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nos obrigam a completar, de afogadilho, em meia dúzia de
anos, visto que perdemos a oportunidade de a empreender
e executar, com calma e vagar, durante 4 séculos… é esse o
feitio e destino da raça, contra os quais nada podem energias
isoladas” [15].
Na mesma circular anuncia a divisão do território em Dis-
tritos Sanitários (coincidentes com os Distritos Administra-
tivos), divididos em delegações e subdelegações de saúde
e, estas, em postos sanitários, de modo que, após o indis-
pensável preenchimento do quadro de pessoal – para o que
contava com o apoio do Alto Comissário – os cuidados de
saúde possam chegar a todos, europeus e africanos. É ain-
da noticiada a criação de um ConselhoTécnico encarregado
dos assuntos científicos e da publicação da Revista Médica de
Angola que privilegiará os artigos elaborados pelos médicos
da colónia. O primeiro exemplar da revista será publicado
logo em Agosto de 1921. Mais tarde publicará o Boletim da
Assistência Médica aos Indígenas e da Luta contra a Moléstia
do Sono.
Esta organização dos Serviços de Saúde, que tencionava alar-
gar a todo o território (o que por razões financeiras e políti-
cas nunca se conseguiu), tinha como objetivo a saúde das po-
pulações, especialmente a dos africanos, sem a qual não era
possível o progresso de Angola. Esta estratégia, totalmente
nova, é um pilar fundamental do pensamento de Norton de
Matos e Damas Mora
6
.
Do ponto de vista tático criava-se o princípio da simultanei-
dade de ação nos diversos distritos, de modo que, após um
ter sido considerado indemme não voltasse a ser contamina-
do a partir dos distritos vizinhos [1: 100] fazendo-se o con-
trolo por passaportes sanitários [16]. Embora o âmbito desta
política sanitária fosse, essencialmente, a doença do sono,
mais tarde alargar-se-ia a outros campos
7
.
É fácil de ver que Damas Mora procurava aplicar a sua le-
gislação de 1920. Um dos objetivos era realizar congressos
científicos e, assim, entre 16 e 23 de Julho de 1923, com a
presença de 76 congressistas, muitos provenientes dos países
europeus com interesses em África, decorre em Luanda o
1º Congresso Internacional de Medicina Tropical da África
Ocidental (1º CIMTAO). O congresso, de que Damas Mora
era o presidente executivo, foi presidido por Norton de Ma-
tos.
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Na sessão de abertura Damas Mora anunciou que não se iam
abordar ali os altos problemas científicos da medicina, mas,
sim, as políticas de saúde e higiene que trouxessem pro-
gresso à saúde das populações africanas, isto é, a Assistência
Médica aos Indígenas (AMI). O congresso tinha, também,
objetivos políticos, e aos congressistas foram oferecidas via-
gens pelo litoral e interior deAngola que os levaram a tomar
conhecimento não só das belezas naturais da colónia, mas,
também, do seu progresso material e social incluindo visitas
a grandes roças. Norton de Matos tentava assim contestar
Doenças, agentes patogénicos, atores, instituições e visões da medicina tropical