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Os roedores, em particular os murinos (géneros
Rattus
e
Mus,
entre outros),
constituem os principais reservatórios da bactéria, a partir dos quais as leptospiras
são transmitida aos humanos e/ou a outros animais. A inespecificidade das
manifestações clínicas da leptospirose nos humanos leva a que esta seja facilmente
confundida com malária, septicemia, hepatite viral, dengue, ou outras doenças que
cursam com síndrome febril, pelo que o doente deixa assim de receber o tratamento
adequado e em tempo útil.
Para o conhecimento da epidemiologia da leptospirose, em qualquer região e/ou
país, são indispensáveis a identificação dos serovares mais prevalentes e a
caracterização dos respetivos reservatórios/hospedeiros. Estes conhecimentos são
críticos para a implementação de medidas de controlo eficazes da doença.
O presente estudo teve como objetivo contribuir para um melhor conhecimento da
importância epidemiológica e ecológica dos roedores e o seu papel como
reservatório de
Leptospira
spp. na cidade de Bissau e áreas limítrofes, pela
determinação da taxa da prevalência bacteriológica de
Leptospira
spp. na
população de roedores capturados.
Entre Maio e Agosto de 2013 foram capturados 104 roedores em sete (7) bairros da
cidade de Bissau. Procedeu-se à necropsia dos roedores e os rins foram colhidos e
conservados para posterior análise no Instituto de Higiene de Medicina Tropical em
Lisboa.
Foi determinada a taxa de infeção bacteriológica pela deteção e identificação de
DNA leptospírico com recurso a técnicas moleculares (PCR e sequenciação). Foram
utilizados dois protocolos, ambos com
primers
específicos para leptospiras
patogénicas, um PCR convencional com
primers
baseados no gene
hap1
e o outro,
um
nested
-PCR com
primers
obtidos do gene
lipL32.
Em 10% das amostras tentou-
se ainda o método de cultura para obtenção de isolados de
Leptospira
.
Os roedores foram identificados como pertencentes às espécies
Rattus norvegicus
(63,5%),
Mus musculus
(34.6%) e
Rattus rattus
(1.9%).
Trinta dos 104 roedores capturados (29%) mostraram presença de DNA
leptospírico, sendo que (20/30; 67%) pertenciam à espécie
R. norvegicus
, (9/30;
30%) à espécie
M. musculus
e (1/30; 3%), pertencia à espécie
R. rattus
. Foram
sequenciadas 12 das 30 amostras positivas, cuja análise por BLAST, permitiu a
identificação dos serovares Icterohaemorrhagiae e Pomona, pertencentes
respetivamente às genoespécies
L. interrogans
e
L. kirschneri
, ambas
reconhecidamente de elevada patogenicidade para os humanos. Não houve até à
data crescimento bacteriano nas sementeiras efetuadas.
Em conclusão, este trabalho permitiu, pela primeira vez, identificar leptospiras
patogénicas em roedores na cidade de Bissau, pelo que teve um carácter pioneiro
na determinação do papel destes mamíferos silváticos como reservatórios de
leptospiras na Guiné-Bissau.
Os resultados obtidos justificam a realização de estudos adicionais e mais
exaustivos de investigação epidemiológica sobre esta zoonose em Bissau e no
território nacional. Os ganhos para a Saúde Humana e Veterinária no país poderiam
ser significativos, nomeadamente em termos do benefício no acompanhamento