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S65

Suplemento dos Anais do IHMT

ção primária de saúde. O PMAQ procura fazer uma análise do

desempenho das equipas de saúde da família, não se constituin-

do numa avaliação centrada no médico, o que também é uma

inovação no plano internacional. Assim o PMAQ é um grande

desafio enfrentado pela gestão (Ministério da Saúde) e pelas Ins-

tituições de Ensino e Pesquisa (IEPs).

As IEPs entram como protagonistas nesse processo, cumprindo

o seu papel académico e participando do desafio de construir

metodologias e políticas inovadoras que ajudem na resolução

das necessidades de Saúde da nossa população.

Um caráter inédito da pesquisa avaliativa na Atenção Primária

em Saúde no Brasil - PMAQ é o desenvolvimento da fase de ava-

liação externa, realizada pelas IEPS, em função da magnitude,

da abrangência e do arranjo institucional complexo, com meto-

dologia unificada utilizando os

tablets

(programação eletrónica)

na recolha de dados. A necessidade do Ministério da Saúde em

prosseguir nas avaliações em saúde na APS, a partir dos estudos

pioneiros do PROESF - Linhas de Base, em 2004, fez surgir o

PMAQ-AB, comuma metodologia única, num trabalho conjun-

to integrado entre o MS e as IEPS, o que exigiu muito esforço

de todos.

As Universidades também ficaram responsáveis pelo aprimora-

mento de mecanismos de coordenação, articulação e revisão dos

instrumentos para garantir comparabilidade com novos ciclos

avaliativos.A gestão exige dados, mas o país é extenso, então ela

procura na Universidade um aliado para o debate da construção

do instrumentos de avaliação além de sua participação na coleta

de dados, análise e divulgação de resultados. As IEPS tiveram

esse papel complexo de articulação entre elas (mundo acadé-

mico) e a gestão do SUS.Tiveram um protagonismo externo,

avançando em melhorias para o sistema de saúde e sua gestão,

e interno na vida académica, com produção de conhecimento,

capacitação de pessoal, inovação tecnológica e divulgação cien-

tífica.

A experiência do PMAQ-AB resultou, na Universidade Federal

de Minas Gerais, em artigos, dissertações, teses, capítulos de

livro e também numa nova disciplina no Programa de Pós-gra-

duação de Saúde Pública de cunho obrigatório, “Avaliação de

qualidade na atenção primária: uma reflexão sobre a experiên-

cia brasileira e a de outros países”.Vê-se claramente que esses

estudos/pesquisas de avaliação em Saúde trazem resultados e

benefícios múltiplos para ambos os lados, tanto para a gestão,

como para a academia.

Zulmira Hartz

Instituto de Higiene e MedicinaTropical

- Universidade Nova de Lisboa, Portugal

Este é um resumo da contribuição do Instituto de Higiene

e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lis-

boa (UNL), que é mais do que apenas uma contribuição de

Portugal, porque tem sido sempre construída com o Brasil.

Destaca-se também a preocupação em não formar apenas in-

vestigadores, mas todos os pós-graduados do campo da Saú-

de para a avaliação das políticas públicas. Do ponto de visto

teórico orienta-se pela mesma tipologia canadense desde a

década de 90 mas que foi revista, ampliada e ilustrada com

estudos de caso, específicos para cada tipo de avaliação, no

novo livro da Editora Fiocruz “Avaliação: Conceitos e Mé-

todos” [11]. Nesta perspetiva o conceito de intervenção não

se limita ao que Donabedian [12] definiu como estrutura,

processo e resultado. Uma intervenção é composta primei-

ro pelo problema e depois (enfaticamente) pelo contexto,

que é organizacional e institucional, além da sua natureza

espacial e temporal de historicidade e interesses dos atores

envolvidos.

No momento em que estão a avaliar, os avaliadores também

integram a própria intervenção, porque têm os seus próprios

interesses. A avaliação é, portanto, uma prática social como

outra qualquer e não se pode ter, nem pensar, a pretensão de

se resguardar como uma intervenção exclusivamente técni-

ca.Também é preciso lembrar que as políticas são entendidas

como um conjunto de orientações e decisões dos poderes

públicos que podem ser apoiadas pelas avaliações, mas sem a

elas se restringir.

Sobre a orientação operacional de como construir um pro-

cesso de avaliação, utiliza as seis etapas propostas pelo fra-

mework do CDC em 1999 [13], com múltiplas ferramentas

de auto-aprendizagem reconhecidas internacionalmente, e

todas elas balizadas pela aplicação dos parâmetros e critérios

que qualificam as avaliações, já utilizados na “Meta-Avaliação

da Atenção Básica à Saúde” publicada em 2008 [14].

Algumas vantagens de ter este núcleo comum de investiga-

ção é que facilita a elaboração de protocolos e do seu crono-

grama de execução, recomendando também a importância

de se envolver instituições de ensino entre os atores organi-

zacionais. Do ponto de vista prático destacou como exemplo

a avaliação da descentralização dos programas de controlo de

endemias realizada nos nove Estados brasileiros da Amazónia

Legal, em que demonstra também a relevância de se estabe-

lecer alianças entre as secretarias estaduais de saúde e as Uni-

versidades, nos estudos avaliativos em todas as etapas.Assim

foram feitos treinamentos prévios e descentralização dos

trabalhos de campo para as IES locais. Ainda que não sejam

universidades com experiência em avaliação, é fundamental

o seu envolvimento porque há uma possibilidade concreta

de se iniciar o fortalecimento da capacidade avaliativa dessas

pessoas, obtendo-se maior qualificação da recolha dos dados

e interpretação dos resultados, o que favorece a aplicação

local e mais imediata do conhecimento produzido.

Nesse sentido o que se julga mais importante é este processo

permanente de translação ou aplicação do conhecimento, no

“quê’ e no “porquê” a avaliação pode influenciar uma vez que,

enquanto investigação científica, sempre deu ênfase ao foco

da utilidade.Assim a pesquisa (sobretudo avaliativa) não aca-

ba quando se publica o artigo ou defende uma tese. O avalia-

dor tem que estar atento à sua responsabilidade em agregar