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S55

A n a i s d o I HM T

É certo que a sustentabilidade de um sistema de gestão do

conhecimento exige de toda a organização investimentos

significativos e implica grande esforço, bem como mudan-

ças de comportamento por um período de tempo signifi-

cativo. Princípios básicos como: estratégia, organização,

orçamento, comunidade de prática, tecnologia, incentivos

e medição - precisam ser postos em prática para que a orga-

nização esteja no bom caminho. [5,8,10,29].

Por outro lado, há várias dificuldades relatadas por Schle-

singer (2008) e por Gonzales e Martins (2015) para a im-

plantação deste sistema de gestão numa organização, tais

como: o pouco conhecimento dos processos básicos de ge-

renciamento da informação; a falta de recursos humanos e

financeiros; e a diferença de linguagens entre os diversos

setores organizacionais, numa emergência em Saúde Públi-

ca que precisam ser superadas, pela necessidade de resposta

rápida.

Tornaram-se facilidades, por exemplo, a Secretaria de Saú-

de ter um setor que lida com informação e sistemas de in-

formações, rotineiramente - aVigilância em Saúde - fazen-

do com que se encontrasse um lócus gerencial de imediato;

a criação de uma unidade de coordenação de vigilância da

SCZ, contribuindo com a aquisição de recursos humanos;

o uso da informação, transformando-a em ação, que é sem-

pre o grande desafio do conhecimento, se deu instantanea-

mente numa via de mão de dupla entre produtores e usuá-

rios do conhecimento.

Do ponto de vista gerencial, alguns eventos e inscrições

produzidos na epidemia de SCZ pareceram aumentar o

valor da GC [6]. Fatos como o de o conhecimento gerado

ter promovido a adoção de novas condutas clínicas e epide-

miológicas; ter provocado a adequação e ampliação dos ser-

viços de saúde, dando acesso ao cuidado de mais crianças;

ter possibilitado, com a descoberta da SCZ, a compreensão

de que as malformações congénitas têm a sua importância

no sistema de saúde; ter criado oportunidades para implan-

tação de uma vigilância e atenção à saúde das pessoas com

malformação congénita, ter sido compartilhado e utilizado

por diferentes países, instituições, gestores, profissionais

dos serviços de saúde, pesquisadores e imprensa, aumen-

taram o valor do conhecimento na Secretaria Estadual de

Saúde de PE.

No que se refere ao compartilhamento do conhecimento,

os quatro modos possíveis, delineados por Nonaka [1994),

puderam ser observados. Houve

socialização

, na medida

em que os profissionais dos serviços de referência e pesqui-

sadores se apropriavam do entendimento que os gestores

e técnicos que gerenciavam a informação tinham da epide-

mia, ao passo que os gestores e técnicos absorviam as vi-

vências dos profissionais das referências e dos pesquisadores

no campo. Essas vivências eram consideradas nas apresen-

tações, coletivas de imprensa e nos documentos elaborados

(

externalização

).Os documentos foramdivulgados para

os diversos públicos, que incorporaram o conhecimento às

suas ações e práticas (

internalização

). O envolvimento

de grupos diferentes na produção, sistematização, integra-

ção, comunicação e difusão do conhecimento contribuiu

com a

combinação.

Um evento inusitado foi a relação estabelecida entre o ser-

viço e a pesquisa. Foi praticado um novo modelo, não ape-

nas de transferência de conhecimento, mas de participação

ativa da gestão e dos profissionais de saúde no delineamen-

to e acompanhamentos das pesquisas. É bem provável que

a contingência aliada à escassez de conhecimento tenham

contribuído com os esforços alinhados a uma necessidade

comum. A instituição do MERG, grupo de pesquisas que

reúne pesquisadores e profissionais de saúde, pode ter sido

um exemplo de rede de inovação e desenvolvimento, que o

tempo irá dizer [29].

Apenas na capacidade de Desempenho do Conhecimen-

to/Inovação, o critério de Medição dos resultados e con-

sequências alcançadas pela reprodução do conhecimento

não foram identificados eventos e inscrições nas falas dos

entrevistados e documentos analisados.Todavia, uma etapa

essencial para saber se os investimentos e esforços bem-su-

cedidos valeram a pena e terão continuidade, é colocar em

prática um sistema para medir o seu progresso.A medição

contínua dos retornos e benefícios constitui um dos prin-

cipais desafios para a GC ser, de fato, implantada além da

cultura organizacional, comportamento humano e criação

de um contexto de aprendizagem permanente [5,29,30].

Embora os eventos e inscrições produzidos na epidemia de

SCZ tenham atendido aos pressupostos da cadeia de valor

da GC, é necessário que haja mudanças na gestão, no pro-

cesso de trabalho e na cultura organizacional para a implan-

tação da GC de forma mais concreta, para não se incorrer

no risco de achar que novas tecnologias da informação e

um conjunto de ferramentas e métodos gerenciais são sufi-

cientes para manter a GC.O primeiro passo é pensar numa

estratégia de motivação e facilitação, no sentido dos traba-

lhadores desenvolverem, aprimorarem e usarem sua capa-

cidade de interpretação de dados e informações utilizando

fontes de informação disponíveis, experiência, habilidades,

cultura, caráter, personalidade e sentimentos, através de

um processo de o que significação da GC [9,10].

Apesar das consonâncias encontradas entre as ações de

resposta à epidemia de SCZ e a cadeia de valor da GC, há

limitações no estágio do conhecimento atual nas decisões

e práticas. Muitas questões serão resolvidas e respondidas

com as pesquisas em andamento que tratam: da interrup-

ção da ação do vírus na gestante; da efetividade da vacina

contra o vírus zika; dos achados tardios (sequelas auditivas,

cognitivas e visuais); da compreensão sobre todo o espectro

clinico do vírus zika (síndrome congénita, quadro clínico

inaparente, quadros leves e moderados, síndrome adquiri-

da, síndromes neurológicas, óbitos); do desenvolvimento

de novas técnicas de diagnóstico do vírus zika e da SCZ; da

produção de novas medicações. As pesquisas do ponto de