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ANÁLISE COMPARATIVA DAS PERCEÇÕES DE IMIGRANTES E DE

PROFISSIONAIS DE SAÚDE SOBRE A PROCURA E A PRESTAÇÃO DE CUIDADOS

DE SAÚDE NAS POPULAÇÕES IMIGRANTES

SÓNIA DIAS (S.D.)

ANA GAMA (A.G.)

INÊS FRONTEIRA (I.F.)

Unidade de Saúde Pública Internacional e Bioestatística, Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT),

Universidade Nova de Lisboa. Rua da Junqueira Nº 100, 1349-008 Lisboa. Tel.: 213652600.

E-mail

:

SFDias@ihmt.unl.pt (

SD).

Centro de Malária e Outras Doenças Tropicais (CMDT) / IHMT.

RESUMO

Este estudo pretende descrever perceções de imigrantes e de

profissionais de saúde sobre a procura de cuidados de saúde e barreiras

na utilização dos serviços pelos imigrantes, procurando identificar

concordâncias e discrepâncias nas perceções dos dois grupos.

Desenvolveram-se dois estudos: um com aplicação de inquérito por

questionário a 1375 imigrantes selecionados por “bola-de-neve” e

outro com aplicação de um questionário de autopreenchimentoauma

amostra representativa de 320 profissionais dos serviços de cuidados

de saúde primários da região de Lisboa e Vale do Tejo. Efetuou-se

uma análise descritiva dos dados.

Os imigrantes e os profissionais divergem sobre os motivosquelevam

os imigrantes a procurar serviços de saúde e as dificuldades que

encontram. Ambos os grupos referem maioritariamente dificuldades

de nível individual (falta de recursos económicos e desconhecimento

dos imigrantes sobre o acesso à saúde). Porém, as dificuldades na

interação profissional-utente (dificuldades linguísticas, relacionadas

com falta de competências para lidar com os imigrantes) são mais

apontadas pelos imigrantes. Verificam-se ainda discrepâncias entre

médicos/enfermeiros e administrativos.

Este conhecimento pode contribuir para a identificação de

necessidades específicas e para a decisão informada no

desenvolvimento de políticas e estratégias que promovam o acessoe

utilização dos serviços e a adequação da prestação de cuidados aos

imigrantes.

SUMMARY

This study aims to describe and assess concordances and discrepancies

in the perceptions of immigrants and health workers on healthcare

seeking and barriers in services’ use by immigrant populations.

Two studies were conducted: one consisted of a questionnaire survey

applied to 1375 immigrants selected through snowball samplingand

the other entailed a self-administered questionnaire survey appliedto

a representative sample of 320 health workers from primary care

services from Lisbon and the Tagus Valley region. A descriptive

analysis of data was performed.

Immigrants and health workers diverge about the reasons that lead

immigrants to seek health services and the difficultiestheyencounter.

Both groups refer mostly difficulties at individual level (lack of

economic resources and of knowledge on access to healthcare).

Though, aspects related to health worker-user interaction (linguistic

difficulties, relatedwith lack of competencies to dealwithimmigrants)

were mainly referred by immigrants. Discrepancies in theperceptions

about barriers to healthcare were also found between doctors/nurses

and office workers.

This knowledge may contribute to identify specific needs and assist

informed decision-making in the development of policies and

strategies to promote access and utilization of health services and

adequate healthcare provision to immigrants.

INTRODUÇÃO

A migração é um fenómeno global presente na

realidade de grande parte dos países. Em Portugal,

as últimas décadas caracterizaram-se por alterações

progressivas nos movimentos migratórios. De

acordo comos dados mais recentes divulgados pelo

Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, no final de

2011 residiam, no país, 436822 cidadãos

estrangeiros - 25,5% proveniente do Brasil, 11% da

Ucrânia, 10,1% de Cabo-Verde, 9,0% da Roménia

e 4,9% de Angola (SEF, 2012).

As características da imigração e das próprias

populações imigrantes têm vindo a modificar-se,

levando a que o conhecimento das tendências

migratórias e do seu impacto nos países e

populações envolvidas constitua, atualmente, uma

preocupação da comunidade internacional (Peiro e

Benedict, 2009). Mais especificamente, reconhece-

se que a mobilidade das populações pode ter efeitos

diretos ou indiretos na saúde da população, em

geral, e das comunidades migrantes, em particular.

Embora os resultados da literatura não sejam

totalmente consensuais, esta aponta para que

alguns grupos de imigrantes tendam a apresentar

maior vulnerabilidade a determinadas doenças e

problemas de saúde (Braveman e Gruskin, 2003;

Nielsen e Krasnik, 2010).

Face à necessidade de maior compreensão da

complexa relação entre saúde e imigração, tem sido

notório o desenvolvimento da investigação nesta

área. Os resultados de múltiplos estudos

evidenciam que, de forma global, o estado de saúde

é condicionado por uma rede complexa de

determinantes interdependentes, nomeadamente

biológicos, comportamentais, socioeconómicos,

políticos e culturais, bem como fatores

relacionados com os sistemas de saúde (Davies

et

al.

, 2009; Dias

et al.

, no prelo; Peiro e Benedict,

2009; WHO, 2010). No contexto da migração,