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monetária pela introdução de técnicas agrícolas mais pro-

gressivas; divulgação de culturas de rendimento animadoras

de mercado; assistência técnica intensiva; estímulo à institui-

ção de associações de base corporativa ou cooperativa asse-

gurando uma comercialização perfeita; o fomento pecuário;

e a promoção social pelo ensino profissional; incremento ao

artesanato; melhoria das condições sanitárias; aumento da

taxa de escolarização e a valorização da mulher.

Não obstante as intenções das autoridades portuguesas,

como Allen e Barbara Isaacman salientaram em

Dams, Dis-

placement, and the Delusion of Development. Cahora Bassa and Its

Legacies in Mozambique, 1965–2007

, os deslocados raramente

evocaram “images of prosperity or progress. Instead, Cahora

Bassa evokes memories of forcible eviction from historic ho-

melands, of concentration in crowded resettlement camps,

and of unpredictable discharges of water that destroyed their

crops and flooded their fields.” [27:4]

Porém, não se confirma na análise dos trabalhos aqui apre-

sentada que as “deleterious social and ecological consequen-

ces of this massive state-imposed project never figured in

the political calculus of colonial planners” [27:5]. Bem pelo

contrário, a noção que se tinha dessas consequências levou a

vários estudos, nomeadamente hidrobiológicos, sobre infes-

tantes aquáticas e a pesca [28,29,30]. Assim como, foi estu-

dado e planeado detalhadamente o deslocamento das popu-

lações, atendendo às suas culturas próprias e modos de vida

[24,25], bem como dos animais [26].

Donde retiram os cientistas portuguesas essa “noção”? Como

eles próprios afirmam, da obra da FAO, atrás referida.

3.2.

Man-made lakes: planning and development

No verso da capa, à guisa de legenda da foto-

grafia nela utilizada (Fig.1), está escrito que as

barragens podem criar mais problemas do que

aqueles que resolvem. “Human and other natural

resource problems created by dams will not go

away if they are ignored; they can, however, be

minimized or solved advantageously when early

thinking produce timely and sound action.”[2]

Nesta obra se afirma que a construção de grande

lagos artificiais muda as formas de vida existentes,

os “patterns of disease, and creates conditions in

which the risk of explosive outbreaks of infections

may be high” [2:19]. Naquela altura, assumia-se

que os problemas criados pelo homem, resultantes

de alterações significativas do meio ambiente, não

podiam ainda ser bem definidos, mas que deviam

seguramente ser “fully recognized”, nomeadamente

porque a prevenção e o controlo de muitas infeções

associadas aos grandes lagos artificiais exigiam um

esforço considerável. Cada projeto teria as suas espe-

cificidades e, assim, apresentaria problemas próprios,

mas uma regra fundamental devia ser seguida em todos,

pelos consultores em saúde pública, biologia e saneamen-

to, desde o estádio mais precoce do projeto de uma nova

albufeira, isto é, fornecer orientação em estudos que pudes-

sem prever infeções provocadas por insetos e caracóis. Por

outro lado, “human populations are altered, and problems

are created by significant population movements from one

area to another. Since their parasites travel with people, an

awareness of the resulting spread of infections is required.”

[2:19]

Estas palavras denotam com clareza que as barragens mu-

dam as formas de vida das populações e os padrões das doen-

ças, assim como criam condições que podem desencadear

surtos infeciosos. E, ainda que os problemas de saúde que

estas transformações do ambiente geravam não pudessem

ainda ser totalmente definidos, eles deviam ser plenamente

reconhecidos. Portanto, a prevenção e controlo de muitas

infeções que pudessem estar associados aos lagos artificiais

requeriam um esforço considerável de investimento so-

cioeconómico na educação, na investigação científica e na

reconversão das atividades de exploração e de produção das

comunidades atingidas.

Por isso, a obra foi escrita com o propósito de ser um guia

“for use in the earliest stages of planning a man-made lake

to minimize human stress and maximize the overall social

and economic achievement through timely consideration of

secondary aspects” [2: vii]. E, embora a Comissão, contraria-

mente ao que era sugerido, estivesse a trabalhar num estádio

tardio do planeamento da barragem de Cabora Bassa, não

poderia deixar de seguir as orientações emanadas pelo orga-

Fig. 1:

Capa da obra Man-made lakes: planning and development…[2]

Medicina tropical e ambiente