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nível superior estudados esperavam auferir um rendimento
mensal de mais de 200 euros o que, no caso dos alunos de
nível médio, não era tão evidente. Em termos de planeamen-
to de recursos humanos da saúde, esta expectativa deve ser
tida em conta.
Foram encontrados dois perfis que discriminavam entre alu-
nos de enfermagem de nível médio e de nível superior. Os
alunos de nível superior eram do sexo masculino, esperavam
ganhar 200 euros por mês, esperavam trabalhar, simultanea-
mente, no setor público e no setor privado, na administração
central do sistema de saúde e tinham nascido fora da capital.
Já os alunos de nível médio eram mulheres que esperavam
auferir menos de 200 euros por mês, trabalhavam enquanto
estudavam e tinham nascido na capital.
A “associação” entre o nível de formação e o género pode re-
fletir a realidade da sociedade guineense em que os homens
ocupam, tradicionalmente, cargos de maior responsabilida-
de e têm salários superiores aos das mulheres. Esta tendência
também se verifica em STP.
Em relação ao local de nascimento, é possível que as mu-
lheres, que tradicionalmente têm menos oportunidades em
termos de educação, pelo facto de terem nascido na capital,
tenham tido um acesso facilitado à educação, podendo, as-
sim, estudar enfermagem.
O facto de as mulheres serem trabalhadoras estudantes tam-
bém reflete o contexto cultural da sociedade guineense onde
são as mulheres que sustentam o agregado familiar e a família
alargada.
AACM permitiu identificar, no caso da Guiné-Bissau, outros
dois perfis, que foram confirmados pelos dados de STP. Estes
perfis, apesar de não estarem ligados ao nível de formação,
devem ser tidos em conta uma vez que vão ao encontro de
muitos dos resultados dos estudos sobre retenção de profis-
sionais de saúde em zonas rurais e/ou remotas (11;12): os
alunos que tinham nascido fora da capital tencionavam traba-
lhar fora da capital, em cuidados de saúde primários e aque-
les que tinham nascido na capital pretendiam vir a trabalhar
na capital. Assim, ao planear a distribuição dos profissionais
de saúde, nomeadamente dos enfermeiros recém-formados,
deve ser tida em conta a origem destes. Por outro lado, se o
Ministério da Saúde pretender aumentar o número de enfer-
meiros em áreas rurais e remotas deve considerar recrutar,
para os cursos, alunos destas áreas.
O aumento no número de anos de formação dos enfermei-
ros e o tipo de diploma concedido no final (diploma de 3
anos de formação ou licenciatura) deve ser considerado num
contexto mais alargado – para além do Ministério da Educa-
ção, devem ser ouvidos o Ministério da Saúde, como princi-
pal empregador, e o Ministério das Finanças.
Os decisores,
stakeholders
e os políticos devem esperar que
enfermeiros com graus de formação diferentes tenham ex-
pectativas relativas à vida profissional futura muito diferen-
tes quer em termos de remuneração quer em termos de
tarefas ou responsabilidades. Devem também estar cientes
que se as expectativas não forem atingidas, os enfermeiros
recém-formados podem ficar insatisfeitos e desmotivados
com o seu trabalho. Profissionais desmotivados e insatisfei-
tos tendem a prestar cuidados de menor qualidade, a aban-
donar o trabalho, a profissão ou até mesmo o país. Assim,
ao pretender uma formação superior para os enfermeiros,
deve-se compreender as implicações futuras desta alteração
no sistema de saúde.
Os resultados do presente estudo podem estar enviesados
por dois motivos. Por um lado, a baixa taxa de resposta
dos alunos do curso médio da ENSP na Guiné Bissau, es-
pecialmente se se considerar que os não respondentes eram
maioritariamente de fora da capital, pode ter influenciado os
resultados relativamente às expectativas futuras em termos,
por exemplo, do local e setor pretendido de exercício profis-
sional e rendimento esperado. Vários estudos têm demons-
trado que os alunos de áreas remotas têm maior propensão
a trabalhar nessas áreas e nos cuidados de saúde primários
(11). Por outro lado, a elevada taxa de reprovação dos alunos
da ENSP pode ter excluído alunos que teriam outro tipo de
expectativas, provavelmente aqueles provenientes de zonas
remotas, com maiores dificuldades financeiras ou com maio-
res dificuldades de aprendizagem.
A taxa de reprovação está associada a maiores taxas de aban-
dono do curso (13); o abandono do curso nos anos anterio-
res pode ter afetado os resultados do grupo que conseguiu
chegar até ao último ano da formação e este efeito não foi
tido em linha de conta neste estudo.
Conclusões
A decisão de alterar a formação dos enfermeiros do nível médio
para o nível superior influencia as expectativas profissionais dos
alunos de enfermagem.Assim, este tipo de decisão deve estar ali-
nhada comos objetivos do sistema de saúde e as necessidades des-
te. Por outro lado, é impreterível ir ao encontro das expectativas
dos recém-formados de modo a evitar perda de profissionais. O
conhecimento das expectativas dos alunos de enfermagem pode
ser utilizada também como orientador para definição de políticas
de colocação de enfermeiros nas zonas rurais/ remotas.
Conflitos de interesse
Não existem conflitos de interesse a declarar
Agradecimentos
O estudo realizado na Guiné-Bissau fez parte da dissertação
de mestrado da autora Aida Seca, no âmbito do Mestrado em
Saúde e Desenvolvimento do Instituto de Higiene e Medicina
Tropical, orientada por Luís Velez Lapão e co-orientada por
Paulo Ferrinho.
Artigo Original