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Inquirições refere-se a ela em 1220, junto a terras que a Ordem

de Malta detinha em Santana; de 1289, o testamento do capelão

de D.Afonso III,D.Domingos Jardo, também lhe faz referência;

em 1487, D. João II ordenava que o provedor desocupasse as

casas onde residia em São Lázaro "por não ser honesto a pessoa

sã estar portas adentro com os leprosos".

Da Casa de São Lázaro em Lisboa, há Regimento de 31 de

Março de 1460, e posturas de vereadores, do corregedor e do

procurador da cidade. Em 1493, D. Manuel considerava muito

conveniente construir, a par de São Lázaro, em Lisboa, uma ou-

tra casa de isolamento, para poiso dos pestíferos. O hospital-la-

zareto era então administrado pelo Senado do Município, com

superintendência da Coroa

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.Assinado também por D.Manuel I,

em 1520, emanado de Évora e dirigido à vereação de Lisboa, há

o registo da nomeação de Duarte Borges para dirigir a Gafaria

de Lisboa. O "Summario de Lisboa em 1551" de Cristovão de

Oliveira diz-nos que a ermida de São Lázaro "… na freguesia

de Santa Justa tinha de esmolas 60 cruzados… e nessa casa se

curam e mantêm os gafos". Anos depois, já com o cardeal-rei,

uma parte dos terrenos afetos a São Lázaro transitam para a pos-

se dos Jesuítas, para a construção do Colégio de Santo Antão-

-o-Novo (hoje o Hospital de S. José), para o que concorreram

também terras do Mosteiro de Santana. Com esta medida ini-

ciava-se igualmente o declínio da gafaria de Lisboa, quando a

lepra também já decrescia significativamente por toda a Europa.

Três séculos depois, em 1837, Lima Leitão, na Câmara de Lis-

boa atestava a sua decadência, como sendo "…uma das nódoas,

que [a monarquia] tem na sua reputação …".Tinha por essa al-

tura sessenta leprosos.A 11 de Novembro de 1844, a adminis-

tração de São Lázaro passou para a Misericórdia de Lisboa que

orientava também o Hospital Real de S. José. Desde então ficou

a Casa/Hospital de São Lázaro, emLisboa, associada às vicissitu-

des por que passou o Hospital de São José e depois o complexo

dos HCL. Em resumo, serviu de enfermaria para doentes de

pele e para inválidos; de armazémdos HCL;mas também alojou

aAdministração nos anos de 1927 e 28; depois, durante 40 anos,

desde 1930, foi a maternidade Magalhães Coutinho; seguiu-se o

Serviço de Fraturas, que a partir de 1971, passou a designar-se

Serviço de Ortopedia eTraumatologia dos HCL, o Serviço 9.

Em 1918, o Enfermeiro Mor, Lobo Alves, transferira os lepro-

sos internados em São José para os pavilhões do Hospital do

Rego (hoje o Hospital Curry Cabral), aberto em 1906 para o

internamento das doenças infeto-contagiosas, e que recente-

mente (1913) se tinha incorporado no grupo dos HCL. Só mais

de 30 anos depois, em1947-48, com a construção da Leprosaria

Rovisco Pais, naTocha, os leprosos encontravam de novo insta-

lação específica.

Vejamos algumas curiosidades avulsas sobre a lepra, retiradas da

literatura médica de portugueses:

- O "Philonium" deValesco deTaranta, em 1418, considera a le-

pra como uma doença hereditária e aconselha a castração. Con-

tudo, numa outra passagem, afirma que é só transmitida pela

mãe e nunca pelo pai.

- Pela mesma época, o "Leal Conselheiro" (c. 1428-1437), do

rios dos reis seus sucessores: em 1327, a rainha Santa Isa-

bel concedeu, 200 libras aos gafos de Coimbra, Santarém,

Leiria, Óbidos e Lisboa, seguindo os passos da sua tia-avó,

homónima, a rainha da Hungria.Tivemos também leprosos

célebres, como o rei gafo, D.Afonso II, que contraiu a doen-

ça e dela morreu em 1223, depois de se isolar em Santarém,

com as mãos deformadas, que o impediam de assinar os ac-

tos de governação.

São conhecidos regimentos e provisões dados a algumas

leprosarias portuguesas, como o da Casa de São Lázaro de

Santarém, de 1223, e o de Coimbra, de 1329. Em 1302, D.

Dinis atendia um pedido do concelho de Santarém para que

se mudasse a localização da leprosaria, devido ao perigo que

representava a sua proximidade com a urbe, que entretanto

crescera.

Quanto à leprosaria de Lisboa, essa é pelo menos tão antiga

como a nacionalidade. Há quem aponte a sua primeira localiza-

ção junto dos Mártires (Silva Correia), sendo deslocada aquan-

do da construção da cerca fernandina para o morro de Santana.

Porém a maioria dos autores considera-a na Colina de Santana

desde a origem da conquista da cidade aos mouros, o que parece

ser a interpretação mais correcta. Um documento inserto nas

Fig. 5:

A rainha Santa Isabel e o bispo de visita à gafaria de Coimbra Azu-

lejos de Jorge Colaço na Faculdade de Ciências Médicas, Lisboa (1906)

Fig. 6:

Lisboa medieval. In Júlio de Castilho "LisboaAntiga" 1897; (adaptado)

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