Table of Contents Table of Contents
Previous Page  58 / 119 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 58 / 119 Next Page
Page Background

S58

Artigo Original

Introdução

A situação de saúde no Brasil apresenta avanços re-

levantes no padrão de morbimortalidade decorrente

de transformações nos determinantes sociais da saú-

de e no sistema de saúde, de mudanças na estrutura

populacional e de câmbios no desenvolvimento social

e económico no país. Expressam esses avanços, por

exemplo, reduções significativas nas taxas de morta-

lidade infantil, principalmente, pós-neonatal; na taxa

de desnutrição em crianças menores de cinco anos,

com ênfase nos grupos de mais baixa renda e na Re-

gião Nordeste; na ocorrência das doenças imunopre-

veníveis associado à eficiência do programa de imuni-

zação e do fortalecimento da produção nacional de va-

cinas [1,2] e no aumento do acesso à atenção materna

- pré-natal, realização de procedimentos assistenciais

e parto hospitalar [3].

Entretanto, persistem desigualdades sociais da saúde

nas periferies dos centros urbanos, nas áreas rurais e

inter e intrarregionais atribuídas às condições de dis-

tribuição de riqueza, da estrutura de classes sociais, da

distribuição de renda; questões étnicas e de gênero;

urbanização acelerada com infraestrutura inadequada;

mudanças ambientais; ampliação de fronteiras agríco-

las; processos migratórios e grandes obras de infraes-

trutura que afetam a saúde e produzem iniquidades

na saúde No contexto atual, novas ameaças na Saúde

Pública como o Zika e a implementação de políticas

económicas de forte contenção de recursos para as

políticas públicas sociais (saúde, educação) podem

agravar as iniquidades em saúde [4,5].

Evidências demonstram que modificações significati-

vas dos padrões de morbimortalidade dependem do

desenvolvimento de contextos favoráveis de interação

entre o sistema de saúde e políticas económicas, so-

ciais e ambientes equânimes que promovam a equi-

dade do acesso ao sistema de saúde e a redução de

iniquidades sociais [6].

Nesse sentido, os sistemas nacionais de pesquisa em

saúde tem papel fundamental para demonstrar políti-

cas custo-efetivas de promoção da saúde e prevenção

das doenças e, de desenvolvimento e acesso a inova-

ções tecnologias visando a enfrentar as necessidades

de saúde de populações vulneráveis e as iniquidades

em saúde [7].

Esse estudo busca analisar a equidade nas colabora-

ções e parcerias interinstitucionais na política de pes-

quisa em saúde e inovação no Brasil. Especificamen-

te, propõe-se responder: como a equidade está sendo

considerada para a definição de necessidades de saúde

locais; como as prioridades de pesquisa são orienta-

das pelas necessidades de saúde e equidade (relevância

social); como os princípios de equidade na pesquisa

refletem (ou não) nas políticas de (co)financiamento;

como a equidade em saúde é considerada pelas pesqui-

sas financiadas; como a equidade está sendo utilizada

nas pesquisas financiadas.

As dimensões de análise baseiam-se na Iniciativa para

a Equidade na Pesquisa (Research Fairness Initiative

- RIF) elaborada pelo Cohred [8]. Entretanto, consi-

derando a literatura do campo de avaliação que re-

comenda definir aspectos prioritários de análise [9]

focaremos em 5 Eixos Centrais de Análise:

1) equidade, relevância social e prioridades de

pesquisa financiadas;

2) financiamento global e parcerias interinstitu-

cionais equitativas;

3) capacidade de gestão de pesquisa e do siste-

ma de inovação equitativos;

4) capacidades da apreciação ética na investiga-

ção;

5) promoção de questões societais.

A análise fundamenta-se nos Princípios para a Pesqui-

sa Global em Saúde, aplicados a políticas de financia-

mento [10] e da abordagem de sistema de pesquisa e

desenvolvimento em saúde equitativo [11]. Esse siste-

ma inclui, entre outros elementos, o financiamento da

pesquisa orientado por necessidades que aborda a car-

ga global da doença, os compromissos para comparti-

lhar os resultados da pesquisa e os compromissos para

tornar acessíveis os produtos finais da pesquisa.

Promover a equidade em saúde constitui-se um dos

princípios da política de pesquisa em saúde e inovação

no Brasil, assim como o respeito à vida e à dignida-

de das pessoas, e a melhoria da saúde da população

e perpassa explicitamente algumas das diretrizes e

estratégias desta política, por exemplo, a que consi-

dera a relevância social e económica para o avanço do

conhecimento e a aplicação dos resultados à solução

de problemas prioritários para a saúde, e a criação de

mecanismos para superação de desigualdades regio-

nais em ciência e tecnologia [12].

Levantamento inicial da literatura demonstra avanços,

dificuldades e desafios quanto à institucionalização e

fortalecimento desta política. Alguns dos temas de-

bruçam-se, por exemplo, sobre as diferenças na capa-

cidade de pesquisa regional e no financiamento a pes-

quisa. Porém, torna-se fundamental analisar a política

na perspetiva da equidade e propor recomendações

para superar os desequilíbrios no sistema de pesquisa

e inovação em saúde.

Destacamos os temas revisados:

1) o papel das instituições governamentais de

saúde no fortalecimento da capacidade de pes-

quisa, quer seja na definição de fluxos de finan-

ciamento, na colaboração e parcerias institucio-

nais com órgãos públicos de ciência e tecnologia