CARDOSO, Sheila de Almeida (2010) Schistosomose urinária e
helmintoses intestinais: contribuição para o estudo clínico-
epidemiológico e da resposta imune humoral na comunidade
angolana: Província do Bengo (Ibéndua, Sungue e Úlua), Dissertação
de Mestrado em Ciências Biomédicas, IHMT, Lisboa.
Resumo:
A schistosomose urinária, causada por
Schistosoma haematobium
, é uma
parasitose endémica em Angola e responsável por lesões graves a nível do
aparelho urogenital. Contudo, poucos estudos têm sido efectuados com vista a um
melhor conhecimento da sua extensão e morbilidade, visando a implementação de
medidas de controlo necessárias e urgentes.
Neste estudo, objectivou-se avaliar a prevalência, morbilidade e factores
determinantes da infecção, bem como os níveis de informação e o perfil da resposta
imune humoral em indivíduos a partir dos cinco anos de idade. Pretendeu-se, ainda,
avaliar a prevalência de helmintoses intestinais e sua inter-relação com a
schistosomose.
De Março a Junho de 2009, 321 indivíduos, com idades compreendidas entre os 5 e
os 75 anos de idade (
X=
19,2±15,3), residentes nas aldeias de Ibéndua, Sungue e
Úlua, na província do Bengo, foram submetidos a um inquérito clínico-
epidemiológico.
A prevalência de
S. haematobium
, determinada pela observação de ovos utilizando
o método de filtração da urina, foi de 61,9% (197/318). A infecção foi predominante
no sexo feminino (61,9%), nos indivíduos dos 5-9 anos de idade (78,8%) e na aldeia
de Úlua (83,2%). A maioria apresentava uma carga parasitária pesada (média
geométrica 54,4±9,39 ovos/10 ml de urina), com diferenças estatisticamente
significativas entre as três aldeias (Kruskal-Wallis,
P
<0,001). No exame
macroscópico e teste da urina com tira reactiva, identificou-se macrohematúria em
23,4%, microhematúria em 64,8% e albuminúria patológica em 68,6% dos casos.
A sintomatologia mais referida pelos participantes foi a hematúria (45,6%), seguida
pela disúria e hipogastralgia (45,3% e 34,9%), respectivamente, as quais estavam
significativamente associados à infecção e a intensidade de parasitismo (χ2,
P
<0,001).
Nos exames coprológicos (Kato-Katz e Telemann-Lima), a prevalência de helmintas
intestinais foi de 50,4% (126/250).
Ascaris lumbricoides
foi a espécie mais
frequente, com 66,7% dos casos. Dos 126 com helmintas intestinais, 74 (58,7%)
estavam co-infectados com
S. haematobium
.
A análise da resposta imune humoral demonstrou, em relação à IgE, IgG1 e IgG4,
que o grupo etário dos 5-14 anos apresentava níveis séricos mais elevados
(Kruskal-Wallis,
P
=0,009,
P
=0,000 e
P
=0,006, respectivamente). Em relação ao
sexo, observou-se diferença, com significado estatístico apenas para a IgG1,
apresentando os indivíduos do sexo masculino níveis mais elevados deste anticorpo
(Mann-Whitney,
P
=0,009). Com respeito ao estado parasitológico, observaram-se
diferenças estatisticamente significativas em relação às IgE, IgG1 e IgG4 (Mann-