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A n a i s d o I HM T
pécies
An. gambiae
e
An. coluzzii
estão entre os vectores de
malária mais eficientes em África, sendo que o isolamento
reprodutivo destas espécies parece estar comprometido na
Guiné-Bissau, com elevadas taxas de hibridação entre as duas
espécies. Esta situação fornece uma oportunidade única para
estudar o processo de especiação recente entre as duas es-
pécies e determinar o impacto do fluxo génico interespe-
cífico na evolução da resistência aos insecticidas. Cerca de
700 fêmeas de oito localidades foram genotipadas (19 mi-
crossatélites). As frequências genotípicas foram utilizadas
em análises de estrutura populacional. Os mosquitos foram
ainda genotipados para os marcadores associados à resistên-
cia a inseticidas piretróides-organoclorados e carbamatos-
-organofosfatos, respetivamente. Desta análise, resultou a
identificação de um cluster genético correspondente a
An.
coluzzii
, predominante na região central do país.
An. gam-
biae
apresentou dois clusters distintos: um da região litoral,
caracterizado por elevados níveis de introgressão genética
com
An. coluzzii
e ausência de mutações associadas à resis-
tência aos inseticidas; outro na região interior, com elevada
frequência da mutação
kdr
L1014F e presença da mutação
ace-1
G119S, ambas associadas à resistência a inseticidas. Em
conclusão, o palesterante demostrou a existência de fluxo
génico entre
An.coluzzii
e
An. gambiae
na região litoral da
Guiné Bissau, tendo apontado restrições ao fluxo genético
entre populações de
An. gambiae
do litoral e do interior do
país. Estas restrições parecem limitar a dispersão de genes de
resistência aos inseticidas nesta espécie.
Na terceira apresentação da sessão, Renato Pinheiro-Silva
(IHMT) apresentou o seu trabalho sobre comparação trans-
criptómica das glândulas salivares de
Anopheles gambiae
e
An.
stephensi
após infeção com
Plasmodium berghei
, através de se-
quenciação de RNA com recurso à tecnologia de Illumina.
Após infeção com
P. berghei
, cerca de 2600 genes de
Anophe-
les
mostraram diferenças de expressão. Destes, apenas 600
genes eram comuns em ambas as espécies, com 250 genes
sobreexpressos e 25 subexpressos, e os restantes a terem
diferentes e não concordantes níveis de expressão entre as
duas espécies. A classificação destes transcritos diferencial-
mente expressos em termos de função mostrou que havia
um predomínio significativo de genes relacionados com o
metabolismo e transporte.
Maria Lina Antunes (IHMT) foi a oradora seguinte com uma
apresentação subordinada ao tema
"Perfil clínico de ma-
lária grave na UCI em Luanda".
A malária grave asso-
ciada à infeção por
P. falciparum
permanece a principal cau-
sa de morbilidade e mortalidade em Angola. Foi efectuado
um estudo prospetivo observacional em doentes internados
na Unidade de Cuidados Intensivos de adultos do Hospital
Américo Boavida, Luanda entre 2011 e 2013.Todos os doen-
tes (101) receberam quinino e clindamicina e beneficiaram
de suporte de vida com técnicas invasivas de acordo com a
gravidade das disfunções. As disfunções de órgãos mais fre-
quentes foram a hematológicas (anemia e trombocitopenia)
e cerebrais (agitação psicomotora e coma), 25% dos doentes
apresentava disfunção em 4 órgãos. A mortalidade global foi
de 16,8%, inferior à estimada pelo SOFA score (Sequential
Organ Faillure Assessment), e ocorreu nos três primeiros
dias. Deste estudo concluiu-se que a parasitemia não teria
influenciado o resultado final da doença e que a instituição
precoce de suporte avançado de vida foi importante para a
sobrevivência observada, que foi superior à estimada pelo
SOFA score.
Na quinta apresentação da sessão, Lis Lobo (IHMT) apresen-
tou o trabalho sobre
"Avaliação da actividade antima-
lárica
in vitro
e
in vivo
de endoperóxidos".
A OMS
recomenda terapias combinadas com derivados de artemisi-
nina para o tratamento da malária não complicada por
P.falci-
parum
. Porém, a recente confirmação de casos de falência te-
rapêutica à artemisinina e a ausência de opções terapêuticas
disponíveis impõem o desenvolvimento de novos fármacos.
Este grupo de investigadores desenvolveu uma biblioteca de
endoperóxidos sintéticos que foi avaliada quanto à atividade
antimalárica: (i) em estirpes de
P. falciparum
sensíveis e resis-
tentes aos derivados da artemisinina; (ii) em modelo muri-
no; e (iii) citotoxicidade em linhas celulares de mamíferos.
Dada a variabilidade estrutural da biblioteca dos compostos
selecionados, este estudo preliminar permitirá extrair infor-
mações relevantes para nova investigação.
A sessão de apresentações livres foi encerrada por Mónica
Guerra (IHMT) com a apresentação:
"Polimorfismos na
região promotora do gene TPI1: -5G>A e -8G>A,
em diferentes grupos clínicos de malária de Angola
e Moçambique".
De um ponto de vista evolutivo, a infe-
ção malárica é um fenómeno recente com cerca de 10 000
anos, com pressão seletiva no genoma humano contribuin-
do para a seleção de polimorfismos que propiciam aumento
da resistência ao parasita
Plasmodium sp
. Vários estudos têm
demonstrado uma elevada incidência de heterozigóticos
para a deficiência emTPI1 em indivíduos de origem africa-
na, nomeadamente ao nível dos polimorfismos do promo-
tor do gene -5A>G, -8G>A, -24T>G. Neste estudo, dois
grupos populacionais de indivíduos infetados foram geno-
tipados para as variantes do promotor do gene TPI1 e para
o polimorfismo 2262 situado no intrão 5. Nas populações
estudadas, 47% e 53% dos indivíduos de Angola e Moçam-
bique, respetivamente, apresentam variações polimórficas
na região promotora do gene. Estimou-se a antiguidade des-
tes polimorfismos pela análise de microssatélites adjacentes
ao gene TPI1,
loci
CAG e ATN1 em ambas as populações. A
mutação -5A será mais antiga que a mutação -8A, com uma
idade estimada de aproximadamente 35 000 anos em ambas
as populações. A variante -8A terá surgido em 2 haplótipos
diferentes, sugerindo eventos mutacionais independentes. O
primeiro evento mutacional terá ocorrido no haplótipo an-
cestral (-5G) há 20 800 anos na região de África Oriental,
e o segundo evento mutacional no haplótipo -5A, há 7 500
anos na região de África Ocidental. A idade estimada para