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1.

Introdução

Os estudos sobre a história das Escolas de Medicina Tropi-

cal na Europa que têm sido publicados durante as últimas

décadas debruçaram-se principalmente sobre a produção

científica destas, e sobre os protagonistas mais emblemáticos

na área da medicina tropical e os seus percursos académicos

(Morange & Fantini, 1991; Mannweiler, 1998; Power, 1999;

Baetens, 2009).As escolas em questão, que surgiram nos fins

do século XIX e no início do século XX no Reino Unido,

França, Alemanha, Portugal e Bélgica, foram fundamentais

para a profissionalização da medicina tropical e a sua conso-

lidação no quadro da ciência médica.A sua história está tam-

bém profundamente enraizada na introdução de conceitos

e práticas da medicina tropical nas colónias dos respetivos

impérios destes países em África e Ásia. Contudo, apesar

das revindicações nacionais acerca da historiografia das des-

cobertas e proezas científicas destas escolas, dificilmente se

pode falar de uma ciência ‘nacional’, mas antes de uma ciên-

cia inter- e trans-nacional (Mertens & Lachenal, 2012). De-

vido ao facto de estas escolas estarem, por definição, viradas

para o exterior, e a microbiologia, parasitologia e epidemio-

logia serem áreas de estudo muito internacionalizados, exis-

te uma tensão latente entre os elementos nacionais e globais

das narrativas sobre a sua atuação.

O presente artigo pretende preencher uma lacuna no que

diz respeito ao percurso do Instituto de Higiene e Medici-

na Tropical (IHMT), fundado como a Escola de Medicina

Tropical Medicine (EMT) em 1902 e rebatizado Instituto de

Medicina Tropical (IMT) em 1935. Além de algumas ache-

gas para a sua história (Damas Mora, 1941; Azevedo, 1958;

Abranches, 2004; Amaral, 2008; Castro, 2013), o estudo da

sua evolução institucional ainda é incipiente, estando mais

centrado no seu período formativo. Por conseguinte, o foco

principal deste estudo situa-se na fase pós-1945, quando o

IMT conhece uma rápida expansão assumindo novas tarefas

na sequência da criação da OMS e na implementação de pro-

gramas de combate às endemias nas colónias de então.

Por a fase inicial e o período entre guerras não serem aqui

abordados, acrescentam-se umas curtas notas históricas. Se

bem que o IHMT tem estado na vanguarda dos desenvol-

vimentos da investigação e ensino da medicina tropical em

Portugal, houve outras instituições portuguesas que o ante-

cederam, como por ex. o Laboratório de Microbiologia da

Faculdade de Medicina em Lisboa criado em 1886, o Insti-

tuto Bacteriológico em 1892, o Gabinete de Bacteriologia

do Hospital da Marinha, e o Instituto Central de Higiene

em 1899 e que em 1945 se tornou o Instituto Superior de

Higiene

1

.A Escola surgiu na sequência das revindicações fei-

tas por Miguel Bombarda para uma escola vocacionada para

a investigação e formação de profissionais especializados

em questões de higiene e saneamento nos trópicos (Damas

Mora, 1941: 197; Amaral, 2008: 306/7; Castro, 2013: 34).

Desde o XV Congresso Internacional de Medicina organiza-

do pela EMT em Abril de 1906, esta integrou-se em redes

internacionais de escolas de medicina tropical em Europa

(e.g. com o Reino Unido, França,Alemanha, Espanha, Itália,

Bélgica e os Países Baixos), além dos Estados Unidos, Brasil,

Venezuela, África do Sul, Rodésia, e outros países. A ligação

estreita entre a EMT e o Hospital Colonial/Hospital do Ul-

tramar em Lisboa, ambos fundados em 1902, fez com que

a medicina tropical cedo evoluísse para uma nova disciplina

clínica em Portugal.

Desde então, o Instituto mudou várias vezes de tutela (da Se-

cretaria de Estado da Marinha e Ultramar,Ministério das Co-

lónias/Ultramar, Secretaria de Estado da Saúde/Ministério

de Assuntos Sociais, Universidade NOVA de Lisboa-UNL/

Ministério de Educação), além de passar por sucessivas

reorganizações e alterações de estatutos e regulamento (em

1920, 1931, 1955, 1967, 1972, 1980, 1983, 1990, 1998 e

2009). Em relação aos seus congéneres europeus, houve um

desfasamento em termos de modelos e áreas de intervenção,

por causa da descolonização tardia, que também teve um im-

pacto sobre a sua identidade ‘nacional’ e ‘internacional’. A

sua integração na Universidade NOVA de Lisboa em 1980

também significou uma alteração do seu estatuto, de labora-

tório estatal para uma instituição com autonomia própria e

independência académica. Ao longo do seu percurso, o foco

da sua atuação mudou de um contexto imperial e colonial

para a cooperação transnacional no quadro da saúde inter-

nacional e global, cujos eventos mais importantes podem ser

vistos na cronologia abaixo. A primeira parte do artigo está

centrada na evolução do IHMT na fase de 1950 até 1974 e

a ênfase sobre o combate a doença do sono e malária num

quadro imperial, enquanto a segunda se debruça sobre o seu

papel na internacionalização da saúde pública e na diversifi-

cação da medicina tropical.

Cronologia

- 1952: I Conferência Nacional de MedicinaTropical

- 1955: Novo regulamento interno

- 1955: Criação Institutos de Investigação Médica emAngola

& Moçambique 

- 1957: Criação da Comissão de Higiene e Saúde, Ministério

do Ultramar

- 1958: VI Congresso Internacional de Medicina Tropical e

de Paludismo  

- 1958: Inauguração novo edifício

- 1966: Reforma Institucional: IMT muda de nome para

ENSPMT (até 1972)

- 1967: Novo regulamento Interno da ENSPMT

- 1972: Reforma Institucional: ENSPMT rebatizado IHMT

com nova orgânica interna

- 1974:Adesão Portugal e IHMT ao ProgramaTDR

- 1975: Centro de Estudo de Doenças Infeciosas e Parasitá-

rias (CDIP)

- 1980: Reforma Institucional: IHMT integrado na Universi-

dade NOVA de Lisboa

- 1983: Novo regulamento interno do IHMT

Artigo Original