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No âmbito do 3º Congresso Nacional de Medicina Tropi-

cal, a 20 de Abril de 2015 realizou-se uma mesa redonda

sobre Doença do Sono, com coordenação de Jorge Atou-

guia, moderada por Jorge Atouguia e Filomeno Fortes,

e com a participação de Père Simarro (OMS, Genève),

Théophile Josenando (Instituto de Combate e Controlo

das Tripanossomíases, Angola), Jorge Seixas (IHMT, Por-

tugal) e Jorge Varanda (U. Coimbra, Portugal).

Os temas abordados pelos palestrantes abrangeram a qua-

se totalidade do problema, cobrindo a história, sociologia

e antropologia da THA em Angola (J. Varanda), os aspectos

clínicos, diagnósticos e da terapêutica da doença (J. Seixas),

as mais recentes medidas para controlo e eliminação, ao ní-

vel de um país endémico,Angola (J.Théophile) e ao nível da

instituição de suporte e supervisão técnica – a Organização

Mundial de Saúde (Père Simarro)

A doença do sono e os seus componentes antropológicos, so-

ciológicos e históricos emAngola, abordada pelo Prof. Jorge

Varanda, é um estudo com vários anos de duração, e que, na

sua essência, nos transmite um conhecimento extremamen-

te importante: é na organização e estrutura da sociedade e

comunidades, e na organização, estrutura e estratégias das

antigas missões de combate que ainda hoje podemos extrair

conclusões e orientações de grande valia para os atuais pro-

gramas de controlo e eliminação. O desafio atual nos países

endémicos onde a incidência baixou significativamente nas

últimas duas décadas passa por utilizar os ensinamentos do

passado para produzir mensagens adequadas para evitar que

a doença do sono volte a cair no esquecimento das popula-

ções e na negligência dos programas de controlo.

Têm igualmente grande importância os aspetos clínicos da

doença do sono, expostos pelo Prof. Jorge Seixas. A clínica

da doença do sono está praticamente inalterada ao nível

da sua semiologia desde as grandes descrições dos médi-

cos das primeiras décadas do século XX (alguns deles in-

fetados, e que morreram por THA), passando pelas poucas

evoluções ao nível do diagnóstico, sem grandes novidades

técnicas, sobretudo nos métodos utilizados pelas equipas

no terreno desde as últimas décadas do século XX, e ter-

minando na evolução histórica das diferentes abordagens

terapêuticas, que está definida na atual recomendação para

a utilização da combinação de fármacos para tratamento

da doença neurológica – nifurtimox e eflornitina combi-

nadas (NECT) (

T. b. gambiense

) e melarsoprol (

T. b. rhode-

siense

) (mantendo-se as indicações, no tratamento da fase

hemolinfática, da pentamidina (

T.b. gambiense

) e suramina

(

T.b. rhodesiense

). A perspetiva a curto prazo (os ensaios de

fase III b deverão estar concluídos até 2016) de um novo

fármaco oral capaz de tratar indiferentemente tanto a fase

neurológica como hemolinfática da doença por

T. b. gam-

biense

surge como um verdadeiro progresso, e reflete o en-

gajamento do meio académico, da indústria farmacêutica

e de fundações financiadoras, congregadas em parcerias

público privadas (ex: DNDi).

O exemplo de Angola como país endémico paraTripanos-

somose Gambiense (e com uma pequena área geográfica,

no sudeste, de transmissão de

T.b. rhodesiense

), foi dado

pelo Prof. JosenandoThéophile, Director do ICCT. A his-

tória da luta e controlo da doença do sono foi referida em

profundidade, desde a Missão de Luta do regime colonial

português, que obteve excelentes resultados – em 1974,

ano da independência de Angola, apenas tinham sido de-

tetados 3 novos casos, num universo de cerca de 500 000

pessoas estudadas – passando pelos graves problemas no

controlo da infeção após a independência - em 1997, por

exemplo, tinham sido detetados 6610 novos casos, num

universo de apenas 154 700 pessoas testadas, chegando

até ao momento atual, com pouco mais de uma dezena

de novos casos diagnosticados por ano (embora quase que

exclusivamente por deteção passiva – a deteção ativa, por

dificuldades logísticas e financeiras, é feita apenas duran-

te, em média, um mês por cada ano). Em Angola, os hos-

pitais exclusivamente dedicados à doença do sono estão

vazios. Alguns deles estão a ser recuperados e a ser utili-

zados para os cuidados de saúde primários ou para proje-

tos ligados à Saúde e à Educação. Serão estes os primeiros

indícios da eliminação? Como prosseguir os esforços face

a um orçamento negativamente influenciado pela descida

do número de casos?

A posição da OMS tem igualmente o objetivo firme da er-

radicação da Doença do Sono por

T.b. gambiense

. O Dr. Pere

Centro de Diagnóstico eTratamento de Doença do Sono, Uíge,

Angola em 2002

Centro de Diagnóstico eTratamento de Doença do Sono,

N'dalatando, Angola em 2002

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