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S79

Suplemento dos Anais do IHMT

essencial para agilizar o processo de decisão, pois refi-

nam dados, ordenam cronologicamente, agrupam temas

e conferem ao tomador de decisão vantagens e pratici-

dade para obter informações essenciais e estratégicas.

Até agora, muitas análises da relação entre globaliza-

ção e saúde encararam a saúde como subproduto, como

consequência espontânea – positiva, segundo alguns,

negativa, segundo outros – de forças globalizadoras es-

tranhas a essa exigência e motivadas somente por ou-

tros interesses. A saúde global é uma finalidade social

desejável, hoje descuidada ou deformada pela influên-

cia do fundamentalismo monetário, mas merecedora de

evidência prioritária, seja pelo seu valor intrínseco, seja

como símbolo do predomínio de valores humanos sobre

outros interesses (Berlinguer, 1999).

No que tange a este processo de forma eficaz, é mister

o trabalho cooperativo. Segundo Pierre Lévy (1994) “a

inteligência coletiva é uma Inteligência distribuída por

toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em

tempo real, que resulta em mobilização efetiva das com-

petências”, que procura o reconhecimento e o enrique-

cimento das pessoas. O conceito da inteligência coletiva

foi criado a partir de alguns debates realizados por Pier-

re Lévy (1994), relacionados com as tecnologias da inte-

ligência. Caracteriza-se pela nova forma de pensamento

sustentável através de conexões sociais que se tornam

viáveis pela utilização das redes abertas de computação

da

internet

. As tecnologias da inteligência são represen-

tadas especialmente pelas linguagens, os sistemas de

signos, recursos lógicos e pelos instrumentos dos quais

nos servimos. Todo o nosso funcionamento intelectual

é induzido por essas representações. Os seres humanos

são incapazes de pensar só e sem o auxílio de qualquer

ferramenta (Bembem & Santos, 2013).

Segundo Bonabeau (2009), a inteligência coletiva con-

tribui fortemente para a mudança de conhecimento

e poder do indivíduo para o coletivo (Bonabeau, E.,

2009). O código aberto da inteligência coletiva acaba-

rá por gerar resultados superiores aos conhecimentos

gerados pelo

software

proprietário desenvolvido dentro

das corporações. A educação e a forma como as pessoas

estão a aprender a participar em culturas de conheci-

mento, fora os contextos de aprendizagem formais,

é determinante no novo contexto global. É crucial a

aprendizagem através dos meios de inteligência coleti-

va, pois é importante para a democratização da ciência,

uma vez que está interligada com a cultura baseada no

conhecimento e sustentada pela partilha de ideia coleti-

va, portanto, a contribuir para uma melhor compreen-

são da diversidade sociedade (Burke, 1991; “Collective

intelligence”, 2016; Trigo, Gouveia, Quoniam, & Ric-

cio, 2007), com dados abertos à ciência das institiuições

(Pordes et al., 2007; Molloy, 2011; David, 2004; Er-

rington et al., 2014).

O contributo da Ciência Aberta

Para pensar em ciência aberta, é necessário mudar a cul-

tura académica, de forma a amenizar o sentimento de

posse que os pesquisadores têm relativamente aos seus

dados. Na maioria das vezes eles são fruto de pesquisas

financiadas com dinheiro público e contam com material

doado por outras pessoas. Como exemplo, os pesquisa-

dores financiados pelo

National Institutes of Health

(NIH)

dos EUA, têm a obrigação de tornar os seus resultados

públicos, sob pena de não voltarem a ser financiados.

Grandes corporações, utilizam também o conceito de

“open innovation” como forma de proporcionar a inova-

ção dos seus processos e/ou produtos com contributos

de qualquer investigador, empresa etc. (Celadon, 2014;

Michelino, Cammarano, Lamberti, & Caputo, 2015)

e na área da saúde também se traduz numa oportuni-

dade (Chaifetz, Chokshi, Rajkumar, Scales, & Benkler,

2007).

Segundo um editorial da revista

Science

(2016), embora

tenha havido progresso nos últimos anos, a maior parte

dos dados clínicos e genómicos ainda são coletados e es-

tudados de forma isolada, em silos – compartimentados

por doença, por instituição, por país etc. (Nature News,

2016). Os primeiros esforços de compartilhamento têm

permitido desenvolver tratamento para doenças raras

e algumas formas de cancro. Porém, tal benefício só

atingirá toda a população quando médicos e pesquisa-

dores puderem aceder e comparar dados de milhões de

indivíduos (

The Global Alliance for Genomics and Health

,

2016).

Imagine a dificuldade de encontrar um livro específico

se o conteúdo de uma dúzia de diferentes bibliotecas

nacionais fosse todo reunido num único local e, em se-

guida, conceber uma forma de integrar as várias ma-

neiras com que os diferentes conteúdos são arquivados,

rastreados, gravados e disponibilizados. Seria muito

mais fácil pedir a cada biblioteca que guardasse os seus

próprios livros e que compartilhasse a informação so-

bre como encontrá-los em cada biblioteca. Nesta linha

de pensamento, seria interessante que a partilha de da-

dos de ciência pudesse seguir o mesmo caminho (

Nature

News

, 2016).

Uma das iniciativas em prol da ciência aberta que se

pode citar é o convénio do Brasil no Consórcio do Ge-

noma Estrutural (

www.thesgc.org

), o qual tem o objeti-

vo de gerar pequenas moléculas inibidoras de proteí-

nas quinasses e estas moléculas estarão disponíveis para

qualquer grupo de pesquisa do Brasil e do mundo. Nesse

contexto, novas iniciativas de publicação e revisão por

pares, como o

Peerage of Science

, o

arXiv

e a

PLoS

, têm

confirmado essa tendência, como o próprio exemplo da

Wikipedia

, que foi tão criticada no seu início e que hoje

se traduz numa das melhores ferramentas

Web

2.0 para