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detetores fluorométricos ou coloriméricos mais sensíveis, per-

mite agora obter culturas positivas para micobactérias de forma

mais célere, permitindo igualmente caminhar no sentido da au-

tomatização da determinação da concentração mínima inibitó-

ria de cada antibacilar, para cada isolado de um doente, em alter-

nativa ao antibiograma clássico que ainda hoje está “clinicamente

validado” apenas para

M. tuberculosis

e para um número restrito

de antibacilares. São os primeiros passos no sentido da medicina

personalizada em tuberculose.

Saber qual a concentração mínima inibitória para cada isolado

permite que se considere, com mais frequência, o aumento

da dose de certos antibacilares mais eficazes face aos casos de

mutirresistência, em alternativa à sua substituição por outros.

Por outro lado, a seleção de uma terapia eficaz para o doente

infetado com MDR-TB ou XDR-TB poderá vir a ser orientada

à priori pelo laboratório de Micobacteriologia, através do isola-

mento de macrófagos do doente, pela fagocitose experimental

da micobactéria isolada do mesmo doente e da apresentação ao

macrófago infetado das melhores terapias combinadas (devida-

mente consubstanciada pela determinação da concentração mí-

nima inibitória do bacilo isolado, para cada antibacilar) de forma

a determinar-se qual a combinação terapêutica mais eficaz para

cada doente e para cada bacilo, poupando-se tempo e otimizan-

do a melhor solução terapêutica [28]. O diagnóstico rápido e a

terapêutica personalizada são o futuro do combate à tubercu-

lose, sendo a forma mais eficaz de se combater a tuberculose

resistente aos antibacilares [16,28].

Sintetizando tudo o que anteriormente foi exposto, conclui-se

que o Laboratório de Micobacteriologia do IHMT desempe-

nhou um papel importante no controlo e prevenção da tuber-

culose, e em particular da tuberculose multirresistente, na re-

gião da Grande Lisboa e em Portugal, através da implementação

de novas metodologias de diagnóstico micobacteriologico que

permitem um diagnóstico laboratorial mais rápido e eficiente

de forma a dar uma resposta em tempo útil para o efetivo trata-

mento do doente com tuberculosemultirresistente.A experiên-

cia do Grupo deTrabalho para aTuberculose na Grande Lisboa

liderado pelo IHMT/UNL foi pioneira nesta abordagem, tendo

contribuído significativamente para a definição das prioridades

e avanços tecnológicos subsequentes, que culminaram nos siste-

mas de deteção molecular direta que estão hoje disponíveis no

mercado, em Portugal e no mundo. Assim, é possível ter uma

rotina de diagnóstico micobacteriologico que reduz o tempo de

resposta do laboratório de meses para semanas no que diz res-

peito ao teste de sensibilidade aos antibióticos e de meses para

dias no que diz respeito à identificação do bacilo. Permite ainda

informar o clínico, 24 horas após a colheita da amostra, do risco

de se tratar de um caso de tuberculose multirresistente. Neste

contexto, a deteção direta por amplificação de ácidos nucleicos

de

M. tuberculosis

e de pesquisa de mutações ligadas à resistência

à rifampicina, nas amostras dos doentes bacilíferos, como indi-

cador precoce de multirresistencia,mostrou-se altamente eficaz

e preditivo. Associado a estes avanços, a utilização de sistemas

automatizados de cultura micobacteriana com detetores mais

sensíveis e eficientes permite hoje obter isolamentos mais céle-

res, possibilitando igualmente caminhar-se para a automatização

da determinação da concentração mínima inibitória para cada

antibacilar, em cada isolado do doente, abrindo as portas à me-

dicina personalizada do futuro [28,29].

Fruto desta experiência bem-sucedida de mais de 10 anos, em

Setembro de 2011, o Secretariado Executivo da Comunidade

dos Países de Língua Portuguesa, no âmbito do Plano Estra-

tégico de Cooperação em Saúde da Comunidade de Países de

Língua Portuguesa (CPLP) e a Fundação Calouste Gulbenkian,

ao abrigo do Programa de Apoio ao Desenvolvimento e Coo-

peração com África, aprovam e financiam o projeto “Formação

em Diagnóstico Laboratorial de Tuberculose, ForDILAB TB”,

projeto que reúne a Fundação Calouste Gulbenkian, a CPLP, o

Instituto de Higiene e MedicinaTropical e o Instituto Nacional

de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Figura 1, Fotos 3 e 4). Este projeto

contou como apoio e alto-patrocínio do Representante Especial

para Tuberculose do Secretário-geral das Nações Unidas, Sua

Exª o Presidente da República Portuguesa, Dr. Jorge Sampaio.

De 2012 a 2014, este projeto permitiu o intercâmbio de expe-

riências de implementação de novas tecnologias e de criação de

redes de laboratórios de micobacteriologia, de onde se destaca

a missão de apoio à instalação do Laboratório deTuberculose do

Instituto Nacional Saúde Publica da Guiné-Bissau em Outubro

de 2013 (Figura 1, Foto 5).Operacionalizado em íntima relação

com os desafios colocados pela coinfeção peloVIH, aproximan-

do Programas de Luta Contra aTuberculose e Contra oVIH nos

países da CPLP, do qual o IHMT/UNL é ponto focal para a saú-

de, este programa de capacitação local permitiu formar mais de

60 profissionais de saúde na área de Micobacteriologia -Tuber-

culose – eVIH.

Esta e outras experiências levaram-nos a procurar dar resposta a

uma necessidade constante de novas ferramentas que permitam

o diagnóstico rápido da tuberculose, em particular em países

com poucos recursos, com ênfase no desenvolvimento de mé-

todos que dispensem a utilização de equipamento especializado

ou mesmo o fornecimento constante de corrente elétrica, esta-

belecendo um conjunto de novas colaborações. Neste sentido,

a utilização de novas abordagens tecnológicas, em particular a

utilização de nanosondas de ouro, revelou-se particularmente

atrativa. O potencial desta nova abordagem espelha-se na atri-

buição do prémio para melhor comunicação em painel na área

da Engenharia Celular e deTecidos, Biomateriais e Nanobiotec-

nologias no Congresso Nacional de Microbiologia e Biotecnolo-

gia em 2009 (MicroBiotec´09,Vilamoura, Portugal) e três anos

mais tarde, na atribuição do Prémio de Mérito Santander/Totta

– Universidade Nova de Lisboa, pelo trabalho “NanoTB - Nano-

diagnostics for XDRTB at point-of-need”, no qual se reconhece

a excelência e o potencial do trabalho desenvolvido pelas equi-

padas coordenadas por MiguelViveiros (IHMT/UNL) e Pedro

Baptista (FCT/UNL) (Figura 1, Foto 6).

Procura-se assim auxiliar os programas nacionais e locais de

Luta contra aTuberculose, honrando as experiências do passado

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