51
A n a i s d o I HM T
plano de vigilância desta patologia no estado do Pará. A in-
vestigadora dissertou sobre a importância da integração das
autoridades políticas com instituições de saúde, educação e
agrícolas para um maior controlo da transmissão desta pa-
tologia, que na maior parte dos casos (cerca de 70%) é via
oral, por meio de alimentos contaminados (principalmente
açaí).Apresentou ainda o fluxograma de vigilância com uma
proposta de nova estratificação de áreas de risco de doença
de Chagas no estado do Pará e a implementação de um novo
processo de higienização do açaí para prevenção da trans-
missão oral do parasita. Outra apresentação nesta temática
foi proferida pela Investigadora Maria Guerra (Fundação
Med.Trop. Heitor Vieira Dourado, Brasil) que dissertou so-
bre a estratégia de alerta da população rural e periurbana
de Manaus sobre a doença, o vetor e modos de transmissão.
A sessão prosseguiu com a apresentação de Joana Monteiro
(IHMT) que relatou os seus resultados no estudo bioquímico
de metaloproteinases de várias espécies de tripanossomatí-
deos, como potenciais alvos terapêuticos e, por conseguinte,
importantes no desenho de novas estratégias profiláticas e
terapêuticas. A última palestra da sessão foi proferida pelo
Investigador Jorge Magalhães (Fundação Oswaldo Cruz),
tendo incidido sobre o relevante papel que a análise "Big
Data" pode ter na monitorização de informação bibliomé-
trica na área da saúde e na identificação de informação es-
sencial.
O segundo dia de Congresso iniciou-se com a palestra
"Dé-
cadas de rastreios culicideológicos: o que pode-
mos aprender?"
,
proferida pelo Professor Paulo Almeida
(IHMT). Nesta sessão foram revistos 40 anos de estudos de
culicídeos efetuados em Portugal, pelos investigadores do
IHMT. As espécies de mosquitos dominantes em Portugal
ao longo dos vários anos foram:
Anopheles atroparvus, Culex
pipiens, Culex theleri e Aedes caspius.
A distribuição e abundân-
cia das espécies dependem principalmente da localização
geográfica, do coberto vegetal e do método de colheita. As
alterações climáticas preconizam o aumento de mosquitos
vetores de infeções. Prevê-se uma baixa probabilidade no
ressurgimento da malária, mas alguma suscetibilidade na
ocorrência de casos de infeção pelo vírus West Nile. O pa-
lestrante fez ainda referência à necessidade de mais estudos
com componente de deteção remota. Foram pontos-chave
na apresentação de P.Almeida
:
a ocorrência deWest Nile ví-
rus em 2004; estudos entomológicos longitudinais efetuados
na Comporta, Alqueva e Algarve; as alterações climáticas e
a vigilância de mosquitos vetores de dirofilariose canina.
O presidente da Federação Internacional da Sociedade de
Medicina Tropical, Cláudio Daniel-Ribeiro e o Diretor do
IHMT, Paulo Ferrinho presidiram à sessão "
Aspectos epi-
demiológicos de algumas parasitoses em diferentes
contextos
", que teve como objetivos debater temas como
as infeções por trematodos de origem alimentar, a resistência
a antimaláricos em Angola e Moçambique e o atual panora-
ma da malária no Brasil.
Iniciou esta sessão temática o Professor Santiago Mas-Coma
(Univ.Valência, Espanha) proferindo a palestra
"O Roteiro
2015-2020 do programa Doenças Negligenciadas da
OMS com ênfase em infecções por trematodos de
origem alimentar"
na qual foram discutidos aspetos do
Programa previsto para o período 2015-2020 (marcos e al-
vos; planos de ação; estado global do progresso na aplicação
de quimioterapia preventiva). No contexto destas doenças
foram realçadas as infeções de origem alimentar assim como
os problemas associados a diversas mudanças: alterações cli-
máticas (incluindo aquecimento global) e alterações globais
(modificações antropogénicas do ambiente). Diferentes ti-
pos de estratégias de seleção: organismos K e R (incluem os
helmintas). Ao contrário dos K, os organismos R, caracteri-
zam-se por serem espécies com um curto tempo geracional
e elevadas taxas de crescimento populacional o que lhes con-
fere maior capacidade de resposta às alterações climáticas. S.
Mas-Coma abordou o impacto das alterações climáticas na
fasciolose humana assim como noutras helmintoses, referin-
do que são as mulheres e crianças os grupos populacionais
mais afetados por estas infeções. Indicação de regiões endé-
micas de fasciolose humana e dificuldades associadas ao com-
bate da infeção. O palestrante referiu um surto de fasciolose
humana e animal ocorrido no Paquistão em 2011, ilustrando
como as alterações climáticas e globais influenciaram o risco
de fasciolose na província de Phujab. Os dois picos de trans-
missão observados neste caso verificaram-se estar associados
a diferentes tipos de alterações: um associado à época natural
das chuvas, e o outro associado à introdução de mecanismos
de irrigação artificial na região, tendo com este exemplo,
concluindo a apresentação.
A Investigadora
Fátima Nogueira (IHMT) prosseguiu a ses-
são com a palestra
"Marcadores moleculares de resis-
tência aos antimaláricos, antes e depois da introdu-
ção dos compostos ACT (Artemisinin-based Com-
bination Therapy) em Angola e Moçambique"
, na
qual abordou entre outros aspetos a dispersão dos parasitas
resistentes aos fármacos, a vantagem da utilização dos mar-
cadores moleculares de resistência na avaliação da dispersão
e os regimes de ACTs adotados nos países endémicos de ma-
lária. Foi feita referência à seleção do haplótipo
pfmdr
1 pelos
fármacos atuais ACTs. Foram ainda citados diversos estudos
nesta área temática efetuados emAngola e Moçambique.
A palestra
"A malária no Brasil: o que se passa fora
da Amazónia?"
proferida por Cláudio Daniel-Ribeiro en-
cerrou esta sessão temática. Durante a discussão foram refe-
ridos aspetos históricos da malária e transmissão no Brasil.
Plasmodium vivax
é o parasita responsável por cerca de 84%
dos casos de infeção, sendo o vetor mais comum da espécie
Anopheles nyssorynchus
. Dos 142,795 casos de malária notifi-
cados em 2014, 142,260 foram na região Amazónica (região
cobre 60% de área do território do país e 13% da popula-
ção) e 534 na região extra-amazónica (região onde habita
87% da população). Existência de dois perfis de malária na