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NOGUEIRA, Maria Carvalho (2007) Estudos de biologia da
multiresistência a antimaláricos em
Plasmodium falciparum
:
transportadores ABC e genes de resposta ao stress oxidativo,
Dissertação de Doutoramento no ramo de Ciências Biomédicas,
especialidade de Parasitologia. IHMT. Lisboa.
Resumo:
A malária causada por
Plasmodium falciparum
é, em conjunto com a
tuberculose e o HIV/SIDA, a maior causa de mortalidade mundial entre as
doenças infecciosas. Nas últimas décadas, o controlo e tratamento da malária
têm sido bastante dificultados pelo surgimento e disseminação da resistência
parasitária aos antimaláricos mais utilizados, nomeadamente às quinoleínas.
O parasita encontra-se em fase de elevada actividade metabólica, nos estadios
sensíveis às quinoleínas, correspondente à degradação da hemoglobina no
vacúolo digestivo, a qual gera ferriprotoporfirina IX (FP-IX) e espécies reactivas
de Oxigénio (ROS). A destoxificação destes grupos é efectuada por enzimas
de resposta ao stress oxidativo, como a superoxidodismutase e as enzimas dos
sistemas dependentes da tiorredoxina e do glutatião (GSH). Os compostos
resultantes são demasiado hidrofílicos para difundir através da membrana
citoplasmática, necessitando de transportadores específicos da super-família
de proteínas ABC. O facto de
P. falciparum
apresentar resistência a diferentes
antimaláricos e a relação existente entre as proteínas ABC (nomeadamente
das sub-famílias MDR/TAP e MRP/CFTR) e os fenótipos de multi-resistência,
justificaram esta investigação.
No genoma de
P. falciparum
foram identificadas 18 novas ABCs e
posicionadas em 8 sub-famílias.
A susceptibilidade
in vitro
de isolados de
P. falciparum
(recorrendo a testes
O.M.S.), provenientes de São Tomé e Príncipe, Tailândia e Angola demonstrou
resistência simultânea a mais de um fármaco e níveis distintos de
susceptibilidade entre aquelas regiões. Aa efectuar um estudo de associação
das alterações de sequência nos genes
pfmrp1
e
pfmrp2
(identificadas no
decorrer deste trabalho), os resultados demonstraram uma correlação positiva
apenas na Tailândia, no respeitante à mefloquina, para os polimorfismos de
pfmrp1
(
191Y
e 347A) e para a presença de inserções/delecções nos codões
779 e 3591em de
pfmrp2
. Usando PCR em tempo real e para os mesmos
isolados, foi determinado o número de cópias dos transportadores ABC
pfmdr1
,
pfmrp1
e
pfmrp2
. Para os dois últimos apenas foi detectada uma cópia, mas
para
pfmdr1
foi identificado aumento do número de cópias (mais de 2)
associado a menor susceptibilidade ao mesmo fármaco, no mesmo País.
Em estudos de expressão dos genes codificantes de enzimas de resposta ao
stress oxidativo (
pf
Fe-
sod
,
pfγ-gcs
,
pfgr
,
pfgst
,
pfgpx
,
pftrxR
e
pf2-CysPx
) e de
transportadores ABC
pfmrp1 e pfmrp2
, verificou-se que são regulados no ciclo
de desenvolvimento e que o gene
pfg6pd
apresentou um padrão de regulação
consistente com um gene
housekeeping
. Duma forma geral a amplitude de
variação da expressão (no sentido da diferença entre máximo e mínimo) dos
genes ao longo do ciclo intra-eritrocitário em 3D7 (clone sensível) é maior do
que a observada em Dd2 (clone resistente).
O aumento da expressão dos genes codificantes de enzimas do sistema de
destoxificação dependente do glutatião, parece ocorrer na fase inicial do
desenvolvimento do parasita (estadio de anel e trofozoíto), antes dos genes
codificantes de enzimas do sistema de destoxificação dependente da
tioredoxina visível em fase posterior (esquizonte). O aumento da expressão do
gene
pfmrp1
, coincidiu com a função biológica (por analogia) de transporte de