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tetar material genético do parasita, em pêlo de rato infetado,
embora necessite de uma avaliação posterior da eficicácia.
Dado que esta nova metodologia ainda não foi testada em
humanos, o palestrante efetuou um convite a solicitar par-
cerias com institutos de investigação e hospitais de regiões
endémicas, que pretendam fazer parte deste estudo.
Na mesa redonda, coordenada por Jorge Atouguia (Profes-
sor aposentado do IHMT) e com moderação de Filomeno
Fortes, o médico da Organização Mundial de Saúde (OMS),
Genebra, Père Simarro proferiu uma palestra dedicada à
doença do sono. Nesta sessão foram descritos alguns dos
objetivos da OMS com vista a ajudar e coordenar ativida-
des de modo a centrar as sinergias entre os diversos países
afetados pela Tripanossomose Humana Africana (THA); fo-
ram identificados por diversas datas aumentos do número de
casos de THA, entre 1940-2013, contudo observou-se um
decréscimo nos últimos anos; foram apontados alguns dos
desafios na eliminação da doença causada por
Trypanosoma
brucei gambiense
(como por exemplo, a baixa participação da
população em risco durante as campanhas móveis de mo-
nitorização); foram, ainda, apontadas algumas técnicas pen-
dentes, assim como indicadores na eliminação de
T. brucei
gambiense
. Durante a apresentação foi referido o Programa
Contra a Tripanossomose Africana (PAAT), que teve início
em 2008, e inclui o mapeamento através do Sistema de In-
formação Geográfico (GIS), dos casos de tripanossomose,
reportados desde 2000. Entre 2000-2012 foram mapeados
cerca de 181,866 casos dos 196,667 casos que tinham sido
notificados. O palestrante encerrou a sessão deixando uma
mensagem positiva: "
A tarefa de eliminação da Tripanossomose
Humana Africana continua:o resultado final parece não estar longe,
não esquecendo porém que não será fácil.
"
Josenando Theóphile (ICCT/MINSA, Angola) abordou o
cenário e medidas de controlo da doença do Sono em An-
gola:
"Doença do sono em Angola: da calamidade
ao controlo rumo a eliminação."
A sessão iniciou-se
com a referência às duas espécies de
T. brucei
causadoras de
doença e à presença de glossinas em 14 províncias deste país,
afirmando também que cerca de 1/3 da população angolana
encontra-se em risco de contrair esta infeção. Durante a sua
apresentação fez alusão a aspetos históricos (1901-1974) da
luta travada contra a doença do sono, citando várias perso-
nalidades que se destacaram durante este processo, como o
Dr. Aníbal Bettencourt e Dr. Pinto da Fonseca. Referiu que
a luta contra esta doença foi considerada um caso de sucesso
ao nível de Saúde Pública, durante a época colonial. Con-
tudo, após este período e mais especificamente em 1974,
tinham sido apenas diagnosticados três novos casos e 95
doentes controlados. A reorganização da luta contra aTripa-
nossomose só foi possível após 1978, tendo sido verificado
um aumento de novos casos de doença associados a diversos
fatores entre os quais a guerra e a redução do acesso aos fo-
cos da doença, tendo sido declarado o estado de calamidade
pública em 1997. J. Theóphile terminou fazendo referên-
cia aos diversos institutos de combate à doença do sono,
que entretanto foram criados, entre os quais o Instituto de
Combate e Controlo da Tripanossomose (ICCT), em 2000,
cuja visão futura passa por "
uma Angola livre de Tripanossomose
Humana Africana
" e cuja missão "é combater e controlar a
doença do sono, mobilizando e usando racionalmente os re-
cursos, formando os recursos humanos adequados e incenti-
vando a investigação científica da doença do sono e de outras
doenças parasitárias."
O Professor Jorge Seixas (IHMT) proferiu uma palestra du-
rante a qual foram abordados outros aspetos da doença do
sono: parasita, vetor (ecossistemas), quadros clínicos no Ho-
mem e em animais (que gera um forte impacto económico),
fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. Foram ainda apre-
sentados pelo palestrante alguns casos clínicos de Tripanos-
somose Humana Africana.
Jorge Varanda (Professor na Univ. Coimbra) encerrou esta
mesa redonda com a apresentação
"Tripanossomíase
humana africana em Angola: Programas coloniais,
Acções e respostas populacionais contemporâneas
e perspectivas futuras para a eliminação"
na qual fo-
ram abordados os programas coloniais e contemporâneos
bem como as perspectivas para a eliminação da tripanos-
somose humana africana em Angola. Entre outros fatores
foram discutidos: aspetos da doença do sono e o projecto
colonial moderno; a medicina colonial e a saúde global; a tri-
panossomose africana entre 1949-2013 e os diversos fatores
associados às variações observadas no número de casos; diag-
nóstico colonial
vs
diagnóstico contemporâneo e a necessida-
de da inclusão de um teste sensível e específico sem recorrer
a metodologia invasiva (punção lombar); e ainda discutidos
aspetos da natureza dos programas de Saúde Pública – luta
anti-vetorial. O palestrante concluiu a sessão fazendo refe-
rência aos objetivos da eliminação da doença, entre os quais
se destacam a diagonalização de campanhas verticais (inte-
gração de sistemas de saúde locais), a produção de um novo
medicamento e a tentativa de coesão das políticas de saúde
(global, nacional e local).
Na tarde do 1ºdia de Congresso teve lugar uma sessão de
apresentações livres, com moderação da Professora Isabel
Maurício (IHMT) e do Investigador Marcelo Silva (IHMT),
na qual o foco principal foi a
doença de Chagas
. A sessão
teve início com a apresentação de um caso clínico de uma
criança diagnosticada com doença de Chagas que evoluiu
para cardiopatia crónica, apresentado por Jorge de Oliveira
Guerra. Este caso apresentava um vínculo epidemiológico a
um surto ocorrido em Manaus nos anos 2006/2007, mui-
to provavelmente associado a transmissão oral por meio de
sumo de açaí contaminado. De seguida, Elenild Costa (Univ.
Federal de S. Paulo, Brasil), proferiu duas palestras sobre
o estudo conduzido relativo à importância do triatomíneo
Rhodnius pictides
na cadeia de transmissão da doença de Cha-
gas no Estado do Pará, nomeadamente na contaminação do
fruto açaí; e sobre a implementação e resultados obtidos no
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