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S48

Artigo Original

1. Introdução

O desenvolvimento de condições que auxiliem os

gestores a tomar decisões num ambiente institucio-

nal e social complexo, em permanente evolução e

de rápidas mudanças, tem demandado a estrutura-

ção e implantação de dispositivos que contribuam

com a institucionalização de práticas de gestão,

de maneira sistemática e articulada, apoiadas na

produção, disseminação e apropriação de saberes.

Esses dispositivos e práticas ajudam a fortalecer a

interação entre gestão, formuladores de políticas,

profissionais, rede de assistência, instituições de

ensino e pesquisa e organizações de apoio, favore-

cendo a aplicação do conhecimento na formulação

de políticas e na tomada de decisões [1].

O conhecimento tem sido um elemento vital de re-

lativização da dicotomia entre conceção e execução

do trabalho, e de aproximação das organizações com

a eficiência e a qualidade [2]. Pode ser definido como

“um processo humano dinâmico de justificação de

crenças pessoais como parte de uma aspiração para

a verdade”[3,4], ou ainda como a informação com-

binada com a experiência, contexto, interpretação

e reflexão[5]. É o resultado de três transformações

sucessivas: da realidade aos dados; dos dados à infor-

mação (

know-what

) e da informação ao conhecimento

(know-how, ação aplicada)[6,7].

A Gestão do Conhecimento (GC), por sua vez, agre-

ga estratégias de desenvolvimento, aprimoramen-

to, disseminação e uso do conhecimento influen-

ciando ações e decisões no contexto organizacional

[6,7,8,9,10]. Está relacionada ao desenvolvimento

de uma malha de conhecimentos tácitos e explícitos

que respondem questionamentos básicos:

1. Ponto de partida

: que tipo de conhecimento

é produzido? Que produtos são criados? Como a

cultura e o sistema influenciam as práticas de GC?

2. Ponto de chegada

: como uma estratégia de

GC muda a organização? Como saber quando se

tem um sistema GC? Como medir o valor dos es-

forços realizados?

3. Como chegar

: que ferramentas e práticas espe-

cíficas usar? Como motivar as pessoas a mudarem

suas práticas[7]?

São várias as abordagens e ferramentas que podem

ser empregadas numa estratégia de GC, no entan-

to todas parecem depender da disponibilidade de

recursos (humanos, financeiros, tecnológicos) e do

tipo de conhecimento produzido [4,5,7,8]. Torna-

-se imprescindível, então, a articulação conceitual

de GC com as práticas organizacionais de criação,

identificação, captura, compartilhamento e uso do

conhecimento.

Nesta perspetiva, quando as organizações de Saú-

de Pública são o foco da gestão do conhecimento,

duas características emergem: a primeira tem a ver

com o processo de aplicação do conhecimento; e

a segunda, com o objetivo desse processo, que é o

de criar valor para as organizações. Essas duas ca-

racterísticas sugerem que o conhecimento deve ser

gerenciado e usado como um recurso que agregue

valor às atividades executadas nos processos de pro-

dução e prestação do serviço pelas organizações, a

partir de capacidades diádicas: mapeamento e aqui-

sição do conhecimento; produção e destruição do

conhecimento; integração e compartilhamento do

conhecimento; multiplicação e proteção do conhe-

cimento; desempenho do conhecimento e inovação

[6].

No contexto de uma emergência em Saúde Públi-

ca [11,12], é esperado que essas capacidades sejam

bastante exploradas. Desde quando constatada a

mudança no padrão de ocorrência da microcefalia,

após infecção pelo vírus zika na gestação, muito

conhecimento tem sido mapeado, buscado, cons-

truído, desconstruído, compartilhado e divulgado.

A rápida disseminação do vírus zika, estabeleceu

novos desafios para as autoridades de saúde e pes-

quisadores sobre a magnitude e possíveis compli-

cações causadas pela infecção. Hoje, existem mais

perguntas do que respostas, e mais estudos serão

necessários para resolver questões sobre a compe-

tência do vetor, proporção de casos assintomáticos

e sintomáticos, duração da imunidade natural, se

a relação do zika com a microcefalia e distúrbios

neurológicos é causal, e a proporção dos defeitos

congênitos de acordo com a idade gestacional da

infecção [13,14,15,16,17,18].

A microcefalia, que até outubro de 2015 não era de

notificação compulsória, passa a ser registrada em

Pernambuco - Brasil, chegando a registrar 1.150

casos de agosto a dezembro de 2015, quando a me-

diana entre 2005 e 2014 era de 09 casos anuais, o

que possibilitou a confirmação da epidemia. Ainda

em 2015, o Ministério da Saúde confirma a relação

entre os casos de microcefalia ocorridos e o Zika

vírus, e

chega-se à conclusão de que a microcefalia

não era o único sinal decorrente dessa infecção, mas

a Síndrome Congénita do Zika Vírus (SCZ)[19,20].

Considerando que o manejo e o desenvolvimento

da capacidade de resposta de forma mais eficiente e

eficaz, têm como principal subsídio o conhecimen-

to [11,12,21], analisar a Gestão do Conhecimento

no contexto da epidemia de SCZ, pode contribuir

para alcançar resultados na perspetiva da aprendi-

zagem, inovação, qualificação da tomada de decisão

e institucionalização das estratégias adotadas.