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O Curso Internacional
em Preservação e Gestão
do Património Cultural da Saúde
A criação de um curso de extensão internacional, capaz de
reunir experiência de ambas as instituições, surge como parte
das atividades previstas no acordo de cooperação entre a COC
e a UNL.Aos poucos, a proposta ganhou uma dimensão maior
ao ampliar sua área de abrangência para os países lusófonos da
África, em especial CaboVerde. Com o amadurecimento das
negociações entre os investigadores da COC e da UNL, nasce-
ram duas propostas de curso de extensão – Curso Internacio-
nal em História da MedicinaTropical
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e o Curso Internacional
em Preservação e Gestão do Património Cultural das Ciências
e da Saúde.
Esses cursos contribuiriam para a formação de recursos hu-
manos a partir de conceções e contextos específicos de cada
país envolvido, além de estreitar e enriquecer as relações cien-
tíficas entre os investigadores brasileiros e portugueses. Sua
realização, pela UNL, ocorria por intermédio da Faculdade
de Ciências e Tecnologia (FCT) e do Instituto de Higiene e
MedicinaTropical (IHMT), respetivamente. Na COC, os cur-
sos envolveriam, principalmente, os investigadores do Pro-
grama de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde
(PPGHCS) e dos Departamentos de Património Histórico
(DPH) e de Arquivo e Documentação (DAD).
A proposta do Curso de Extensão em Preservação e Gestão
do Património Cultural da Saúde teria como objetivo a quali-
ficação de profissionais e estudantes, de diferentes formações,
para atuarem nas atividades de identificação, valorização, con-
servação, organização e difusão de acervos de instituições de
ciências e saúde no Brasil, em Portugal e em CaboVerde
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.
O curso visava tornar-se um espaço de formação e de inves-
tigação a partir da interação de alunos e investigadores, com
ações de apoio ao desenvolvimento e aprimoramento de
quadros de profissionais nos países envolvidos. Essa iniciativa
buscava, essencialmente, contextualizar a área de património
cultural como espaço de ensino e investigação em uma pers-
pectiva interdisciplinar global. Uma iniciativa da COC e do
IHMT no processo de consolidação e institucionalização do
património cultural da saúde em diferentes contextos históri-
cos, científicos, culturais e políticos.
Para cumprir os objetivos traçados pelos investigadores das
duas instituições, um modelo didático-pedagógico, doravante
apresentado, foi desenvolvido para atender o desafio de per-
mitir que públicos em continentes distintos pudessem intera-
gir em tempo real (simultaneamente), como se todos estives-
sem na mesma sala de aula física. O modelo deveria viabilizar:
a) interação total entre alunos e docentes para facilitar o pro-
cesso de ensino e aprendizagem pela via de diálogo direto com
interação dos colegas, de demonstrações práticas, de apresen-
tação de situações concretas vividas e das soluções encontradas
com discussão de possíveis alternativas, de experiências, vi-
vências, hipóteses teóricas, debates e trocas de experiências/
vivências (docente-aluno/aluno-aluno);
b) a participação de alunos e docentes, com funções em luga-
res diversos, dentro ou fora dos três países participantes e das
instituições promotoras do Curso;
c) realizar o curso entre os meses de outubro e março, consi-
derando o calendário académico do Brasil, de Portugal e Cabo
Verde, bem como a diferença dos fusos horários;
d) o acesso ao curso por meio de computadores e outros
meios de acesso à rede da internet.
Com a coordenação dos autores deste artigo, o Curso teve
uma carga horária de 136 horas, divididas em 3 módulos -
Património cultural: identificação, preservação e valorização
– com 42 horas (22 horas/aula e 20 de atividade orientada);
Gestão de acervos de ciências e saúde – com 62 horas (32
horas/aula e 30 de atividade orientada); Desenvolvimento de
trabalho final de conclusão, individual, mediante escolha te-
mática do aluno, encaixando-se nas grandes áreas temáticas
préviamente sugeridas pelos docentes, com 32 horas.
O modelo didático-pedagógico
desenvolvido
Dentre os requisitos apresentados pelos coordenadores, o
curso na forma de Educação a Distância – EaD seria o mais
compatível com as necessidades de superar as barreiras im-
postas pelas diferenças de fuso horário e, principalmente,
possibilitar a participação de alunos e docentes que também
estivessem em lugares diversos, dentro ou fora dos três paí-
ses participantes.
Embora a EaD seja reconhecida por sua capacidade de superar
as barreiras horárias e dos limites geográficos, essa forma de en-
sino exige da equipa pedagógica um constante aprimoramento
dos recursos didáticos-pedagógicos com o objetivo de antever
prováveis fatores que poderão provocar a evasão de alunos do
curso. No caso em questão, a distância transacional foi identifi-
cada como um possível fator para a evasão de alunos.
A distância transacional, como conceitua Moore (1991), é a dis-
tância pedagógica, cognitiva e social que existe entre professor e
aluno. Para o autor, esta distância, provocada por "espaços" psi-
cológicos ou de comunicação, pode gerar interferências, falhas
ou ruídos, que prejudicam o diálogo e promovem a evasão dos
alunos dos cursos, especialmente em forma de EaD.
Apesar do facto de todos os países envolvidos compartilharem
o mesmo idioma, as diferenças que marcam o vocabulário (lé-
xico) e a cultura - além dos sotaques regionais - poderiam ainda
ampliar a distância transacional invocada, gerando mais ruídos
de comunicação e conotação das palavras. O desafio de reunir
docentes de duas nacionalidades e alunos em três continentes,
com experiências e formações distintas, para debater e refletir
sobre temas relacionados com o património cultural da saúde,
requer, fundamentalmente, que a comunicação ocorra de forma
clara e objetiva entre os envolvidos, pois, corre-se o risco de ter
um alto índice de evasão.
Formação