores e os

estudantes no país, evitando a recorrente fuga de

cérebros.

O estudo de

Russo e McPake sobre

medicamentos e mercados farmacêuticos em

Moçambique tem, como objetivo, a medição dos

preços relativos dos medicamentos neste país, bem

como a identificação das suas determinantes. Nesta

última vertente, o estudo desenvolve uma análise

dos mercados públicos e privados da importação e

retalho dos medicamentos no país, visando avaliar

o seu desempenho em termos de disponibilidade e

nível de preços praticados. Através de entrevistas

semiestruturadas com informantes chave e de um

inquérito qualitativo às farmácias nas maiores

cidades do país, o estudo chega à conclusão de que,

apesar dos medicamentos de marca serem muito

caros e pouco presentes, os medicamentos

genéricos estão ao alcance do poder de compra da

população urbana, e as margens de lucro e de

distribuição são responsáveis por 2/3 dos preços de

venda ao público.

O estudo revela também que o mercado privado

tem um papel fundamental na resposta às

exigências cada vez mais complexas da população

urbana em África, disponibilizando medicamentos

genéricos baratos nas farmácias dos subúrbios, mas

também medicamentos de marca mais caros

procurados pela crescente classe média urbana

residente nas zonas residenciais das cidades.

Chega-se à conclusão de que o mercado

farmacêutico privado complementa, de forma mais

eficiente do que o esperado, o fornecimento de

medicamentos do setor público, e que melhor

regulamentação e controle da qualidade dos

medicamentos que circulam no país poderiam

ajudar o setor privado a crescer, bem como a suprir

as necessidades duma população em evolução.

No trabalho “Negociando mercados para a

saúde”, Russo e colegas analisam a prática de

trabalho simultâneo nos setores público e privado

por parte dos médicos, em três capitais africanas:

Praia, Bissau e Maputo. Através de 45 entrevistas

e de um inquérito a 331 médicos, nos três países,

sobre o tempo dedicado a diferentes atividades

profissionais, remuneração e perceções relativas à

regulamentação da prática do duplo emprego, este

estudo identifica questões fundamentais da mistura

das atividades médicas públicas e privadas em

África. O estudo revela que cerca de metade dos

médicos nas três cidades (45.5%) pratica o

emprego duplo, enquanto 44.8% se dedicam

exclusivamente ao setor público, e uma minoria

(9.7%) só ao privado.

O trabalho mostra também que a mistura dos

setores público e privado nos serviços médicos é

mais complexa do que o esperado, e que as

atividades privadas são praticadas frequentemente

dentro das instalações sanitárias públicas sob forma

de serviços especiais, consultas complementares,

clínicas especiais e cobranças ilegais. Uma das

implicações mais relevantes desta investigação é