Table of Contents Table of Contents
Previous Page  159 / 202 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 159 / 202 Next Page
Page Background

159

que, sem regulamentação clara desta mistura de

atividades públicas e privadas, dificilmente o setor

privado terá oportunidade para se desenvolver,

porque, face à possibilidade de poderem realizar

prática privada dentro dos hospitais públicos, sem

terem que pagar impostos nem que enfrentar os

custos de funcionamento duma própria clínica

privada, dificilmente os médicos estarão dispostos

a realizar o investimento necessário para

crescimento do setor privado.

LIÇÕES APRENDIDAS NESTA ÁREA PELO

TRABALHO DO IHMT

A investigação do IHMT tem feito uma

contribuição

importante

ao

conhecimento

científico na área dos atores privados no que diz

respeito a três vertentes principais: (a)

documentação da realidade e das experiências dos

sistemas de saúde nos PALOPs; (b) exploração de

características e papel de instituições e atores

públicos e privados da saúde em países de baixa

renda; (c) contribuição, para o debate, sobre a

definição dos mercados da saúde em países de

baixa renda.

Em primeiro lugar, os trabalhos e as publicações

do IHMT têm vindo a “colocar os PALOPs no

mapa” da investigação mundial sobre os sistemas

de saúde, ainda que, por razões ligadas à língua, às

heranças históricas e à localização e áreas de

interesses das instituições de investigação mundial

nesta área, estes países tinham sido claramente sub-

investigados (Monteiro, 2009). Como foi

amplamente demonstrado acima, os trabalhos do

IHMT sobre os operadores privados têm-se focado

sobretudo em Moçambique, Guiné Bissau e Cabo

Verde, com raras menções às realidades

santomense e angolana.

Todas as publicações acima mencionadas têm

contribuído para aumentar o conhecimento e a

evidência científica sobre as práticas paralelas, ou

escondidas, dos trabalhadores da saúde e de outros

operadores do setor. Esta contribuição tem sido

importante para o reconhecimento da relevância

destes operadores na prestação de serviços de

saúde em países de baixa renda, um tema que tem

vindo a ganhar cada vez mais visibilidade e a

despertar mais interesse na literatura (Mills

et al.

,

2002; Ahmed

et al.

, 2009). Os trabalhos do IHMT

têm mostrado que os operadores privados em

países de baixa renda possuem uma vitalidade

surpreendente, tendo sido capazes de ultrapassar as

dificuldades impostas ao seu desenvolvimento pelo

período pós-colonial, pelos conflitos e pelos

regimes do socialismo real. Os setores privados

têm vindo a adaptar-se às diferentes circunstâncias,

encontrando o seu espaço e acabando por ter, hoje

em dia, um papel cada vez mais importante na

resposta às necessidades duma população em

evolução,

sobretudo

nas

zonas

urbanas. De acordo com o preconizado por vários

autores (Hanson

et al.

, 2008), este novo papel do

setor privado na prestação de serviços de saúde

permitiria, ao setor público, num futuro

relativamente próximo, assumir um papel mais

enfocado na organização dos operadores privados,

poupando escassos recursos. Obviamente, as

implicações na ética e na eficiência deste novo

papel ainda continuam por explorar. Poderíamos

aqui identificar uma futura área de investigação.

Finalmente, o trabalho do IHMT nos PALOPs

tem contribuído para o debate internacional sobre a

definição dos mercados da saúde em países de

baixa renda, documentando a sua complexidade e

as relativas implicações para eventuais políticas de

regulamentação do mesmo. Em particular, os

trabalhos do IHMT sobre o emprego duplo dos

trabalhadores da saúde têm provado que não existe

uma clara dicotomia setor público/setor privado,

mas que a realidade no terreno é mais complexa, e

um contínuo de atividades e prestadores de

serviços de saúde é provavelmente a representação

mais fidedigna dos mercados da saúde empaíses de

renda média e baixa. O chamado setor “informal”

ocupa, neste momento, este espaço (Lewis, 2009).

Vários autores têm chamado a atenção sobre a

importância que os prestadores informais de

serviços de saúde poderiam ter para satisfazer as

necessidades de saúde dos mais pobres e

vulneráveis (Bloom

et al.

, 2011) e sobre a

necessidade de os estudar em profundidade para

desenhar incentivos que levem os mercados a

funcionarem em favor dos mais pobres (Bloom

et

al.

, 2012).

FUTURAS ÁREAS DE INVESTIGAÇÃO

SOBRE OS PRESTADORES DE SERVIÇOS

PRIVADOS

Os recentes trabalhos de investigação e de

levantamento de dados sobre o emprego duplo dos

médicos realizados pelo IHMT em Cabo Verde,

Guiné Bissau e Moçambique têm permitido

recolher informação e gerar ideias para estudos que

serão concretizados à volta de três áreas

importantes, nomeadamente, sobre os incentivos

económicos para os médicos trabalharem mais

horas no setor público, sobre o perfil e papel dos

médicos que trabalham exclusivamente no setor