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A n a i s d o I HM T

pessoas mais pobres e vulneráveis são muitas vezes as

principais vítimas (pedestres, ciclistas, condutores de

veículos motorizados de duas e/ou três rodas e passa-

geiros de transporte público inseguro) [3].

No Brasil, a relevância do assunto interpela diretamen-

te o sistema de saúde e a rede assistencial, desde a fase

do atendimento pré-hospitalar até à reabilitação/rea-

daptação.

A despeito do “Plano Nacional de Redução deAciden-

tes e SegurançaViária para a Década 2011-2020”, sob

a responsabilidade do Ministério das Cidades, lançado

em2010, o que se observa no Brasil nos primeiros anos

desta década é que as mortes no trânsito apresentam

uma tendência de crescimento, a qual se mantém pra-

ticamente desde o ano de 2000. Em 2012,morriam no

Brasil 45.689 pessoas em consequência de acidentes,

número 39% superior ao registrado dez anos antes, e

5% maior ao de 2010. Isso significa 23,6 vítimas fatais

a cada 100 mil habitantes, um óbito a cada 12 minutos.

A quantidade de feridos naquele mesmo ano chegou a

177.487 pessoas [4].

Essa tendência de aumento do número de mortes res-

surgiu após um significativo impacto do Novo Código

de Trânsito Brasileiro. No mais recente relatório da

Organização Mundial da Saúde sobre a situação da se-

gurança viária no mundo, baseado em dados de 2010,

o Brasil ocupava o 4º lugar no

ranking

do número de

mortes no trânsito no mundo, posicionando-se atrás

apenas da China, Índia e Nigéria [5].

Analisando-se o período de 1998 a 2012, constata-se

que o crescimento do número de mortes de motoci-

clistas aumentou 610%, enquanto que o número de mo-

tocicletas na frota nacional de veículos cresceu 491,1%.

(figura 1).Vale a pena ressaltar que mais de 60% dessas

mortes ocorreram entre homens de 20 a 39 anos de ida-

de, portanto no auge de sua força produtiva [6].

Considerando-se os aspetos económicos, os dados ofi-

ciais indicam que os custos totais dos acidentes de trân-

sito, no Brasil, saltaram de 28,84 para 58,87 bilhões de

reais entre 2005 e 2012 [7].

Uma pesquisa coordenada pela Faculdade de Medi-

cina da Universidade de São Paulo, entre fevereiro e

maio de 2013, revelou que 67% dos acidentes com

motos na cidade de São Paulo que resultaram em le-

sões graves aconteceram com motoristas que não pos-

suíam carteira de habilitação. Entre os devidamente

habilitados, 43% dos acidentes com motos resultaram

em lesões graves. Além disso, 21% dos motociclistas

acidentados haviam consumido álcool ou drogas antes

de dirigir –7,1% haviam bebido e 14,2%, usado dro-

ga ilícita (cocaína e maconha foram as mais comuns).

Por outro lado, dados da Companhia de Engenharia de

Tráfego da cidade de São Paulo mostram que a frota

de motos na cidade praticamente dobrou num perío-

do de sete anos: cresceu de 490.754, em 2005, para

962.239 em 2012. No mesmo período, o número de

acidentes com motos cresceu 35% e a quantidade de

motociclistas mortos aumentou 27% [8].

Segundo Scarpetta e Oksandro, citando dados do Mi-

nistério da Saúde, 30% dos leitos dos prontos-socor-

ros no país são ocupados por acidentes de trânsito; e

do total de internamentos, 48% foram de motociclis-

tas. Segundo a Associação Brasileira de Medicina no

Tráfego - Abramet, a cada dez leitos ocupados nas uni-

dades de terapia intensiva - UTI, quatro são ocupados

por pacientes envolvidos em acidentes de trânsito [9].

Além disso, os autores chamam atenção para o facto

de que o aumento exponencial do uso de motocicle-

tas, que eram 1,5 milhões de unidades em 1990 e 22

milhões em 2014, tem um impacto negativo sobre a

saúde também nas questões relacionadas à poluição

ambiental, interferindo também com aspetos ligados

à saúde mental, sobretudo nos grandes centros. Cri-

ticam, ainda, o facto de que os benefícios tributários

que ensejaram o aumento da produção e do consumo

de motocicletas, ainda que tenham trazido a criação

de emprego e rendimentos, acabam por causar impac-

tos fortemente negativos sobre a saúde da população,

Fig.1 -

Arquitetura do Observatório de Análise Política em Saúde

(http://www.analisepoliticaemsaude.org/

)

dessas mortes ocorreram entre homens de 20 a 39 anos de idade, po

sua força produtiva (6).

Figura 1- Relação entre o crescimento do número de mortes de

crescimento do número de motocicletas na frota nacional de veícul

1998 e 2012 (6).