Table of Contents Table of Contents
Previous Page  10 / 108 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 10 / 108 Next Page
Page Background

S8

Artigo Original

ção e divulgação cada vez maiores da língua portuguesa.

Mas o que representa hoje esta organização e qual o seu

poder funcional no contexto das relações internacionais?

A este propósito, considera a teoria que o poder funcio-

nal está frequentemente na posse dos pequenos Estados

e que se traduz pela detenção de uma situação geográfica

estratégica, acesso a fontes de minerais raros e fontes de

energia como o petróleo, elementos que são indispensá-

veis ao funcionamento dos sistemas internacionais e que,

portanto, também dão aos seus detentores a capacidade

de “disfuncionar” tais sistemas.

E como pode a cooperação em contexto da CPLP contri-

buir para tal desiderato?

O vigor evidenciado pelo pilar da cooperação que, no

último biénio, alargou o leque das suas intervenções e

se harmonizou de forma crescente com as prioridades

de desenvolvimento dos Estados membros, deu cumpri-

mento à declaração constitutiva da CPLP. Tal dinamismo

é evidenciado pela realização de 15 reuniões ministeriais

setoriais em diferentes domínios de intervenção.

Efetivamente, os últimos anos de execução do Plano In-

dicativo de Cooperação da CPLP (PIC) parecem demons-

trar uma dinâmica positiva e um reforço da importância

estratégica associada ao pilar de cooperação enquanto

instrumento operacional e de diálogo político no seio

da Comunidade. Esta dinâmica parece ser acompanhada

pela crescente visibilidade e reconhecimento do papel da

CPLP em domínios de cooperação como a saúde, segu-

rança alimentar e nutricional, trabalho e assuntos sociais

(designadamente no domínio do trabalho infantil), direi-

tos humanos e energia. No entanto, nota-se que os pro-

gressos registados foram assimétricos quer ao nível das

áreas técnicas, quer no que respeita à apropriação e re-

forço da responsabilidade conjunta dos Estados membros

da CPLP quanto à agenda e instrumentos comunitários

aprovados.

Apesar do amadurecimento da capacidade de intervenção

dos Pontos Focais de Cooperação (PFC), será necessária

uma maior estabilização dos mecanismos de coordenação,

articulação e harmonização de agendas com os pontos fo-

cais das reuniões ministeriais setoriais e, consequente, li-

gação aos respetivos Secretariados Técnicos Permanentes

(StP). O esforço de diálogo a promover em sede de reu-

niões ministeriais setoriais, do Comité de Concertação

Permanente, da reunião dos Pontos Focais de Cooperação

e do Secretariado Executivo da CPLP deverá ser, simulta-

neamente, um desafio e um objetivo estratégico.

O último semestre de 2015 foi claramente marcado pela

aprovação, em setembro, em Nova Iorque, da “Agenda

2030 para o desenvolvimento sustentável – transforman-

do o nosso mundo”, no âmbito da 70ª Assembleia Geral

das Nações Unidas (AGNU), demonstrando um compro-

misso político impar para a erradicação da pobreza extre-

ma, em todas as suas formas e dimensões, até 2030. Neste

sentido, o ano de 2015 ficará na história como o ano da

definição dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentá-

vel. Trata-se de uma nova agenda de ação que se baseia

nos progressos e lições aprendidas com os 8 objetivos de

desenvolvimento do milénio, entre 2000 e 2015.

Como se sabe, esta agenda global é fruto do trabalho

conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo para

criar um novo modelo global para acabar com a pobreza,

promover a prosperidade e o bem-estar de todos,

proteger o ambiente e combater as alterações climáticas.

A aprovação do documento “Cooperação na CPLP - Uma

visão estratégica no pós 2015”, em julho de 2015, de-

monstrou o amadurecimento do debate sobre as dinâmi-

cas de cooperação da Comunidade e um importante es-

forço de coordenação e concertação num cenário que irá

exigir a identificação de novas modalidades de atuação e

fontes de recursos.

A opção da CPLP em atuar com base em Planos Estratégi-

cos de Cooperação Setorial em domínios altamente rele-

vantes para o processo de desenvolvimento sustentável da

Comunidade, de que as áreas da saúde, do ambiente, dos

oceanos e da segurança alimentar e nutricional são apenas

escassos exemplos, permitiu consolidar a imagem de uma

CPLP moderna, credível e procurada de forma crescente

para o estabelecimento de parcerias internacionais que se

pretendem virtuosas. Daqui têm resultado ganhos, ainda

não completamente explorados, que podem ser potencia-

dos para uma afirmação decisiva do potencial geopolítico

e geoestratégico da Comunidade.

A título meramente ilustrativo, refira-se o caso da inter-

venção da CPLP na área da saúde e segurança alimentar e

nutricional, setores em que a organização é apresentada

por instituições como o Banco Mundial e a FAO como um

exemplo de boas práticas e com capacidade progressiva

de influência da agenda internacional.

As novas áreas de cooperação para o futuro vão, também,

seguramente, conferir à CPLP um reforço do seu dina-

mismo e capacidade de influência das agendas nacionais

e internacionais dos próximos anos. O potencial de coo-

peração inerente a setores como a energia, os oceanos,

a juventude, os direitos humanos, a educação para a ci-

dadania e o desenvolvimento e a segurança alimentar e

nutricional, aliados a práticas inovadoras de cooperação

triangular, se corretamente enquadrados e observados

permitirão conferir à CPLP a dimensão de ator multilate-

ral que todos ambicionamos.

Porém, em todo este quadro, existe um desafio incon-

tornável! A CPLP terá que continuar a apostar, de forma

empenhada e comprometida, num esforço de capacitação

institucional e valorização do seu potencial humano. Só

assim será possível dar substância aos desafios que nos in-

terpelam a olhar para o futuro.

A temática ligada à saúde, enquanto vetor estruturante

do processo de desenvolvimento dos nossos Estados

Editorial Co vidado