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VIEIRA, Maria Luísa Jorge (2006) Aspectos da caracterização
antigénica e molecular da Leptospirose em áreas endémicas,
Dissertação de Doutoramento no ramo de Ciências Biomédicas,
especialidade de Microbiologia. IHMT. Lisboa.
Resumo:
A Leptospirose é uma zoonose re-emergente causada por
espiroquetídeos patogénicos do género
Leptospira
. Em Portugal, é reconhecida,
desde 1931, como uma importante doença infecciosa humana, cuja notificação é
obrigatória desde 1986 para todos os serovares. Porém, devido ao acentuado
polimorfismo clínico e à dificuldade de um diagnóstico laboratorial especializado,
esta patologia nem sempre é confirmada. Com efeito, o isolamento do agente é
difícil e o método convencional de diagnóstico, baseado no teste serológico de
referência TAM (Teste de Aglutinação Microscópica), não é muito sensível na
primeira semana da doença. Assim, foram três os principais objectivos desta
dissertação: actualizar o padrão epidemiológico da Leptospirose, após uma
extensa revisão bibliográfica da doença (Capítulos 1 e 2); esclarecer os
aspectos imunológicos relacionados com os marcadores antigénicos que mais
influenciam a regulação da resposta humoral na infecção humana, em particular,
em área endémica (Capítulo 3); e, por último, promover a identificação molecular
de alguns isolados de
Leptospira
, avaliar o respectivo poder patogénico no
modelo murino e contribuir para o diagnóstico precoce da doença humana
(Capítulo 4).
O primeiro dos temas investigados, com base no estudo retrospectivo de uma
larga série de 4.618 doentes sintomáticos analisados representa uma
caracterização única da epidemiologia da Leptospirose, em particular, na Região
Centro do País, e nas ilhas de São Miguel e Terceira (Açores), nos últimos 18 e
12 anos, respectivamente. Foram confirmados 1.024 (22%) casos, com uma
distribuição média de 57 casos/ano, sendo a maior frequência no sexo
masculino (67%). As áreas analisadas corresponderam à maioria das
notificações em Portugal, com uma taxa de incidência média anual nas ilhas
muito superior à registada no continente (11,1
vs
1,7/100.000 habitantes,
respectivamente). Os adultos em idade activa (25-54 anos) foram os mais
afectados, nos meses de Dezembro e Janeiro. A doença foi causada por
serovares de nove serogrupos presuntivos de
Leptospira interrogans sensu lato
,
com predomínio de Icterohaemorrhagiae, Pomona e Ballum, em cerca de 66%
dos casos. A seropositividade da Leptospirose esteve associada às formas
anictérica e ictérica da doença, sendo evidente uma elevada sub-notificação (
20 casos/ano). Foram detectados e analisados os diversos factores de risco,
verificando-se um risco elevado de transmissão em áreas geográficas onde a
circulação dos agentes zoonóticos se processa em ciclos silváticos e/ou
domésticos bem estabelecidos. Este estudo confirma que a incidência da
Leptospirose em Portugal tem aumentado nos últimos anos, particularmente,
nos Açores, onde a seropositividade elevada e a ocorrência de casos fatais
confirmam esta patologia como um problema emergente de Saúde Pública.
No âmbito do Capítulo 3, investigaram-se os aspectos imunológicos da
Leptospirose humana na
Região Centro e nas ilhas de São Miguel e Terceira, caracterizando as proteínas e
os lipopolissacáridos (LPS) envolvidos durante as fases aguda (estádio único) e
tardia da doença (três estádios), através do
follow-up
serológico de 240 doentes
com confirmação clínica e laboratorial de Leptospirose. Foram incluídos no estudo
463 soros, 320 (69%) dos quais, obtidos durante a fase de convalescença (até 6