Table of Contents Table of Contents
Previous Page  45 / 210 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 45 / 210 Next Page
Page Background

45

A n a i s d o I HM T

venção da medicina legal paulista. Seguindo o livro-texto de

Flaminio Favero, podemos verificar que a ceroplastia de Au-

gusto Esteves deu concretude ao “programa” proposto por

aquele médico para a medicina legal paulista. Quase todos

os temas foram abrangidos, sem esgotá-los, pela ceroplastia.

Apenas a hematologia, a criminologia, a psicopatologia, a

medicina profissional e a ética médica não foram contempla-

das, por tratarem de questões eminentemente teóricas. Mas

o resto ganhou forma através da ceroplastia.

Conclusões

Procuramos indicar os usos e a importância da ceroplastia

na consolidação da dermatologia e da medicina legal em São

Paulo. Não há como apurar todas as formas de utilização das

peças, mas ficou evidente que sua função precípua era di-

dática. Durante vários anos, elas foram utilizadas nas aulas

de dermatologia e medicina legal.Augusto Esteves produziu

também outros tipos de material didático, tal como pranchas

(desenhos e gravuras) para o ensino de aspetos da medicina

forense.

O uso museológico veio bem mais tarde. Em 1980, por

iniciativa de Carlos Silva Lacaz (1915-2002), diretor da Fa-

culdade de Medicina entre 1974 e 1978 e idealizador do

Museu do Museu Histórico da Faculdade, criou-se o Museu

Ceroplástico Augusto Esteves, composto pelas peças produ-

zidas na cátedra de dermatologia. Anos depois, por conta de

reformas no prédio da Faculdade de Medicina, a exposição

foi desmontada e as peças foram armazenadas por Lacaz no

Museu da Faculdade de Medicina, onde ainda hoje perma-

necem.

As peças revelam a intenção de intervir na sociedade e tor-

nam concretos quais seriam os objetos desta intervenção. Do

ponto de vista histórico, cremos que este é o aspeto mais

relevante que emerge do estudo das peças ceroplásticas.

Mesmo tendo perdido o seu papel didático e relegadas ao

esquecimento, as peças ceroplásticas ganham hoje relevân-

cia dentro do campo da história da ciência. Como indicava

Schnalke [16] há mais de uma década, as coleções ceroplásti-

cas foram recuperadas e transformadas em objeto de estudo

de historiadores da ciência e da medicina, que nelas viram

importantes fontes para a compreensão da formação das es-

pecialidades médicas e da representação do corpo e de suas

doenças.

4 - Em 1922 houve a Primeira Conferência Paulista de Medicina Legal e Crimino-

logia. Em 1937 ocorreu a Primeira Semana Paulista de Medicina Legal.A Segunda

Semana foi realizada três anos depois, em 1940.

Bibliografia

1. Donnângelo MCF (1983).Apresentação. In: Nunes ED. Medicina Social: aspetos

históricos e teóricos. Global, São Paulo, Brasil.

2. Benchimol JL (2003). História da medicina e da saúde pública: problemas e pers-

petivas. In:Andrade,AMR (org). Ciência em perspetiva: estudos, ensaios e debates.

MAST/SBHC, Rio de Janeiro, Brasil.

3. De Certeau M (2000). A operação historiográfica. In: A escrita da história. 2ª.

Ed. Forense Universitária, Rio de Janeiro, Brasil.

4. Mota A , Schraiber LB (2009). Mudanças Corporativas e tecnológicas da Medici-

na Paulista. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 16 (2): 345-360.

5. Marinho MG (2001). Norte-americanos no Brasil: uma história da Fundação

Rockfeller na Universidade de São Paulo, 1934-1952. Fapesp, São Paulo, Brasil.

6. Lacaz CS (1993). Museu Ceroplástico “Augusto Esteves”. Revista da Sociedade

Brasileira de MedicinaTropical, 26 (2): 125-126.

7. Rivitti EA, Festa Netto C (2012) Departamento de Dermatologia. In: Mota A,

Marinho MG. Departamentos da Faculdade de Medicina de São Paulo: memórias e

histórias. Faculdade de Medicina/USP, São Paulo, Brasil.

8. Darier J (1928). Précis de dermatologie. 4ª. Ed. Paris: Masson.

9. Pupo JA. Carta enviada para Jean Darier em 12 de julho de 1929. São Paulo,

data [mimeo]. Fundo João de Aguiar Pupo - Museu Histórico “Prof. Carlos da Silva

Lacaz” - FMUSP.Tradução própria.

10. Meira AR, Battistella LR (2012). Departamento de Medicina Legal, Ética Mé-

dica e Medicina Social do Trabalho. In: Mota A, Marinho MG. Departamentos da

Faculdade de Medicina de São Paulo: memórias e histórias. Faculdade de Medici-

na/USP, São Paulo, Brasil.

11. Ferla L (2009). Feios, sujos e malvados sob medida: a utopia médica do biode-

terminismo.Alameda, São Paulo, Brasil.

12. Antunes JLF (1999). Medicina, leis e moral: pensamento médico e contempo-

râneo no Brasil (1870-1930). Ed. Unesp, São Paulo, Brasil.

13. Favero F (1958). Medicina Legal, (1º vol). Martins Fontes, São Paulo, Brasil:

10.

14. Favero F (1940). Memorial ao Colendo ConselhoTechnico-Administrativo da

Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo, 10/10/1940. Fundo Flaminio

Favero, Museu Histórico da FMUSP.

15. Ferla L (2005). O trabalho como objeto médico-legal em São Paulo dos anos

1930.Asclepio, 57 (1): 237-263.

16. SchnalkeT (1993).A brief history of dermatologic moulage in Europe – Part III:

Prosperity and decline. International Journal of dermatology, 32 (6): 453-463.