Estabelecer esta importância pode levar à compreensão do modelo de infecção e
defesa deste micro-organismo para que possamos perceber melhor sua atuação.
CRISTÓVÃO, José Manuel Martins (2014) Monitorização do risco da
exposição à leishmaniose zoonótica. Dissertação de Mestrado em
Parasitologia Médica, IHMT, Lisboa
As leishmanioses são doenças parasitárias causadas por protozoários do género
Leishmania
, transmitidas pela picada de insetos vetores (Diptera, Phlebotominae)
pertencentes ao género
Phlebotomus
no Velho Mundo e
Lutzomyia
no Novo Mundo.
A leishmaniose zoonótica causada pela espécie
Leishmania infantum
é endémica
na Bacia Mediterrânica e América do Sul sendo o cão o principal hospedeiro e
reservatório doméstico da leishmaniose visceral humana. No Sudoeste Europeu
Phlebotomus perniciosus
é o principal vetor responsável pela transmissão do
parasita.
O objetivo deste trabalho foi analisar a resposta humoral desenvolvida no cão à
saliva de
P. perniciosus
após picadas deste inseto. Foi ainda realizada a validação
de amostras obtidas de modo não invasivo (i.e. células conjuntivais) na
monitorização do contacto do parasita com o cão. Foram avaliados duzentos e
quarenta e um cães residentes em canis da Região Metropolitana de Lisboa no
início (Maio) e no fim (Outubro) da época de atividade flebotomínica. Recorreu-se à
técnica de Nested-PCR (nPCR) para a deteção de DNA parasitário nas células do
sangue periférico e nas células conjuntivais, e à técnica serológica ELISA para a
pesquisa de anticorpos circulantes anti-
Leishmania
e anti-saliva de
P. perniciosus
no soro.
A seroprevalência obtida tanto no início da época de transmissão como no final (de
13,3% e 14,1% respetivamente), demonstra que a região de Lisboa continua a ser
uma zona endémica desta zoonose, reforçando a importância de informar e
sensibilizar a população e autoridades de saúde acerca da existência da doença
nesta região e da necessidade de implementação de medidas profiláticas.
A colheita de células conjuntivais é uma técnica não invasiva, de fácil execução e
bem aceite pelos proprietários. Parece ser uma amostra eficaz visto que permitiu a
deteção do DNA parasitário por nPCR em 35,7% dos animais no final da época
flebotomínica
.
Quanto à utilização dos antigénios salivares do flebótomo como marcadores de
exposição aos vetores de
Leishmania
, verificou-se que os três biomarcadores
utilizados no presente estudo, i) homogeneizado total das glândulas salivares; e
duas proteínas recombinantes, ii) proteína amarela e iii) uma mistura de proteína
amarela e apirase, são capazes de detetar o contacto cão-flebótomo (
P.
perniciosus
). Uma vez que a utilização do homogeneizado salivar implica a
necessidade de manter uma colónia de flebótomos e a disseção das glândulas
salivares, e tendo em conta os resultados obtidos com os dois antigénios
recombinantes, a utilização destes últimos representa uma grande promessa na
monitorização de exposição à picada de
P. perniciosos
em áreas geográficas onde
esta espécie de flebótomo esteja presente. A deteção de uma resposta imunitária às
proteínas salivares dos flebótomos, para além de permitir estimar as áreas de risco