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trovirais desenvolvidos para o tratamento da infeção porVIH-
1 são igualmente eficazes para as estirpes deVIH-2: oVIH-2 é
naturalmente resistente a todos os INNTRs e ao IE enfuvirtide
(T20) [27, 28] e também apresenta graus variáveis de resis-
tência natural a alguns IPs.As vias evolutivas para aquisição de
resistências no VIH-2 são também diferentes das do VIH-1 e
os algoritmos de interpretação precisam de ser adaptados para
este tipo deVIH.A nossa instituição tem estado envolvida ati-
vamente no estudo das mutações de resistência aos antirretro-
virais que conferem resistência aos INIs e aos PIs em estirpes
deVIH-2, nomeadamente através do trabalho do investigador
Ricardo Camacho e da aluna de doutoramento Joana Cavaco
Silva, e publicou recentemente dois artigos sobre este tema
[29, 30].
Alterações na dinâmica de transmissão da
epidemia doVIH
Nas últimas décadas, a epidemia deVIH/SIDA tem tido efei-
tos profundos e duradouros sobre as sociedades em todo o
mundo. No início da epidemia, a maioria dos casosVIH posi-
tivos que ocorreram nos países ocidentais resultaram das rela-
ções sexuais entre homens e do uso de drogas injetáveis [31].
Os avanços na terapia antirretroviral, a migração ativa de paí-
ses onde a transmissão por contato heterossexual é frequente,
e programas de prevenção extensivos com um forte impacto
na mudança dos comportamentos de risco, alteraram os mo-
dos de transmissão do VIH [31]. Embora o grupo dos HSH
continue a ser o grupo com maior risco de adquirir o VIH
na Europa Ocidental (constituindo 40,1% de todos os novos
diagnósticos de VIH em 2011), os novos diagnósticos entre
heterossexuais subiram acentuadamente nos últimos anos,
enquanto os utilizadores de drogas injetáveis (UDI) repre-
sentam muito pouco entre os novos casos de diagnósticos de
VIH na região. Foram observadas tendências semelhantes em
Portugal, onde os dados de vigilância de rotina mostram que
a transmissão heterossexual e homo ou bissexual contribuem
para a maior parte das infeções diagnosticadas recentemente
(63,1% e 24,1%, respetivamente). O grupo da investigadora
e Professora do IHMT Sónia Dias tem estado amplamente en-
volvido num grande número de estudos sobre os fatores sócio
comportamentais associados à transmissão da infeção.
Populações em maior risco
Os esforços para controlar a epidemia de uma doença infe-
ciosa de etiologia multifatorial têm servido para destacar a
complexidade dos subgrupos culturais e da diversidade de
estilos de vida a considerar nas políticas e ações de saúde. Em
epidemias concentradas, algumas populações têm sido reco-
nhecidas como uma prioridade para a prevenção, uma vez
que são consideradas em maior risco para contrair e trans-
mitir oVIH, e incluem homens que fazem sexo com homens
(HSH), trabalhadores do sexo (TS), UDI e imigrantes.
O grupo dos HSH continua a ser desproporcionalmente afe-
tado pela infeção por VIH [32]. O número de casos de VIH
entre HSH na Europa aumentou 27% entre 2004 e 2009,
mais do que os adquiridos via relações heterossexuais ou
pelo uso de drogas injetáveis [33]. Em Portugal, a incidên-
cia doVIH em HSH tem-se acentuado, sendo o terceiro país
europeu com o maior número de novos casos diagnosticados
atribuídos ao sexo entre os homens [33]. Recentemente, o
aumento da incidência de novos diagnósticos entre HSH em
várias cidades da Europa,América do Norte e Austrália, tem
sido associado a um aumento do sexo desprotegido e das
taxas de infeções sexualmente transmissíveis (IST) [31, 34].
As razões para o aumento dos comportamentos de risco não
estão totalmente claras, mas a fadiga da prevenção e falta
de conscientização entre os HSH mais jovens têm sido fre-
quentemente apresentadas como possíveis explicações [34].
Além disso, como a terapia antirretroviral se tornou muito
disponível, observou-se uma forte melhoria na qualidade de
vida das pessoas infetadas com o VIH [34]. Paradoxalmen-
te, isso pode ter contribuído para mudanças no modo como
muitos HSH vêm as consequências da transmissão do VIH
e percecionam o risco de adquirirem o VIH, o que resulta
no aumento dos comportamentos sexuais de alto risco [34].
Outro fator importante para aumentar o risco doVIH entre
HSH tem sido as relações complexas entre comportamentos
de risco que levam a adquirir o VIH e a adoção de medidas
protetoras entre os membros do grupo, conforme descri-
to em diversos estudos. Num estudo transversal realizado
recentemente pelo grupo da investigadora Sónia Dias, os
resultados mostraram que muitos dos HSH envolveram-se
em comportamentos de alto risco e adotaram práticas de re-
dução de risco (“serosorting e seropositioning”) como estra-
tégias de prevenção baseadas no estatuto doVIH do próprio
e do parceiro (dados não publicados). Esses comportamen-
tos não foram rigorosamente avaliados como abordagens de
prevenção do VIH, e alguns podem representar riscos não
intencionais para os HSH ao reduzir o uso do preservativo,
especialmente entre aqueles com um teste recente negativo
paraVIH, infetados recentemente [35].
Considerável atenção tem sido dada aos contextos que au-
mentam a exposição dos HSH ao risco doVIH. Os ambientes
onde os HSH encontram outros HSH para sexo casual, geral-
mente anónimo, sugerem que esses locais estão associados a
comportamentos de risco para oVIH [36]. No nosso estudo,
os HSH que costumam visitar locais de passagem para en-
contrar parceiros sexuais relataram prevalências elevadas de
VIH e um grande número de parceiros sexuais envolvido em
sexo em grupo e com relações sexuais desprotegidas com
um parceiro com estatuto desconhecido (dados não publica-
dos). Além disso, os efeitos dos comportamentos sexuais de
risco na infeçãoVIH podem depender fortemente das redes
sexuais e suas caraterísticas (tamanho, simultaneidade/con-
Artigo Original