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Regressemos a Portugal
Zeferino Falcão (1856 - 1924), que foi o relator da lepra
no referido Congresso de Lisboa, em 1906, identificou
quatro passos para erradicar a doença: o censo da popu-
lação enferma; o ensino da leprologia; o isolamento dos
doentes, sendo que os indigentes deveriam ficar confinados
em aldeias de leprosos; a necessidade de instruir o povo
com as noções de higiene, de contágio e de hereditariedade
da lepra.
De facto, em Portugal, pelo
fim do século XIX, início do
XX, houve o receio de que
a lepra estava a aumentar.
Em 1930, o Ministério do
Interior português nomeou
uma comissão para o estu-
do da lepra, que apurou a
existência de 1.127 casos da
doença no país. Em 1934,
no 1º Congresso da União
Nacional, Bissaya Barreto,
enunciara o seu projeto po-
lítico para uma medicina
social, definindo como es-
tratégias: "1) A despistagem
dos doentes; 2) Medidas de
saneamento, que defendam
o indivíduo são do contagio-
so, que permitam habitações
salubres e higiénicas e que
se promovam desinfeções; 3) A educação
das famílias; 4) A assistência aos doentes,
às famílias e aos filhos, sob todos os aspe-
tos", o que muito o aproxima dos enun-
ciados anteriores, de Zeferino Falcão.
No mesmo programa Bissaya Barreto
defendia a ideia de que "o médico
social tinha também de pensar
no valor social dos seus doentes
e proceder como educador, seja
fazer a assistência física, intelectual
e moral, além da medicina - "
assistir-
-educando
e
educar-tratando
" era o lema. Na
revista
A Saúde
, Bissaya Barreto deu também
início à campanha intitulada "Pelos Leprosos,
Contra a Lepra", alertando para a necessidade
de um plano articulado. Sonhava com a cons-
trução de uma leprosaria distinta das prisões
medievais, mas que fosse uma comunidade
aprazível e harmoniosa, um modelo assente na
filosofia dos dispensários, com espaço públi-
co de atendimento médico que procederia à
identificação da doença e um asilo-colónia, que segregaria
os doentes e lhes dava trabalho e educação: A família, o
trabalho e a ruralidade constituíam-se assim como a matriz
para o tratamento da lepra (Cruz, 2009).
Em 1947, foi inaugurado o Hospital-Colónia daTocha, para
leprosos, instalado numa propriedade agrícola, a Quinta
da Fonte Quente, no concelho de Cantanhede, perto de
Coimbra. Foi um importante projeto do Estado Novo, se-
guindo o modelo de Bissaya Barreto e financiado por um
legado que José Rovisco Pais deixara aos HCL. O projeto
Fig. 9:
Facies e mão em garra da lepra, Modelos em cera.
Museu IHMT ( IHMT 0000028, IHMT0000029)
Fig. 10:
Hospital Colónia Rovisco Pais
História