182
e Povoamento do Vale do Zambeze (1967-1970), quanto o
trabalho da Comissão Orientadora da Investigação Científica
na área a inundar pela albufeira de Cabora Bassa, a partir
de 1969, que abordaram as questões do impacto ecológico
daí decorrentes na saúde mental e física das populações afe-
tadas pela obra mais ambiciosa do colonialismo português
tardio.
Com a análise dos documentos produzidos por aquelas equi-
pas de trabalho, pretendeu-se levantar a hipótese de que, por
essa via, tenha sido aberto o caminho à introdução da Medi-
cina Ambiental em Portugal, isto é, a abordagem dos proble-
mas de saúde pública causados pelas alterações significativas
no meio ambiente, nomeadamente agravando aqueles que
eram objeto da medicina tropical.
Tendo tido o presente artigo um carácter eminentemente
exploratório, sugere-se que em estudos futuros, se tente ve-
rificar: primeiro, a dimensão da implementação dos estudos
preconizados pela Comissão; e, segundo, se o trabalho da-
queles técnicos e cientistas portugueses abriu, efetivamente,
o caminho para uma das atuais “linhas transversais” de in-
vestigação do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, as
“Doenças Emergentes e Alterações Ambientais”. E, assim, a
Medicina Ambiental ter sido introduzida em Portugal, atra-
vés da MedicinaTropical. Na verdade, os estudos de impacto
ambiental provocados por empreendimentos hidroelétricos
só viriam a ser realizados em Portugal continental no fim dos
anos 80 do século XX [31].
Bibliografia
1. Falcão A, Amaral I, Cinatti R,Valdez V, Ramos M (1970). Bases para o Estabe-
lecimento do Programa Geral da Comissão Orientadora da Investigação Científica
na Área a Inundar pela Albufeira de Cabora Bassa. Lisboa, Arquivo Histórico Ul-
tramarino.
2. Lagler KF (coord.) (1969). Man-made lakes: planning and development. United
Nations development Programme. Rome, Food and Agriculture Organization of
the United Nations.
3. Valle, Cd (1953). História da Assistência ao Indígena no Ultramar Português.
Lisboa.AnInst MedTrop 4: 2551-2557.
4.Abranches P (2014). O Instituto de Higiene e MedicinaTropical. Um Século de
História 1902-2002. Lisboa, Ordem dos Médicos.
5. Bastos C, Barreto R (coord.) (2011).A Circulação do Conhecimento: Medicina,
Redes e Impérios. Lisboa, ICS.
6. Havik PJ. Saúde Pública, microbiologia e a experiência colonial: o combate à
malária na África Ocidental (1850-1915). In: Bastos C, Barreto R (coord.) (2011)
A Circulação do Conhecimento: Medicina, Redes e Impérios. Lisboa, ICS-online
:
375-416.
7. Bastos C. Palácios, Palhotas e Pedras Recicladas: Materialidade da Assistência
Médica Colonial. In: Diogo MP, Amaral I (coord.) (2012). A outra face do Império.
Ciência, tecnologia e medicina (sécs. XIX-XX). Lisboa, Edições Colibri
:
163-182.
8. Amaral I. A Medicina Tropical e o Império Português em África: Diálogo en-
tre Política, Ciência e Misticismo (1887-1935). In: Diogo MP, Amaral I (coord.)
(2012). A outra face do Império. Ciência, tecnologia e medicina (sécs. XIX-XX).
Lisboa, Edições Colibri
:
131-147.
9. Lobo AR (2012).A História da Malária em Portugal naTransição do Século XIX
para o Século XX e a Contribuição da Escola de MedicinaTropical de Lisboa (1902-
1935).Tese de doutoramento. Universidade Nova de Lisboa, Portugal.
10. Ribeiro
P.AsMissões Médicas nas Colónias Portuguesas: Expectativas e Reper-
cussões na MedicinaTropical (1902-1935). In: Diogo MP,Amaral I (coord.) (2012).
A outra face do Império. Ciência, tecnologia e medicina (sécs. XIX-XX). Lisboa,
Edições Colibri
:
149-162.
11. Castro R (2013).A Escola de MedicinaTropical de Lisboa e a Afirmação do Es-
tado Português nas Colónias Africanas.Tese de doutoramento. Universidade Nova
de Lisboa, Portugal.
12. Shapiro M (1983). Medicine in the Service of Colonialism: Medical care in
Portuguese Africa, 1885-1974. Doctoral thesis. Los Angeles, University of Cali-
fornia, USA.
