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1.
A COLUFRAS
e o contexto
Ativa há mais de vinte anos, a Conferência Luso-Francó-
fona da Saúde (COLUFRAS) é uma organização interna-
cional não governamental e sem fins lucrativos que visa
a melhoria dos sistemas e dos serviços de saúde, graças à
promoção de intercâmbios internacionais, sobretudo en-
tre os países francófonos e lusófonos. Sua sede encontra-
-se em Montréal, no Canadá.
Por que falar de Comunicação em Saúde? E por que abor-
dar o problema dos acidentes de trânsito no contexto da
Saúde? Eis os dois grandes eixos de discussão do evento
internacional realizado no dia 18 de abril de 2017, como
atividade precursora do 4º. Congresso Nacional de Me-
dicina Tropical, promovido pelo Instituto de Higiene e
Medicina Tropical da Universidade de Lisboa. O coló-
quio decorreu de uma agenda proposta por ocasião de
um seminário sobre promoção da saúde, realizado pela
COLUFRAS em maio de 2016, quando da 22ª. Confe-
rência Mundial de Promoção da Saúde da UIPES (União
internacional de promoção e educação para a saúde), em
Curitiba (Brasil).
No colóquio de Lisboa, o papel da Comunicação em Saú-
de foi enfocado numa abordagem transversal, além de
terem sido apresentadas experiências exitosas e as estra-
tégias utilizadas por diferentes países (Portugal, Canadá/
Québec e Brasil) a fim de se buscar a redução dos aciden-
tes de trânsito e sua morbimortalidade. Foram examina-
dos não apenas os aspetos técnicos, mas também e, so-
bretudo, as estratégias intersetoriais e interinstitucionais.
Devido à importância económica da indústria automobi-
lística, os gestores públicos consideram primeiramente
os acidentes de trânsito como relacionados aos setores
de transporte e de regulamentação. Ora, os acidentes de
tráfego constituem-se num pesado fardo técnico e eco-
nómico para os serviços de saúde que, em todos os paí-
ses, sofrem crescentes dificuldades de financiamento. A
redução do número e da gravidade dos acidentes de veí-
culos terrestres aliviaria em muito os custos dos serviços
de saúde. Consequentemente, os responsáveis políticos
e os gestores dos sistemas de saúde devem fazer parte
dos atores e dos promotores da segurança no trânsito.
Devem colaborar com as estratégias de outros setores
(transportes, educação, justiça, serviços policiais, segura-
doras, poder legislativo, infraestrutura, meio ambiente,
informação) nas intervenções junto dos governos. Além
disso, ao mesmo tempo, devem facilitar a sensibilização
e a educação do público, dos municípios, da mídia e de
outros corpos intermediários. Essa colaboração essencial
requer estratégias de comunicação astutas e consistentes,
que possam conduzir à adoção, por diferentes atores, de
medidas eficazes que tenham por objetivo a redução do
número de acidentes de trânsito e sua gravidade.
As grandes campanhas de informação em matéria de se-
gurança no trânsito, nos países da francofonia e da lu-
sofonia, produziram já resultados bastante importantes,
nomeadamente em França, em Portugal e no Canadá.
Por outro lado, outros países europeus como os Países
Baixos, a Dinamarca, aAlemanha, a Suécia, o Reino Uni-
do e Espanha também implantaram políticas públicas que
se mostraram capazes de reduzir a incidência dos trauma-
tismos resultantes dos acidentes de trânsito nos últimos
anos.
Lembremo-nos de que uma resolução adotada pela As-
sembleia geral das Nações Unidas, em 2010, proclamou
a década 2011-2020 como sendo a “Década de ação para
a segurança no trânsito”. Segundo a ONU, os acidentes
de tráfego no mundo causam cerca de 1,25 milhões de
mortes por ano. É a primeira causa de óbito entre os jo-
vens de 15 a 29 anos de idade. Sublinhe-se que 90% das
mortes no trânsito ocorrem em países de baixa renda, ou
de renda intermediária, que possuem cerca da metade
do parque mundial de veículos. Se nada for feito, os aci-
dentes de trânsito tornar-se-ão, segundo as projeções da
ONU, a sétima causa de mortalidade até o ano 2030 [1].
Todavia, esses dados não dão a necessária visibilidade
ao peso extremamente grande dos traumatismos físicos
e mentais dos acidentes de trânsito para os sistemas de
saúde. Em muitos países, como no Brasil, por exemplo,
os serviços pré-hospitalares e os de urgência são ampla-
mente solicitados e ocupados pelos acidentados do trân-
sito. Várias medidas podem contribuir para a redução
do número e da gravidade de tais acidentes, como o uso
obrigatório do capacete para os motociclistas e o do cin-
to de segurança pelos usuários de automóveis e outros
veículos; as campanhas para a redução da velocidade e
da condução em estado de embriaguez, ou ainda a proi-
bição do uso de telefones celulares e de mensagens de
texto quando se está ao volante. Em cada um dos casos,
as estratégias de comunicação são essenciais, tanto junto
aos responsáveis políticos, quanto ao grande público e as
cidadãos, individualmente.
2. O caso do Brasil
Em novembro de 2015, realizou-se em Brasília a 2ª Con-
ferência Global de Alto Nível sobre Segurança noTrânsi-
to, que teve a participação de mais de 130 países mem-
bros da Organização das Nações Unidas (ONU). Das dis-
cussões foi elaborada a “Declaração de Brasília” onde os
países comprometeram-se a priorizar pedestres, ciclistas
e motociclistas, contribuindo, assim, para mudar o para-
digma do debate sobre trânsito em todo o planeta [2]. O
documento menciona ainda, de modo enfático, a preocu-
pação com a questão da equidade social, uma vez que as
Formação