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Intervenções sobre os SSS

Referindo-nos ao quadro lógico explicitado no Quadro 1,

verificamos que os temas lá identificados referentes ao finan-

ciamento e sustentabilidade dos SSS, à governação e gestão,

à avaliação e monitorização, a elementos estruturantes como

os recursos humanos e tecnológicos, à cobertura universal,

à orientação para a pessoa/cidadão e em relação à saúde em

todas as políticas são, todos eles, temas muito presentes nas

estratégias/PNS analisados, como no PNS português.

Nota-se uma preocupação com as questões de qualidade e

acreditação

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, o défice de competências de planeamento, ges-

tão e avaliação (Eslovénia [29] e Grécia [32]); com os CSP e,

com a função de

gate-keeping

dos médicos de família (Islândia

[35] e Estados da Europa do Leste [85]); com a articulação

dos serviços de internamento com o ambulatório; com os

cuidados continuados; com a assistência farmacêutica; com

o défice de recursos humanos (absoluto e relativo), com a

sua remuneração e com a regulação da sua atividade; com

as parcerias público-privadas e definição do papel do setor

privado; com as TIC e a

ehealth

; com a ação intersectorial; e

com o financiamento do SSS.

O valor económico da saúde

O valor económico da saúde e do setor de cuidados de saúde

começa a ser explicitamente reconhecido em muitos docu-

mentos de política e estratégia de saúde, não só da Comissão

Europeia [23], mas também de vários países europeus (Eslo-

váquia [30], Finlândia [48], Hungria [33], Inglaterra [40] e Is-

lândia [35]). No entanto, este reconhecimento não se reflete

nas reflexões sobre sustentabilidade dos SSS, em que a abor-

dagem económica é substituída por uma abordagem pura-

mente financeira. Nesta vertente mais económica realçamos

as estratégias da Hungria [33 ] e Polónia [36] que identificam

o turismo médico, como uma atividade a valorizar nos SSS

e da Islândia que leva em consideração os ciclos anuais de

turismo na sua estratégia de saúde. Também na Islândia foi

estudado o impacto económico do PNS e estimado que a

consecução das suas metas reduziria os custos da doença para

a sociedade em cerca de 7,5 15 milhões de coroas [35].

Discussão, conclusões e recomendações

Esta análise comparativa possibilita a identificação de mode-

los de PE utilizados nos países europeus da OCDE. Em com-

paração com os modelos observados, o modelo português é

um modelo pouco formalizado e pouco institucionalizado,

semelhante ao PE observado nos países tendencialmente be-

veredgianos, liderado pelo setor da saúde, com um grande

enfoque na doença, menos nos determinantes e ainda menos

no SSS, que tem sido visto como um campo de atuação mais

político que técnico.

A presente análise permite assim realçar diferentes tipos de

planeamento. Abel-Smith (1994) argumenta a necessidade

de fazer uma distinção entre o planeamento para a saúde em

seu sentido mais amplo e dos serviços de saúde numa visão

mais restrita. [86] O primeiro pressupõe o envolvimento de

todos os setores e todos os níveis de governo e da sociedade

civil. O segundo corresponde a uma visão muitas vezes po-

litizada e com preocupações mais imediatistas. Exemplos do

primeiro incluem a Islândia [35]. Do segundo realçamos a

Alemanha [36], Áustria [45] e Finlândia [47]. Apesar da ten-

tativa do poder político de chamar a si o planeamento dos

serviços de saúde os PNS de Portugal têm tentado abordar

o planeamento no seu sentido mais amplo incluindo num

mesmo documento, como na República Checa [66], as estra-

tégias para a saúde e para os SSS. A Irlanda [61] e Eslovénia

[56] são exemplos de países em que estas duas vertentes fi-

cam documentadas em documentos diferentes.

Torna-se possível verificar que os processos de planeamento

são complexos, contemplando ciclos (estratégias a 10 anos),

dentro de ciclos diversos (programas quinquenais para dia-

betes, por exemplo), no interior de outros ciclos (eleitorais)

e ciclos mais curtos e previsíveis (orçamento anual). Esta é

uma realidade generalizada e algumas publicações [27, 28]

realçam a necessidade de um melhor alinhamento destes ci-

clos. Na prática resulta que as orientações estratégicas para

o setor podem ser encontradas em documentos genéricos

de política nacional, em compromissos específicos de outros

setores e em compromissos específicos do setor da saúde.

Reconhece-se que o reforço do papel dos governos centrais

tem sido uma tendência frequente, correspondendo à ne-

cessidade de corrigir as desigualdades em saúde, aumentar a

capacidade de responder em tempo útil a diretivas europeias

e para compensar défices de competências mais ou menos

generalizados, geralmente mais marcantes à periferia. Veri-

ficam-se, no entanto, algumas experiências de municipaliza-

ção com interesse para Portugal.

Esta análise comparativa permite contextualizar os objetivos,

estratégias, instrumentos e mecanismos do PNS português

no âmbito das práticas e estratégias de saúde nos países euro-

peus da OCDE. O PNS português tem sido muito orientado

por prioridades com objetivos e metas para cada prioridade,

como a maioria dos PNS europeus. Algumas experiências

recentes de trabalhar com performance frameworks liga-

dos pelo PE a outcomes frameworks, pode contribuir para

inovar a forma como se planeia e torná-la mais eficiente e

instrumental como orientadora de estratégias regionais e

institucionais e como base dos processos de contratualização.

A presente análise reforça o modelo de uma estratégia apoia-

da por vários documentos estratégicos, táticos ou operacio-

nais: planos, programas, projetos, recomendações, normas,

etc. O reforço deste modelo passa pelo alinhamento dos

diversos documentos com a estratégia nacional, mantendo

a coerência e relevância de conteúdo, de procedimentos e

temporal. Por outro lado, identifica o reconhecimento cada

vez mais explícito do setor da saúde como um setor impor-

tante para garantir o crescimento económico. Isto reflete-se

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