120
caracterizada como sendo complexa e específica em relação à espécie e ao
estádio do mesmo.
De forma a adquirir uma resposta imune protectora contra a malária é
necessário que o indivíduo seja infectado consecutivamente durante a vida.
Mesmo assim o resultado obtido é apenas uma imunidade parcial contra o
parasita.
Melhorias significativas têm sido registadas, no que diz respeito à compreensão
dos mecanismos de protecção envolvidos na doença, assim como na
identificação de novas moléculas que possam ser utilizadas no
desenvolvimento de novas vacinas. No entanto, ainda não está disponível uma
vacina que seja eficaz conferindo uma protecção total.
O uso de esporozoítos irradiados em imunizações induz uma protecção total
contra a doença, que é mediada pela activação de linfócitos T CD8+
específicos para antigénios do parasita. O início desta resposta é mediado por
células dendríticas, embora a origem dos antigénios intervenientes seja ainda
desconhecida.
Os esporozoítos irradiados conseguem infectar os hepatócitos. Contudo, não
são capazes de progredir para a fase sanguínea da doença. Este
desenvolvimento incompleto da fase hepática é uma característica fundamental
para que ocorra imunidade. Embora alguns dos mecanismos protectores
induzidos pela infecção com esporozoítos irradiados já tenham sido
identificados é, ainda, necessário proceder a uma caracterização detalhada dos
mesmos.
Sendo o fígado um local de extrema importância durante o ciclo de vida do
parasita da malária, qualquer descoberta ao nível das interacções que se
estabelecem entre o
Plasmodium
e o hepatócito, terá uma repercussão no
melhoramento do processo de indução de uma resposta imune contra a
doença.
Utilizando um modelo murino, demonstrou-se que os hepatócitos infectados
com esporozoítos irradiados entram em apoptose logo após o início da
infecção. Durante esta fase as células dendríticas são recrutadas para o fígado,
local onde fagocitam os corpos apoptóticos provenientes dos hepatóctios que
entraram em morte celular. Uma vez que estas células são capazes de
apresentar antigénios exógenos e ainda induzir o
priming
e activação das
células T, os resultados por nós obtidos sugerem que os hepatócitos infectados
apoptóticos são a fonte de antigénios do parasita utilizada pelas células
dendríticas durante a iniciação de uma resposta imune contra a malária.
Durante o curso de uma infecção, a morte celular possui um papel fundamental
no estabelecimento de uma resposta imune contra um agente patogénico. Os
parasitas possuem a capacidade de modular esta resposta através da indução
ou inibição da morte da célula hospedeira, de forma a possibilitar o seu
desenvolvimento e sobrevivência.
Previamente, foi demonstrado que durante a migração dos esporozoítos
através dos hepatócitos, as células atravessadas secretam um factor de
crescimento específico, o HGF -“hepatocyte growth factor”, que aumenta a
susceptibilidade celular à infecção. Esta via de sinalização iniciada pelo HGF
através do seu receptor, o MET, provoca uma série de efeitos em diversos
tipos de células. Entre eles destaca-se a protecção contra a morte celular
programada. Considerando tal facto, estudou-se qual o efeito desta protecção
durante a infecção por
Plasmodium
, tendo como hipótese que a activação da
via de sinalização do HGF/MET induziria uma protecção da apoptose nas
células infectadas. Os resultados por nós obtidos confirmaram esta teoria. A