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Artigo Original
1. Introdução
O desenvolvimento de condições que auxiliem os
gestores a tomar decisões num ambiente institucio-
nal e social complexo, em permanente evolução e
de rápidas mudanças, tem demandado a estrutura-
ção e implantação de dispositivos que contribuam
com a institucionalização de práticas de gestão,
de maneira sistemática e articulada, apoiadas na
produção, disseminação e apropriação de saberes.
Esses dispositivos e práticas ajudam a fortalecer a
interação entre gestão, formuladores de políticas,
profissionais, rede de assistência, instituições de
ensino e pesquisa e organizações de apoio, favore-
cendo a aplicação do conhecimento na formulação
de políticas e na tomada de decisões [1].
O conhecimento tem sido um elemento vital de re-
lativização da dicotomia entre conceção e execução
do trabalho, e de aproximação das organizações com
a eficiência e a qualidade [2]. Pode ser definido como
“um processo humano dinâmico de justificação de
crenças pessoais como parte de uma aspiração para
a verdade”[3,4], ou ainda como a informação com-
binada com a experiência, contexto, interpretação
e reflexão[5]. É o resultado de três transformações
sucessivas: da realidade aos dados; dos dados à infor-
mação (
know-what
) e da informação ao conhecimento
(know-how, ação aplicada)[6,7].
A Gestão do Conhecimento (GC), por sua vez, agre-
ga estratégias de desenvolvimento, aprimoramen-
to, disseminação e uso do conhecimento influen-
ciando ações e decisões no contexto organizacional
[6,7,8,9,10]. Está relacionada ao desenvolvimento
de uma malha de conhecimentos tácitos e explícitos
que respondem questionamentos básicos:
1. Ponto de partida
: que tipo de conhecimento
é produzido? Que produtos são criados? Como a
cultura e o sistema influenciam as práticas de GC?
2. Ponto de chegada
: como uma estratégia de
GC muda a organização? Como saber quando se
tem um sistema GC? Como medir o valor dos es-
forços realizados?
3. Como chegar
: que ferramentas e práticas espe-
cíficas usar? Como motivar as pessoas a mudarem
suas práticas[7]?
São várias as abordagens e ferramentas que podem
ser empregadas numa estratégia de GC, no entan-
to todas parecem depender da disponibilidade de
recursos (humanos, financeiros, tecnológicos) e do
tipo de conhecimento produzido [4,5,7,8]. Torna-
-se imprescindível, então, a articulação conceitual
de GC com as práticas organizacionais de criação,
identificação, captura, compartilhamento e uso do
conhecimento.
Nesta perspetiva, quando as organizações de Saú-
de Pública são o foco da gestão do conhecimento,
duas características emergem: a primeira tem a ver
com o processo de aplicação do conhecimento; e
a segunda, com o objetivo desse processo, que é o
de criar valor para as organizações. Essas duas ca-
racterísticas sugerem que o conhecimento deve ser
gerenciado e usado como um recurso que agregue
valor às atividades executadas nos processos de pro-
dução e prestação do serviço pelas organizações, a
partir de capacidades diádicas: mapeamento e aqui-
sição do conhecimento; produção e destruição do
conhecimento; integração e compartilhamento do
conhecimento; multiplicação e proteção do conhe-
cimento; desempenho do conhecimento e inovação
[6].
No contexto de uma emergência em Saúde Públi-
ca [11,12], é esperado que essas capacidades sejam
bastante exploradas. Desde quando constatada a
mudança no padrão de ocorrência da microcefalia,
após infecção pelo vírus zika na gestação, muito
conhecimento tem sido mapeado, buscado, cons-
truído, desconstruído, compartilhado e divulgado.
A rápida disseminação do vírus zika, estabeleceu
novos desafios para as autoridades de saúde e pes-
quisadores sobre a magnitude e possíveis compli-
cações causadas pela infecção. Hoje, existem mais
perguntas do que respostas, e mais estudos serão
necessários para resolver questões sobre a compe-
tência do vetor, proporção de casos assintomáticos
e sintomáticos, duração da imunidade natural, se
a relação do zika com a microcefalia e distúrbios
neurológicos é causal, e a proporção dos defeitos
congênitos de acordo com a idade gestacional da
infecção [13,14,15,16,17,18].
A microcefalia, que até outubro de 2015 não era de
notificação compulsória, passa a ser registrada em
Pernambuco - Brasil, chegando a registrar 1.150
casos de agosto a dezembro de 2015, quando a me-
diana entre 2005 e 2014 era de 09 casos anuais, o
que possibilitou a confirmação da epidemia. Ainda
em 2015, o Ministério da Saúde confirma a relação
entre os casos de microcefalia ocorridos e o Zika
vírus, e
chega-se à conclusão de que a microcefalia
não era o único sinal decorrente dessa infecção, mas
a Síndrome Congénita do Zika Vírus (SCZ)[19,20].
Considerando que o manejo e o desenvolvimento
da capacidade de resposta de forma mais eficiente e
eficaz, têm como principal subsídio o conhecimen-
to [11,12,21], analisar a Gestão do Conhecimento
no contexto da epidemia de SCZ, pode contribuir
para alcançar resultados na perspetiva da aprendi-
zagem, inovação, qualificação da tomada de decisão
e institucionalização das estratégias adotadas.