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Os resultados demonstraram a gravidade do problema de resistência a
antimaláricos, evidenciado pelas elevadas prevalências dos alelos mutantes
antes e depois dos tratamentos efectuados. Foi aqui observada uma elevação
significativa de amostras contendo o alelo mutado
pfdhps
437G após do
tratamento com Fansidar® e com Fansidar®+Amodiaquina. Verificou-se existir
uma correlação positiva entre o quíntuplo mutante e o número de isolados,
depois do tratamento com Fansidar®. Estes resultados indicam reservas na
utilização do Fansidar ® como uma componente da primeira linha de
tratamento antimalárico no País e apontam o polimorfismo
pfdhps
437G como
um possível marcador para a monitorização da resistência a este fármaco.
Apesar de não significativos, os resultados da análise do ICAM-1 mostraram a
existência de uma possível associação entre a presença da mutação ICAM-
1kilifi e a infecção malárica nas suas formas grave e não grave, enquanto para
o CD36 foi notória a ausência da mutação T1264G no grupo controle (sem
malária). Os resultados da análise dos polimorfismos no gene
CYP2C8
demonstraram alguma inconclusividade, tendo no entanto permitido a obtenção
de conhecimentos para estudos que possam ser realizados no futuro.
FERREIRA, Isabel Dinis (2008) Estudos de susceptibilidade à
artemisinina e derivados em Plasmodium falciparum, Dissertação
de Doutoramento no ramo de Ciências Biomédicas, especialidade
de Parasitologia. IHMT. Lisboa.
Resumo:
A resistência do
Plasmodium falciparum
à maioria dos antimaláricos
em uso é um dos maiores obstáculos ao controlo eficaz da doença.
Excepcionalmente, a resistência
in vivo
à artemisinina e seus derivados não foi
ainda detectada. Contudo, é amplamente aceite que existe um risco real de
aparecimento de resistência a esta classe de antimaláricos. Deste modo, este
trabalho teve como finalidade investigar diversos aspectos do fenótipo e
genótipo do perfil de fármaco-susceptibilidade à artemisinina e seus derivados
no parasita
Plasmodium falciparum
, recorrendo a populações naturais de
parasitas e a um modelo de laboratório. Neste contexto, foi efectuado um
estudo multicêntrico, onde se avaliou a susceptibilidade
in vitro
a derivados da
artemisinina em populações naturais de
P. falciparum
provenientes do Ruanda,
da República Democrática de São Tomé e Príncipe (RDSTP) e do Brasil e se
investigou o perfil genotípico de determinados genes candidatos nas mesmas
amostras. No laboratório, utilizou-se o clone
P. falciparum
Dd2 para seleccionar
clones resistentes à artemisinina
in vitro
. Em todos os parasitas efectuaram-se
estudos de associação entre os níveis de susceptibilidade à artemisinina e
derivados e mutações ou alteração no número de cópias de genes previamente
apontados como potenciais moduladores da resposta a esta classe de
antimaláricos tais como os genes
pfcrt
,
pfmdr1, pfATPase6
,
pftctp
e
pfubp-1
,
bem como genes que codificam proteínas envolvidas nos mecanismos de
defesa ao
stress
oxidativo, propostos no âmbito deste trabalho:
pfsod1, pfgst,
pf
γ
gcs, pfgr, pfgpx, pftrx1, pftrx2 e pfprx
.
Os resultados obtidos para as populações naturais de
P. falciparum
Africanas e
do Brasil em termos de susceptibilidade
in vitro
às artemisininas, parecem estar
em conformidade com o descrito em outras áreas endémicas onde se observa
que apesar de existir uma variação significativa na sua susceptibilidade, não
existe evidência de resistência. No entanto, verificou-se existir uma correlação
positiva entre as respostas aos derivados da artemisinina e a amodiaquina,