13. Havik P (2015). Da Intervenção Colonial até à Cooperação Internacional: a Evo-
lução Histórica do IHMT desde 1945. Consultado em 12 de outubro de 2015. In:
http://eventos.fct.unl.pt/sites/default/files/conghmt/files/philip_havik-pt.pdf14. Headrick D (1981).Tools of Empire:Technology and European Imperialism in
the Nineteenth Century. NewYork, Oxford University Press.
15.American Association of Environmental Medicine. Consultado em 12 de outu-
bro de 2015. In:
https://www.aaemonline.org/16. Cueto Rodríguez A (2015). Derecho internacional y política colonial: Portugal
entre la negación de los principios y la “implementación” de las recomendaciones
(1945-1974). Pensar con la Historia desde el Siglo XXI. XII Congreso de la Asocia-
ción de Historia Contemporánea [Actas del XII Congreso]. Madrid, Universidade
Autonoma de Madrid: 2709-2727.
17. Showers KB (2012). Electrifying Africa:An Environmental History with Policy
Implications. Geografiska Annaler: Series B: Human Geography: 193-221.
18. Castelo C. Developing ‘Portuguese Africa’ in late colonialism: confronting dis-
courses. In: Hodge J, Hödl G, Kopf M (coord.) (2014). Developing Africa Con-
cepts and practices in twentieth-century colonialism. Manchester and NewYork,
Manchester University Press
:
63-86.
19. Moreno BF (1969). Os Aproveitamentos Hídricos naValorização do Ultramar.
XIV Curso de Estudos Ultramarinos da Mocidade Portuguesa. Mocidade Portugue-
sa. Lisboa,Tipografia Silva.
20. Fontes FC, Coutinho JdA, Casanova LM. Plano Geral do Zambeze. In: Quin-
tela AdC, Portel MM (coord) (2004).AlbertoAbecassis Manzanares e a Engenharia
Hidráulica em Portugal. Lisboa, Instituto Superior Técnico Departamento de En-
genharia Civil e Arquitectura
:
99-128.
21. Portuguesa H (1962). Bacia do Zambeze. Fomento e ocupação. Esquema geral.
Estudos económico-sociais. Desenvolvimento económico. Programação. Ministé-
rio do Ultramar. Província de Moçambique. Missão de Fomento e Povoamento do
Zambeze.
22. Lopes R. A Participação da República Federal da Alemanha na Construção
da Barragem de Cabora Bassa: Implicações Políticas e Económicas. In: Clara F
(coord.)(2009). Outros horizontes. Encontros luso-alemães em contextos colo-
niais. Lisboa, Colibri
:
93-109.
23. Cernea MM. Disaster-Related Refugee Flows and Development-Caused Po-
pulation Displacement. In: Cernea MM, Guggenheim S (coord.) (1993). Anthro-
pological Approaches to Resettlement: Policy, Practice and Theory. Boulder, CO,
Westview Press
:
375-402.
24. Zambeze MdFePd (1967). Esquema Básico da Brigada para o Próximo Ano.
(Proposta). Brigada de Estudos Económico-Sociais. In: Zambeze MdFePd (1967-
1970). Reordenamento das populações das áreas a inundar pela albufeira de Cabora
Bassa. Lisboa,Arquivo Histórico Ultramarino.
25. Zambeze MdFePd (1970). Memorando. Programa de Deslocações. In: Zambe-
ze MdFePd (1967-1970). Reordenamento das populações das áreas a inundar pela
albufeira de Cabora Bassa. Lisboa,Arquivo Histórico Ultramarino.
26. Zambeze GP (1972). Cabora Bassa: Operação de Salvamento e encaminhamen-
to da Fauna. Lisboa,Arquivo Histórico Ultramarino.
27. Isaacman AF, Isaacman BS (2013). Dams, Displacement, and the Delusion of
Development. Cahora Bassa and Its Legacies in Mozambique, 1965–2007.Athens,
Ohio, Ohio University Press.
28. Loxton Hunting Associates RF (1975). Estudo e controlo das infestantes aquá-
ticas em Cabora Bassa - Relatório final. Lisboa: Gabinete do Plano do Zambeze.
29. Jackson PBN (1973). Relatório Provisório sobre o Desenvolvimento de uma
Indústria de Pescas em Cabora Bassa. Lisboa, Gabinete do Plano do Zambeze.
30. Jackson PBN (1975). Relatório Sobre o Plano de Desenvolvimento para a In-
dústria Piscatória em Cabora Bassa. Lisboa, Gabinete de Plano do Zambeze.
31. Fernandes JC (1989). Principais Impactes Ambientais de Aproveitamentos Hi-
droeléctricos, Direcção Geral de Recursos Naturais, Lisboa.
Medicina tropical e ambiente