12
em particular, em mulheres grávidas, e a origem do “clus-
ter” de transmissão do sub-subtipo A1, na região do Mi-
nho, que realça a continuação da introdução e expansão
em Portugal de novas variantes virais, o que poderá vir a
ter impacto nas taxas reportadas de transmissão de resis-
tência primária aos antirretrovirais. Numa outra vertente,
a da prevenção e do tratamento, foram apresentados dois
estudos com resultados preliminares muito promissores,
reportando a descrição e caracterização de novos antigé-
nios da glicoproteína de superfície doVIH-1, e a descrição
e síntese de novos derivados indólicos de vários antirretro-
virais com possível atividade multialvo, o que abre cami-
nho a uma inovação em termos de terapia antirretroviral
combinada. Foram também apresentadas diferenças de
comportamento sexual, prevalência da infeção porVIH e
características sóciodemográficas de HSH que frequentam
diferentes tipos de locais para encontro dos respetivos par-
ceiros sexuais, sendo identificados alguns fatores associa-
dos a comportamentos de risco mais elevado. Finalmente,
foram apresentados e discutidos os dados epidemiológicos
mais recentes sobre as infeções por vírus das hepatites B
e C na cidade de Fortaleza, Brasil, tendo sido reportados
diferentes fatores de risco para a população estudada con-
soante o tipo de infeção.
Na sessão dedicada às Doenças oportunistas, negligencia-
das e emergentes, moderada por Olga Matos, Filomena
Pereira e Gabriela Gomes, foi apresentado o trabalho do
EDCTP, nomeadamente o apoio que presta à investigação
colaborativa entre a Europa e a África subsariana com o
intuito do desenvolvimento clínico, da prevenção e trata-
mento da infeção porVIH/sida, da tuberculose, da malária
e outras doenças infeciosas relacionadas com a pobreza.
Foi referido o programa EDCTP2, em vigor até 2024,
que pretende promover maior integração e coordenação
da investigação e aumentar o financiamento dos países em
desenvolvimento. Também foi discutida a problemática
da vacinação da febre-amarela. Esta doença é transmitida
por artrópodes vetores e ocorre na África subsaariana e
na América do Sul. A febre-amarela é evitável através de
vacinação, a qual em alguns casos pode causar efeitos ad-
versos graves, sugerindo-se que a vacina seja prescrita ape-
nas a indivíduos em risco de exposição ao vírus da febre-
-amarela ou que viajem para países que exigem prova de
vacinação. Noutro contexto, viajou-se pelo panorama das
infeções parasitárias oportunistas na CPLP. Em Moçambi-
que, país com a maior frequência de infeção porVIH entre
os PALOP, a prevalência da coinfeçãoVIH/parasitas intes-
tinais oportunistas é elevada em crianças com menos de 5
anos, sendo
Cryptosporidium
spp. o agente etiológico mais
comum. Em Angola (Bengo), a estratégia de diagnóstico
em massa e o tratamento individual de geohelmintíases e
schistossomíase em crianças em idade pré-escolar apre-
senta limitações na adesão ao diagnóstico e ao tratamento,
para além de implicar o tratamento desnecessário de mais
de metade de crianças não infetadas e o tratamento inade-
quado de algumas parasitoses. Seguiram-se apresentações
sobre o microrganismo oportunista
Pneumocystis jirovecii
,
que é um fungo atípico capaz de provocar pneumonia in-
tersticial (PPc) severa em imunodeficientes.O diagnóstico
da PPc depende de técnicas invasivas, pelo que se impõe o
desenvolvimento de um teste serológico. Descreveu-se a
síntese de antigénios recombinantes multiepítopo e o de-
senvolvimento de uma ELISA que permita a deteção de
anticorpos anti-
P. jirovecii
em doentes com
PPc, e a com-
binação com bionanoconjugados baseados em partículas
de ouro para o desenvolvimento futuro de testes rápidos
de diagnóstico. Por último, abordou-se o tema fasciolose,
doença emergente com impacto económico na produção
de bovinos e ovinos. A estrutura genética de populações
de
Fasciola hepatica
do Brasil, Portugal e de outros países
europeus evidenciou genótipos ou haplótipos comuns, que
sugerem uma substancial frequência de migração e a possi-
bilidade da introdução de resistência ao triclabendazol em
Portugal.
Chegados ao terceiro e último dia deste Congresso (21
de abril), na sessão da manhã, dedicada ao tema Doenças
Oportunistas, moderado por Olga Matos, Jaime Nina e
Rodrigo Corrêa-Oliveira (Fiocruz), Francisco Antunes,
médico infeciologista e professor da Faculdade de Medici-
na de Lisboa, apresentou e discutiu a importância das infe-
ções oportunistas no doente imunodeprimido assim como
os principais desafios na gestão destas infeções, tal como a
problemática do impacto crescente das infeções oportu-
nistas em populações não infetadas por VIH, as quais es-
tão sujeitas a tratamentos que induzem imunodepressão.
Como principais desafios na gestão das infeções oportunis-
tas foram destacados: a definição das populações de risco,
a determinação dos fatores de risco nestas populações, e
a melhoria das técnicas de diagnóstico, terapêutica e pre-
venção atuais. Seguiu-se Sergio Serrano-Villar, médico do
Departamento de Doenças Infeciosas do Hospital Univer-
sitário Ramón y Cajal, (Madrid, Espanha) que nos falou so-
bre a importância do microbioma humano como um fator
crítico na manutenção da saúde e na ocorrência de doen-
ças. Focou-se no estudo das potenciais implicações clínicas
do microbioma da vagina, do pénis, do pulmão e do intes-
tino associadas à infeção porVIH e em como é importante
compreender esta dinâmica para o correto delineamento
de estratégias a implementar para o seu equilíbrio. O Dr.
Nuno Marques conferenciou depois sobre “A importância
do cotrimoxazol nos países em desenvolvimento” e o Dr.
Yaxsier de Armas, do Instituto de Medicina Tropical Pe-
dro Kourí, de Cuba, apresentou a problemática da infeção
por
Pneumocystis jirovecii
nos países em desenvolvimento.
Segundo os dados mais recentes e, apesar da escassez de
estudos epidemiológicos em países em desenvolvimento,
foi referido um aumento dos relatos de PPc em África, na
Ásia e na América do Sul. Contudo, foi também discutida
Formação