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o que exige uma ação concertada e intersetorial das
instâncias governamentais, e um decisivo apoio da
sociedade civil, como já obtido em vários países do
mundo, inclusive na América Latina [4].
3.
O colóquio
A COLUFRAS é um organismo bilingue. Consequen-
temente, as apresentações e outras intervenções foram
feitas tanto em português, quanto em francês. Um servi-
ço de tradução simultânea, oferecido pela Embaixada do
Canadá em Portugal, permitiu a todos os participantes
seguir os debates na língua de sua escolha.
Depois da abertura dos trabalhos, com as palavras de
boas-vindas proferidas pelo Diretor do Instituto de Hi-
giene e Medicina Tropical de Lisboa, Prof. Dr. Paulo
Ferrinho, houve uma sequência de exposições e debates
ao longo do dia. A primeira intervenção foi a do Dire-
tor-Presidente do Instituto Nacional de Excelência em
Saúde e Serviços Sociais do Québec (INESSS), o Dr. Luc
Boileau, que enviou ao evento um vídeo com sua expo-
sição. Nele foram abordados elementos que permitiram
dar uma ideia da importante redução da morbimortali-
dade dos acidentes de trânsito terrestre na Província do
Québec (Canadá) ao longo dos anos.
O Québec, em 1978, instituiu a Société d’assurance au-
tomobile du Québec (SAAQ) – Sociedade de Seguros
Automobilísticos do Québec, visando enfrentar o grave
quadro de mortalidade por acidentes de trânsito então
presente.Aolongo de 40 anos (1973 a 2013), o número
de mortes nas estradas não parou de diminuir, passando
de 2.209 a 399 vítimas no total, apesar de uma estabiliza-
ção entre 2001 e 2006 [10].
No balanço anual da SAAQ de 2015, o número de mortes
reduziu-se ainda mais: 361, que foi maior do que o ocor-
rido em 2014 (aumento de 12,1%), mas inferior em
13,8% com relação à média dos anos 2010 a 2014. É im-
portante ressaltar que a redução da mortalidade, desde
1978, foi de 79,5% , mesmo com o aumento de 70,8%
do número de carteiras de habilitação e de 113,8% do
número de veículos em circulação [11]. Outro facto im-
portante foi a redução da mortalidade na faixa de 15 a 24
anos de idade, que continua em trajetória descendente.
Foram registrados, em 2015, apenas 44 óbitos de pe-
destres e 9 entre ciclistas, os dados mais baixos já obser-
vados entre esses usuários mais vulneráveis no trânsito.
Em relação a 2014, a redução foi de 12% e de 18,2%,
respetivamente.
Entretanto, o número de motociclistas mortos aumen-
tou, passando de 40, em 2014, para 50, em 2015. Perce-
be-se não somente um aumento de 25% dos óbitos com
relação a 2014, mas também um crescimento de 17,9%
com relação à média do período 2010-2014. Em 2015
havia mais de 173.000 motociclistas registrados no Qué-
bec, o que representa um aumento de 4,5% em relação
a 2014. Em média, houve um acréscimo de 6.500 novas
motocicletas por ano no trânsito, o que torna a preven-
ção de acidentes ainda mais importante.
Em sua apresentação, o Dr Boileau sublinhou a impor-
tância da atuação, em parceria, de diferentes atores go-
vernamentais e da sociedade civil, o que tem permitido
lograr êxito importante na redução do número de aci-
dentes e de suas vítimas.
Logo após, o Prof. Dr. José Gomes da Cunha, da Fa-
culdade de Medicina da Universidade de Poitiers, Fran-
ça, discorreu sobre a forma de abordagem da Comunica-
ção na graduação médica em França. Falou, ainda, o Sr.
Patrick Postal, ex-assessor do Ministério da Pesquisa e da
Tecnologia da França, especialista nos intercâmbios entre
a França e o Brasil nos setores económico e financeiro,
com largos anos de experiência nas indústrias da saúde,
que abordou o tema "A França como pivô entre as Amé-
ricas e a África no setor da saúde". Ressaltou as poten-
ciais contribuições que a França poderia dar no campo da
segurança no trânsito, sobretudo emmatéria de infraestru-
tura rodoviária (Vinci,Bouygues,Eiffage,Colas); do socor-
ro às vítimas de acidentes (SAMU, bombeiros, medicina
de catástrofes); das medidas de segurança na fabricação de
veículos e seus componentes (Renault-Nissan, Michelin,
PSO, Valeo); do transporte de pessoas (Keolis, Transdev,
RATP, SNCF); da inteligência no trânsito (Thales); da ino-
vação (polos de competitividade); da prevenção e da co-
municação (e-santé) dentre outras.
Ao final do bloco, o Prof. Dr. RémyTrudel, da Escola Na-
cional de Administração Pública do Québec, e presidente
da COLUFRAS, fez suas considerações sobre a importân-
cia da comunicação como estratégia necessária ao êxito de
ações de promoção da segurança no trânsito.
A Dra. Gregória Paixão von Amann, Coordenadora do
Programa Nacional de Prevenção de Acidentes, do Minis-
tério de Saúde de Portugal, descreveu a evolução da segu-
rança no trânsito neste país, situando-as com relação a dois
momentos importantes da vida nacional: o da Revolução
de 25 de abril de 1974 e o do ingresso na Comunidade
Económica Europeia (1986). O desafio primeiro foi o de
adotar medidas que aproximassem os números expressi-
vamente maiores da mortalidade no trânsito em Portugal,
aos dos outros países da União Europeia (UE), o que so-
mente foi conseguido em 2006. Em 1991, o número de
mortes no trânsito em Portugal era da ordem de 323 por
milhão de habitantes, enquanto que nos demais países da
UE situavam-se em torno de 160. As estratégias adotadas
para o enfrentar o problema fizeram com que Portugal,
entre 2010 e 2016 tenha registrado o maior recuo no nú-
mero de mortos em acidentes rodoviários, com um de-
créscimo de 40%.
Na experiência lusitana, chamam atenção as parcerias es-
Formação