Table of Contents Table of Contents
Previous Page  55 / 138 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 55 / 138 Next Page
Page Background

55

A n a i s d o I HM T

pécies

An. gambiae

e

An. coluzzii

estão entre os vectores de

malária mais eficientes em África, sendo que o isolamento

reprodutivo destas espécies parece estar comprometido na

Guiné-Bissau, com elevadas taxas de hibridação entre as duas

espécies. Esta situação fornece uma oportunidade única para

estudar o processo de especiação recente entre as duas es-

pécies e determinar o impacto do fluxo génico interespe-

cífico na evolução da resistência aos insecticidas. Cerca de

700 fêmeas de oito localidades foram genotipadas (19 mi-

crossatélites). As frequências genotípicas foram utilizadas

em análises de estrutura populacional. Os mosquitos foram

ainda genotipados para os marcadores associados à resistên-

cia a inseticidas piretróides-organoclorados e carbamatos-

-organofosfatos, respetivamente. Desta análise, resultou a

identificação de um cluster genético correspondente a

An.

coluzzii

, predominante na região central do país.

An. gam-

biae

apresentou dois clusters distintos: um da região litoral,

caracterizado por elevados níveis de introgressão genética

com

An. coluzzii

e ausência de mutações associadas à resis-

tência aos inseticidas; outro na região interior, com elevada

frequência da mutação

kdr

L1014F e presença da mutação

ace-1

G119S, ambas associadas à resistência a inseticidas. Em

conclusão, o palesterante demostrou a existência de fluxo

génico entre

An.coluzzii

e

An. gambiae

na região litoral da

Guiné Bissau, tendo apontado restrições ao fluxo genético

entre populações de

An. gambiae

do litoral e do interior do

país. Estas restrições parecem limitar a dispersão de genes de

resistência aos inseticidas nesta espécie.

Na terceira apresentação da sessão, Renato Pinheiro-Silva

(IHMT) apresentou o seu trabalho sobre comparação trans-

criptómica das glândulas salivares de

Anopheles gambiae

e

An.

stephensi

após infeção com

Plasmodium berghei

, através de se-

quenciação de RNA com recurso à tecnologia de Illumina.

Após infeção com

P. berghei

, cerca de 2600 genes de

Anophe-

les

mostraram diferenças de expressão. Destes, apenas 600

genes eram comuns em ambas as espécies, com 250 genes

sobreexpressos e 25 subexpressos, e os restantes a terem

diferentes e não concordantes níveis de expressão entre as

duas espécies. A classificação destes transcritos diferencial-

mente expressos em termos de função mostrou que havia

um predomínio significativo de genes relacionados com o

metabolismo e transporte.

Maria Lina Antunes (IHMT) foi a oradora seguinte com uma

apresentação subordinada ao tema

"Perfil clínico de ma-

lária grave na UCI em Luanda".

A malária grave asso-

ciada à infeção por

P. falciparum

permanece a principal cau-

sa de morbilidade e mortalidade em Angola. Foi efectuado

um estudo prospetivo observacional em doentes internados

na Unidade de Cuidados Intensivos de adultos do Hospital

Américo Boavida, Luanda entre 2011 e 2013.Todos os doen-

tes (101) receberam quinino e clindamicina e beneficiaram

de suporte de vida com técnicas invasivas de acordo com a

gravidade das disfunções. As disfunções de órgãos mais fre-

quentes foram a hematológicas (anemia e trombocitopenia)

e cerebrais (agitação psicomotora e coma), 25% dos doentes

apresentava disfunção em 4 órgãos. A mortalidade global foi

de 16,8%, inferior à estimada pelo SOFA score (Sequential

Organ Faillure Assessment), e ocorreu nos três primeiros

dias. Deste estudo concluiu-se que a parasitemia não teria

influenciado o resultado final da doença e que a instituição

precoce de suporte avançado de vida foi importante para a

sobrevivência observada, que foi superior à estimada pelo

SOFA score.

Na quinta apresentação da sessão, Lis Lobo (IHMT) apresen-

tou o trabalho sobre

"Avaliação da actividade antima-

lárica

in vitro

e

in vivo

de endoperóxidos".

A OMS

recomenda terapias combinadas com derivados de artemisi-

nina para o tratamento da malária não complicada por

P.falci-

parum

. Porém, a recente confirmação de casos de falência te-

rapêutica à artemisinina e a ausência de opções terapêuticas

disponíveis impõem o desenvolvimento de novos fármacos.

Este grupo de investigadores desenvolveu uma biblioteca de

endoperóxidos sintéticos que foi avaliada quanto à atividade

antimalárica: (i) em estirpes de

P. falciparum

sensíveis e resis-

tentes aos derivados da artemisinina; (ii) em modelo muri-

no; e (iii) citotoxicidade em linhas celulares de mamíferos.

Dada a variabilidade estrutural da biblioteca dos compostos

selecionados, este estudo preliminar permitirá extrair infor-

mações relevantes para nova investigação.

A sessão de apresentações livres foi encerrada por Mónica

Guerra (IHMT) com a apresentação:

"Polimorfismos na

região promotora do gene TPI1: -5G>A e -8G>A,

em diferentes grupos clínicos de malária de Angola

e Moçambique".

De um ponto de vista evolutivo, a infe-

ção malárica é um fenómeno recente com cerca de 10 000

anos, com pressão seletiva no genoma humano contribuin-

do para a seleção de polimorfismos que propiciam aumento

da resistência ao parasita

Plasmodium sp

. Vários estudos têm

demonstrado uma elevada incidência de heterozigóticos

para a deficiência emTPI1 em indivíduos de origem africa-

na, nomeadamente ao nível dos polimorfismos do promo-

tor do gene -5A>G, -8G>A, -24T>G. Neste estudo, dois

grupos populacionais de indivíduos infetados foram geno-

tipados para as variantes do promotor do gene TPI1 e para

o polimorfismo 2262 situado no intrão 5. Nas populações

estudadas, 47% e 53% dos indivíduos de Angola e Moçam-

bique, respetivamente, apresentam variações polimórficas

na região promotora do gene. Estimou-se a antiguidade des-

tes polimorfismos pela análise de microssatélites adjacentes

ao gene TPI1,

loci

CAG e ATN1 em ambas as populações. A

mutação -5A será mais antiga que a mutação -8A, com uma

idade estimada de aproximadamente 35 000 anos em ambas

as populações. A variante -8A terá surgido em 2 haplótipos

diferentes, sugerindo eventos mutacionais independentes. O

primeiro evento mutacional terá ocorrido no haplótipo an-

cestral (-5G) há 20 800 anos na região de África Oriental,

e o segundo evento mutacional no haplótipo -5A, há 7 500

anos na região de África Ocidental. A idade estimada para