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denação pode e deve ser protagonizada pela Comunidade

dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). No seu discurso

de abertura frisou “Neste primeiro encontro de países de

língua portuguesa permito-me insistir no papel da coor-

denação nos vários patamares em que esta se desenrola,

se se quiser fazer progressos no combate à sida, tubercu-

lose e outras doenças oportunistas no seio da CPLP. Em

parte, este papel pode ser assegurado pelas estruturas já

existentes da CPLP e pelo próprio secretariado da CPLP”,

afirmou o antigo Enviado Especial do Secretário-geral da

ONU para a Luta Contra a Tuberculose. Recordou-nos

ainda a agenda das Nações Unidas para os Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável, considerando-a um “rotei-

ro sólido, que deverá orientar os esforços conjugados no

seio da CPLP”.Referindo-se a um destes objetivos, a saúde

de qualidade, que estipula que até 2030 se acabe com “as

epidemias de sida, tuberculose, malária e doenças tropi-

cais negligenciadas”, estabelecendo ainda como prioritário

o combate à hepatite, às doenças transmitidas pela água e

a outras doenças transmissíveis, referiu: “Parece-me que

nos devíamos concentrar em trabalhar em conjunto para

alcançar estes objetivos ou metas, fazendo valer uma par-

ceria forte suscetível de concitar outros apoios e triangu-

lações várias, alavancadas no seio dos fóruns multilaterais,

como a União Europeia, o Banco Mundial, a Organização

Mundial de Saúde e o sistema das Nações Unidas em geral,

assim como ao setor filantrópico e privado”. Chamando

a atenção de todos para o facto de que para se conseguir

alcançar os objetivos identificados na Estratégia da ONU

“Acabar com aTuberculose até 2020”, o índice de redução

global teria de aumentar para 4% a 5% por ano, núme-

ros que estão longe de serem atingidos. O Ex-Presidente

Sampaio sublinhou ainda que há que “redobrar os esforços

em várias áreas”, pois “a partida está longe de estar ganha

e sobretudo, se nos centrarmos no espaço da CPLP, sendo

que Angola, Moçambique e Brasil se encontram no grupo

dos chamados ‘high burden countries’ (conjunto de países

problemáticos)”.

No resto da manhã viajámos entre África,América do Sul

(Manaus/Brasil), Europa/Lisboa sobre diversos aspetos da

clinica, epidemiologia e desafios de controlo da TB, HIV

e outras infeções oportunistas. Por fim terminámos com

um participado debate sobre o impacto social daTB&HIV.

Da parte da tarde deste primeiro dia decorreram várias

sessões paralelas, dedicadas aos Migrantes e à Saúde dos

Grupos vulneráveis e à Tuberculose. Nas duas primeiras,

foi salientado na sessão moderada por Sónia Dias e Jorge

Simões que, apesar dos migrantes não constituírem um

risco para a saúde das populações autóctones, as popula-

ções migrantes estão mais vulneráveis a riscos de saúde

(por um conjunto multifatorial de determinantes), sendo

por isso necessário que haja respostas por parte dos paí-

ses que permitam proteger a saúde destas populações. Em

particular, torna-se necessário desenvolver intervenções

que sejam direcionadas às necessidades específicas destes

grupos populacionais mais vulneráveis.

Para isto é essencial um maior envolvimento das comu-

nidades mais vulneráveis para que as intervenções sejam

mais adequadas. As estruturas de proximidade podem ter

um paralelo fundamental na ligação das comunidades aos

serviços de saúde. Portugal tem sido reconhecido como

um país com políticas públicas de saúde que favorecem o

acesso aos serviços de saúde e com várias estratégias de

aumento de integração dos migrantes, embora seja neces-

sária uma monitorização e acompanhamento destas popu-

lações.

Ana Requena Méndez, professora do Instituto de Salud

Global Barcelona (ISGlobal/UBarcelona), apresentou a

experiência de Barcelona em migração e doenças infecio-

sas, evidenciando que os hábitos culturais não influenciam

a disseminação de doenças, mas outros fatores, como as

condições em que muitos migrantes são forçados a viver e

que podem estar relacionados com a transmissão de cer-

tas doenças, como a tuberculose. Alertou ainda para que

as melhores práticas em matéria de prestação de cuidados

aos migrantes vulneráveis e aos refugiados devem ser uma

prioridade para os decisores políticos. Defendeu ainda

que a promoção da Saúde, o rastreio e a gestão de doenças

crónicas em migrantes vulneráveis e refugiados devem ser

facilitadas através de serviços integrados nos serviços pri-

mários. Em particular nas crianças migrantes, a principal

importância das doenças infeciosas está relacionada com

a grande mobilidade das pessoas por zonas endémicas de

algumas patologias e pela não existência ou o não cumpri-

mento de um plano de vacinação abrangente por essas po-

pulações. Na comunicação subordinada ao tema “Migran-

tes, doenças infeciosas e as crianças”,Ana Jorge, presidente

do Conselho do IHMT/NOVA e médica pediatra, realçou

que a variabilidade dos planos de vacinação dos países e

as diferenças de acesso têm uma enorme importância no

sucesso dos sistemas de saúde. No entanto, Portugal tem

um sistema em que o acesso aos cuidados de Saúde está

facilitado, mas nem sempre é do conhecimento de quem

precisa.

Em conclusão, o que ficámos a saber foi que uma boa saúde

dos migrantes é um fator determinante para a sua inte-

gração e consequentemente para uma contribuição para

o desenvolvimento económico, social e demográfico no

contexto europeu. 

Na sessão paralela sobre aTuberculose, moderada por Isa-

bel Couto e Cláudia Conceição, abordaram-se diferentes

aspetos desta doença, desde a epidemiologia da tubercu-

lose multirresistente em Portugal e a descrição da disse-

minação de uma família de estirpes de

M. tuberculosis

en-

démica em Portugal, à contribuição da sequenciação de

genoma completo de estirpes de

M. tuberculosis

para a epi-

demiologia molecular da tuberculose e sua utilidade como

Formação