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A n a i s d o I HM T

tado Novo, para mostrar à comunidade internacional como

as colónias tinham sido integradas num Estado “pluriprovin-

cial” onde as populações “nativas” tinham igual tratamento ao

das populações da metrópole. A “missão do sono”, emerge

como um instrumento de propaganda, de uso político no

contexto das relações internacionais, num momento em que

a presença de Portugal em África estava sob contestação. A

sede em Bissau da “missão do sono”, era um ponto de visita

obrigatório a quem visitava á Província. Mostrar para revelar

o trabalho que se desenvolvia e demonstrar a importância da

presença portuguesa. Gilberto Freyre, embaixadores, jorna-

listas, passaram em visita pela missão (cf. Figura 11 e 12).

7. Conclusão

A fotografia na “missão do sono”,

emerge como mecanismo de poder

e domínio colonial, sobre um espa-

ço onde prolifera a doença tropi-

cal. Ilustram a voz da intervenção

e da investigação médica colonial,

exercida pela missão, exprimindo

a dualidade de uma realidade quase

a preto e branco: caos-ordem; do-

ença-higiene;

selvagem

-civilização;

nativos-europeus; periferia-centro.

Importa ir além da descrição sim-

ples da imagem. Importa desven-

dar os discursos, as narrativas, os

contextos e as estratégias coloniais,

produzidas em torno da doença do

sono, e que levaram ao disparo da

objectiva.

O uso da fotografia pela “missão do

sono”, ao serviço da propaganda da

sua acção, anula a distância entre a

Guiné e Metrópole e mesmo entre

a Guiné as outras colónias. A foto-

grafia contribuiu também, para a

construção de conhecimento cien-

tífico e para a circulação e intercâmbio de ideias, enquanto

instrumento inseparável do saber médico, que encontrava

a colónia como um verdadeiro laboratório. Colonizar sig-

nifica, poder dominar não só pelos recursos físicos e huma-

nos mas também o poder dominar simbolicamente com o

uso e recurso da Imagem, assim como pensar e falar sobre

os indivíduos e territórios além-mar, afirmando-se deste

modo, o poder colonial.

No Estado Novo, a ciência é expressão de um projecto e

argumento político, resultando daí, múltiplos discursos

e narrativas, mas também uma pulverização de imagens

representativas e legitimadoras da acção colonial. Neste

âmbito podemos considerar o con-

junto das fotografias produzidas

pela “missão do sono”. Neste âm-

bito permitam-se que enquadre a

difusão e circulação das Imagens da

acção médica da missão, dentro da

“metáfora da caverna” de Platão.

Imagens produzidas, como argu-

mento político em resposta a uma

conjectura internacional, com in-

tuito de justificar, fundamentar

e de ilustrar a missão e presença

Imagens que contribuem para um

“colonialismo de imprensa” [43],

no sentido que a sua circulação

contribui para edificar de consen-

sos sobre a questão colonial. Cada

fotografia testemunha cristaliza

determinado tempo, precisamente

por selecionar e fixar determinado

momento [44]. No seu conjunto,

estas fotografias enquanto sequên-

cia visual da acção da missão na

colónia ao longo do tempo, cons-

tróem uma sequência narrativa

que, complementar ao texto, tra-

duz a narrativa da política colonial.

O conjunto de fotografias traduz

uma evolução do olhar.

Fig. 11 -

Visita do Chefe de Estado General Craveiro Lopes,

às instalações da Missão de Estudo e Combate da Doença do

Sono (1955). BCGPVol. X (39): 527.

Fig. 12 -

Visita do Arquiduque de Otão de Habsburgo

(1963).Vol. XVIII (72): 662.