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Formação
O IV Congresso Nacional de Medicina
Tropical do IHMT/NOVA:
temáticas abordadas, contexto histórico,
impacto global e nos países da CPLP.
O Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universi-
dade NOVA de Lisboa (IHMT/NOVA) organizou o IV
Congresso Nacional de MedicinaTropical e o 1º Encontro
Lusófono de Sida, Tuberculose e Doenças Oportunistas,
entre os dias 19 a 21 de abril de 2017, com o objetivo de
debater questões como a epidemiologia, o diagnóstico, o
tratamento, as novas terapias e estratégias de combate a
estas doenças, em Portugal e nos países de expressão por-
tuguesa. Este encontro bienal reuniu cientistas e especia-
listas dos Estados membros da CPLP, da Europa e de todo
o mundo, sendo o mais importante congresso sobre saúde
global e medicina tropical em Portugal.
Apesar de hoje ter cura, aTuberculose (TB), doença infe-
ciosa bacteriana causada pela bactéria
Mycobacterium tuber-
culosis
, regista ainda valores de incidência em algumas re-
giões do globo, como a África subsariana, a Ásia ou aAmé-
rica Latina, tão elevados quanto aqueles que se verificavam
globalmente na era pré-antibiótica. O diagnóstico precoce
para implementação rápida de terapêutica diretamente ob-
servada e a prevenção da transmissão, continuam a ser os
meios de controlo e combate mais eficazes.A vacina BCG
(Bacilo de Calmette e Guérin), aplicada nos primeiros dias
de vida e capaz de proteger contra as formas mais graves
da doença, está hoje a cair em desuso e a ser substituída
por outras formas de prevenção, dada a sua fraca eficácia
em países de baixa incidência e a dificuldade em se manter
a sua produção a nível mundial com a qualidade exigida.
Muitos países estão a descontinuar o seu uso e a investir
no diagnóstico precoce e no tratamento da tuberculose la-
tente, bem como a focar os seus esforços no controlo da
emergência da tuberculose multirresistente.O trabalho do
IHMT na área da TB conta com mais de 100 anos e cen-
tenas de publicações científicas nacionais e internacionais.
Nas primeiras décadas, focou-se no apoio às populações e
aos programas locais de luta contra aTB em todos os países
e províncias onde o Instituto operava. A partir dos anos
90 do século XX foram desenvolvidas, implementadas e
avaliadas novas tecnologias de biologia molecular e de cul-
tura bacteriana, que tiveram um impacto importante no
combate àTB e em especial àTB resistente em Lisboa, em
Portugal e nos países da CPLP. Em Portugal e no espaço
da CPLP foram estabelecidas parcerias clínico-laborato-
riais e redes de trabalho e de formação que beneficiaram
a investigação implementacional de novas técnicas e me-
todologias com impacto muito positivo na deteção preco-
ce e precisa da TB, da TB resistente e de outras infeções
por micobactérias. Um exemplo de sucesso foram a Rede
de Luta contra a Tuberculose Multirresistente na Gran-
de Lisboa (2000-2012) e a rede FORDILAB-TB, ambas
contando com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
Com esta experiência formámos parcerias e ligações du-
radouras com os programas de controlo e as redes labora-
toriais de diagnóstico daTB nos países da CPLP que foram
e continuam a ser a base da Rede de investigação emTB
da CPLP (Rides-TB) e são hoje uma ponte para outras re-
des clinico-laboratoriais de sucesso como a REDE-TB do
Brasil. Igualmente, descrevemos e continuamos a estudar,
em parceria com a Faculdade de Farmácia da Universidade
de Lisboa, a tuberculose multi e extensivamente resistente
em Portugal com relevância científica para a sua estirpe
primordial e indígena – a estirpe Lisboa – que se confronta
hoje com a invasão de outras estirpes suscetíveis e resis-
tentes importadas das mais variadas regiões do globo. Este
conhecimento tem estado ao serviço das redes de investi-
gação e controlo da CPLP e hoje trabalhamos no controlo
desta endemia, e sobretudo das suas formas resistentes, em
todos os países da CPLP.
Associado àTB e numa parceria letal, encontra-se a pande-
mia da infeção por VIH que disseminou a partir dos anos
oitenta do século XX. Esta infeção ao debilitar imunologi-
camente o indivíduo coloca-o numa situação insustentável
para conter outras co-infeções como a causada por
M. tu-
berculosis
ou outras coinfeções oportunistas de um sistema
imunitário debilitado.A síndrome da imunodeficiência ad-
quirida (Sida) foi descrita pela primeira vez em meados de
1981, em São Francisco, nos Estados Unidos da América
(EUA). Dois anos depois, foi isolado o vírus da imunode-
ficiência humana do tipo 1 (VIH-1) e identificado como
o agente causador da sida. Em 1986, com a colaboração
de três médicos do Hospital Egas Moniz e investigadores
do IHMT (José Luís Champalimaud, Jaime Nina e Kamal
Mansinho, entre outros) e da investigadora da Faculdade
de Farmácia da Universidade de Lisboa Odete Santos-Fer-
reira foi identificado e isolado um segundo tipo de vírus
que também causava a sida:VIH-2, que atualmente infecta
cerca de 1,2 milhões de pessoas, sobretudo na África Oci-
dental, na Índia e emmenor extensão na Europa (Portugal
e França). Mais de três décadas depois, a epidemia causada
porVIH constitui ainda um dos desafios de maior relevân-
cia em saúde pública.Atualmente, estima-se que já tenham
sido infetadas cerca de 78 milhões de pessoas por VIH-1
desde o início da pandemia, tendo-se registado cerca de 35
milhões de mortes a nível global.
A África subsariana, em particular a região da bacia do
Congo, é reconhecida como a origem da epidemiaVIH-1.
Também é nos países da África subsariana que se verificam
maiores prevalências da infeção, sendo esta mais elevada
em jovens adultos, com elevado impacto económico e so-
cial. Nos PaísesAfricanos de Língua Oficial Portuguesa em
particular, observa-se grande diversidade de subepidemias,
sendo Moçambique um dos países com maior prevalência
estimada na população adulta (10,5%), seguido da Guiné-
-Bissau (3.25%), Angola (2.2%), CaboVerde (1%) e São