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Nas últimas décadas, têm sido realizados grandes esforços na

tentativa de se desenvolver estratégias alternativas para recru-

tar populações de difícil acesso para efeitos de investigação,

uma vez que não existe nenhuma base de amostragem para

esses grupos e é inviável usar métodos de amostragem tradi-

cionais probabilísticos. Alguns dos métodos mais inovadores

têm sido utilizados na investigação internacional para a recolha

de dados sobre as tendências de prevalência da infeção VIH

e fatores de risco comportamentais das populações de difícil

acesso [42]. O SIALON II é um projeto europeu em curso,

que envolve 16 países europeus, incluindo Portugal destinado

a fornecer evidência científica para uma vigilância epidemioló-

gica eficaz utilizando metodologias de amostragem inovadoras

como a amostragem por tempo-local e a amostragem dirigi-

da pelo entrevistado [41]. O IHMT, como instituição do país

coordenador da avaliação do projeto, tem contribuído para

avaliar a eficácia dessas abordagens e melhorar a capacidade

das instituições de saúde pública e das organizações não-go-

vernamentaisna utilização de novas amostragens e novos mé-

todos de testes para a recolha de dados bio comportamentais

entre populações de difícil acesso, como HSH. Como parcei-

ro coordenador da avaliação, também estamos a colaborar no

desenvolvimento de orientações internacionais sobre a imple-

mentação de estratégias e políticas eficazes de saúde pública

em áreas de forte necessidade na Europa.

Um outro desafio relevante na condução de investigação em

VIH tem sido a obtenção de informação quando as comunida-

des não estão geralmente dispostas a participar nos esforços

de investigação, quer porque muitas vezes têm um sentimen-

to de desconfiança e desinteresse em relação à investigação

ou estão relutantes em revelar os seus comportamentos e

situação de infeção a outras pessoas [41]. A longa história de

investigações a partir das quais não havia qualquer benefício

direto (por vezes até danos reais) nem retorno dos resulta-

dos às comunidades contribuiu para essa desconfiança [43].

Isto coloca um problema de investigação, não de métodos

mas de abordagem. O reconhecimento de que as iniciativas

de investigação não estavam a ter efeito nos ganhos em saúde

e bem-estar das comunidades levou a que progressivamente

se viesse a considerá-las como parceiros ativos na identifi-

cação de problemas-chave e na utilização dos resultados da

investigação, vindo a ter um importante papel na realização

de investigação participativa baseada na comunidade com po-

pulações difíceis de alcançar/de difícil acesso [44]. Este foi

o caso do PREVIH, um projeto Português desenvolvido no

IHMT de 4 anos de investigação-intervenção sobre VIH em

TS e um dos primeiros projetos nacionais desenvolvidos com

uma natureza intersectorial e participativa, envolvendo todos

os atores interessados em e afetados pela problemática do

VIH (instituições de investigação/ensino, serviços de saúde,

ONGs, organizações de base comunitária (OBCs) e socieda-

de civil). Claras vantagens foram encontradas na utilização da

abordagem de investigação participativa, uma vez que contri-

buiu para ultrapassar diversos desafios no decorrer do proje-

to, principalmente os relacionados com assegurar um com-

promisso pleno dos parceiros comunitários sobre a relevância

do projeto, construir e manter confiança e respeito mútuo,

determinar a melhor forma de alcançar subgrupos de TS de

difícil acesso garantindo simultaneamente o rigor científico,

e abordar as questões éticas. Outros resultados importantes

foram a obtenção de uma maior relevância das questões de

investigação para a comunidade, um desenho de estudo, me-

todologia, métodos e medidas mais apropriados para a popu-

lação e contexto dos TS, melhores taxas de recrutamento e

retenção de participantes, interpretação dos resultados mais

enriquecida através da integração de múltiplas perspetivas, e

o desenvolvimento do

empowerment

da comunidade e da capa-

cidade para a prevenção doVIH.

Esta experiência, como muitas outras iniciativas internacio-

nais de investigação participativa, reforçam o potencial da

abordagem participativa em investigação para obter evidência

sobre o peso do VIH, os fatores de risco sociodemográficos,

comportamentais e estruturais associados e as necessidades

de prevenção nas populações vulneráveis, particularmente

nas que se encontram em maior risco.Tem sido também re-

conhecido o seu potencial para a tradução do conhecimento

– uma prática inovadora multifacetada que permite intercâm-

bios multidirecionais e a co-construção de conhecimento en-

tre os académicos, os representantes comunitários, os profis-

sionais e os decisores políticos, e a sua tradução em políticas e

ações de saúde efetivas baseadas na evidência [44-46].

A necessidade de encontrar continuamente estratégias mais

eficazes e eficientes para ultrapassar os desafios atuais é pri-

mordial. Abordagens de investigação adequadas são a essên-

cia de qualquer sistema de vigilância de alta qualidade, es-

pecialmente quando se pretende compreender as dinâmicas

de transmissão em populações que têm um potencial papel

na transmissão do VIH e que são difíceis de alcançar. Nos

últimos anos temos vindo a assistir a uma mudança de para-

digma na investigação emVIH, no sentido da construção de

alianças inovadoras para a promoção da saúde sexual, rein-

ventivas e adaptadas às necessidades dos atores envolvidos,

que promovam a sua capacidade para conceber investigações

e intervenções mais relevantes, coerentes, responsivas e sus-

tentáveis ao longo do tempo.

Infeção porVIH-2:

uma estratégia para o desenvolvimento

de uma vacina para oVIH

Os grandes desafios que se colocam ao desenvolvimento

de uma vacina eficaz e protetora contra a infeção porVIH-1

têm por base a diversidade genética do VIH-1, a incer-

teza sobre o que deve constituir a imunidade protetora,

e a dificuldade em desenvolver antigénios que induzam

respostas neutralizantes de elevada potência e com am-

plitudes mais abrangentes. Os anticorpos com atividade

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