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primeiras a ficarem expostas à carga cumulativa de
desvantagens socioeconómicas, em conjunto com
possíveis experiências adversas durante o processo
de integração. Também em relação à saúde mental,
constata-se que a associação entre a existência de
doença mental e mau estado de saúde apenas surgiu
nas mulheres, o que sugere que estas estarão mais
sujeitas a pressões sociais e discriminatórias, com
potencial impacto na sua saúde mental.
Neste estudo, os determinantes sociais e
económicos revelaram-se fatores importantes na
explicação do estado de saúde, o que reforça a
pertinência de investir em políticas direcionadas
para redução das desigualdades socioeconómicas e
para promoção da integração dos imigrantes nos
países de acolhimento, com especial atenção para
os que se encontram em maior desvantagem, como
as mulheres.
Algumas limitações podem ser apontadas nesta
investigação. Uma está relacionada como processo
de amostragem. O recurso às redes sociais das
comunidades imigrantes para recolher a
informação pode resultar numa amostra de
inquiridos com características demográficas,
socioeconómicas e comportamentais que não
traduzem a realidade de uma população diversa.
Porém, os perfis sociodemográficos dos
participantes são coincidentes com os dados
existentes sobre a população imigrante emPortugal
(SEF, 2011), o que leva a equipa a estar confiante
de que a amostra obtida é suficientemente
heterogénea e que os resultados refletem a situação
de grande parte dos imigrantes a residir emLisboa.
Neste estudo, utilizou-se uma medida subjetiva do
estado de saúde; no entanto, os resultados
corroboram a evidência apresentada na literatura de
que o estado de saúde reportado é um indicador de
saúde válido. Por fim, outra limitação reside no
facto de as categorias utilizadas para identificar os
imigrantes por grupo de origem abrangerem uma
grande diversidade de subgrupos e, com isso,
poderem esconder diferenças potenciais em cada
grupo. Será importante, no futuro, realizar
investigações com maior número de participantes
de países ou regiões específicas de modo a permitir
efetuar análises mais precisas.
CONCLUSÕES
Os resultados deste estudo indicam que a
população imigrante apresenta níveis diferentes de
vulnerabilidade e necessidades em saúde. A
variação do estado de saúde entre grupos de
imigrantes e a influência das questões de género,
do contexto socioeconómico e dos fatores culturais
deve ser considerada no desenvolvimento de
esforços para melhoria da saúde destas populações.
Adicionalmente, a experiência de viver num país
diferente ao longo do tempo, adotando-se novos
comportamentos e estilos de vida, e o efeito
cumulativo de diferentes fatores na saúde dos
indivíduos, devem também ser tidos em conta para
delinear intervenções eficazes. Numa escala maior,
o contexto do país de acolhimento e as políticas de
integração e de saúde vigentes podem ter umpapel
preponderante na redução das desigualdades e
promoção da saúde das populações imigrantes.
AGRADECIMENTOS
Este estudo foi financiado pela Fundação para a
Ciência
e
a
Tecnologia
(IME/SAUESA/81760/2006).
Os
autores
agradecem a todas os participantes do estudo e aos
membros da equipa de projeto, especialmente a
António Carlos Silva, Helena Cargaleiro, Rosário
Horta, Miguel Lemos, Mário Carreira, Maria
Cortes e Violeta Alarcão.
CONFLITO DE INTERESSES
Os autores declaram não ter nenhum conflito de
interesses relativamente ao presente artigo.
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