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Introdução

O mundo encontra-se em um momento desafiador. Os

fenómenos ambientais que antes eram considerados re-

gionais ou restritos a determinadas áreas geográficas pas-

saram a influenciar e gerar consequências mundiais. Na

mesma lógica do encadeamento de reações, intercorrên-

cias nos setores económicos, políticos, sociais e de saúde

que ocorrem num país ecoam em outros. Nesse contexto,

por vezes paradoxal, as instituições de ensino e de pes-

quisa buscam a cooperação internacional para o aprimo-

ramento da qualidade e eficiência, tanto na formação de

recursos humanos quanto na otimização de investigações.

As estratégias e ações traçadas pelas instituições promo-

vem a mobilidade académica e profissional, contribuindo

em diversas áreas para prevenir ou, pelo menos, amenizar

os efeitos devastadores de alguns fenómenos negativos

sobre a sociedade.

As redes formadas pelos docentes e investigadores geram

disseminação de informações, o intercâmbio de expe-

riências e o desenvolvimento de conhecimento técnico,

científico, tecnológico e cultural. A mundialização, na via

da formação do ser humano, fortalece a construção do

conhecimento e a presença no cenário internacional das

instituições que desenvolvem ensino e pesquisa de exce-

lência contribuindo, desta forma, com a socialização de

saberes sem os limites das fronteiras geopolíticas.

Na via da preservação do patrimnio cultural, esse flu-

xo produtivo de informações e de saberes constituídos

pelas redes de ensino e investigação, torna-se uma im-

portante ferramenta de salvaguarda da nossa existência

enquanto civilização. O acervo recebido dos antepassados

ajuda a conhecer a nossa história e evidencia os valores

que caracterizam o grupo ao qual pertencemos. O de-

saparecimento dos re-

ferenciais mais signifi-

cativos de um grupo

ou de um espaço, tais

como marcos arqui-

tetónicos, paisagens,

objetos, documentos

e manifestações cultu-

rais, faz com que o in-

divíduo perca a iden-

tificação com o meio

onde habita e com a

sua própria história

(Sanglard,

2008).

No segmento da saú-

de, a experiência de

valorizar e preservar

sua memória é desa-

fiadora, dado o seu

caráter multifacetado

e multidimensional. Ele envolve o sofrimento individual

e coletivo, além das expetativas de cada indivíduo diante

do tempo, da vida e do mundo. Da mesma forma, envolve

as lutas e as conquistas coletivas na direção de melhores

condições de existência, mas também de desaires. Assim,

é imprescindível promover os meios para a expressão cul-

tural, o registro, a preservação, a difusão e a atualização

permanente dessa experiência histórica comum. Ela deve

ser valorizada como componente fundamental nos pro-

cessos de formação dos trabalhadores da saúde, da hu-

manização dos serviços, de gestão coletiva e de controle

social.

O desafio posto é da formação de recursos humanos,

capaz de implementar ações de preservação e de valo-

rização do património cultural de forma mais ampla, e

da saúde, em seu aspeto mais específico, a partir de uma

visão interdisciplinar que agregue os saberes e técnicas

de restauro e conservação; critérios de recolha, seleção e

preservação; associando a investigação científica-tecnoló-

gica à salvaguarda, além do objeto cultural, da sua histo-

ricidade. Segundo Froner (2014):

"[...] Hoje, o profissional deve questionar o desempenho

dos procedimentos caso a caso e ajustar percentuais, ma-

teriais e metodologias conforme a complexidade do tra-

balho; esse mesmo profissional deve dialogar de maneira

sistemática com profissionais de outras áreas e, por meio

da interdisciplinaridade, encontrar mecanismos cada vez

mais seguros para sua prática; tem por princípio de for-

mação a compreensão dos paradigmas conceituais que va-

lidam a área e suas transformações no campo da teoria do

conhecimento." (p.11)

A experiência doravante apresentada retrata uma propos-

ta inovadora de qualificação de profissionais da área de

património cultural por envolver, de forma simultânea,

três países que com-

partilham dos mesmos

laços históricos – Bra-

sil, Portugal e Cabo

Verde –, a organiza-

ção e sistematização

das informações para

acesso, tanto do acadé-

mico quanto do leigo,

em formato que facili-

tasse a identificação e

a compreensão das di-

mensões histórica e da

memória da saúde em

diferentes ambientes

por meio de seus bens

edificados e acervos

de natureza diversa.

A proposta do Curso

Internacional de Pre-

Pavilhão Mourisco. Também conhecido como Castelo da Fiocruz, este edifício é um

singular exemplar arquitetónico inspirado na arte hispano-muçulmana. Sua construção

está inserida no contexto do ecletismo do início do século 20. Projetado pelo arquiteto

Luiz Moraes Junior, o edifício começou a ser erguido em 1905 e foi concluído em 1918.

(foto: André Az).

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