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A n a i s d o I HM T
corrência de parceiros sexuais, proporção de membros de
elevado e baixo risco), traduzindo-se em diferentes níveis de
risco para oVIH [35].
Outra população chave para a prevenção doVIH são osTS pois
eles e seus clientes podem ter um papel importante na trans-
missão [37]. Os dados recentes, mas limitados, tendem a con-
firmar que a prevalência do VIH entre TS é maior do que na
maioria das outras populações [31, 37]. Os TS experienciam
elevada exposição sexual ao risco através de um grande núme-
ro e concorrência de parceiros sexuais. Em termos biológicos,
a alta prevalência de IST emTS e a relação sinérgica entre o
VIH e outras IST agrava os riscos [37]. A maioria dos TS em
todo o mundo são mulheres. No entanto, existem popula-
ções substanciais de TS masculinos e transexuais em muitos
países [31, 37]. A dinâmica da transmissão do VIH entre es-
tesTS pode ser ainda mais complexa com os riscos biológicos
aumentados devido ao sexo anal, elevada prevalência do VIH
em alguns subgrupos, e à grande proporção de TS homens e
transexuais que relatam práticas bissexuais [37]. Um estudo
comportamental realizado em Portugal por investigadores do
IHMT mostrou uma prevalência de VIH de 17,6% entre os
TS transexuais, muito superior à de outros subgrupos [38], e
consistente com outros estudos internacionais [37].Além dis-
so, como foi demonstrado neste estudo, a transmissão doVIH
entre TS também pode ser agravada pela interseção do uso
de drogas injetáveis e trabalho sexual, através do aumento da
exposição parentérica devido à partilha de equipamentos de
injeção, sexo com parceiros positivos para oVIH, reduzido uso
de preservativos e risco aumentado de outras IST [31, 37, 39].
Os resultados também documentam as influências limitantes
de fatores estruturais, incluindo a pobreza, a degradação das
condições do trabalho sexual, a desigualdade de género, assim
como os efeitos nocivos da violência física e sexual, estigma,
discriminação e exclusão social [31, 37]. Esses fatores aumen-
tam diretamente o risco de infeção porVIH entre trabalhado-
res do sexo, restringindo o acesso à saúde preventiva e servi-
ços de tratamento doVIH/outras IST [31, 37].
Os migrantes de países com epidemias generalizadas deVIH,
particularmente da África subsaariana, têm sido reconheci-
dos por representar uma parcela desproporcional e crescen-
te de infeções porVIH na Europa Ocidental. Nos países com
informação disponível, dois terços de todas as infeções por
VIH adquiridas heterossexualmente e diagnosticadas duran-
te 1997-2002 foram em pessoas provenientes de países com
epidemias generalizadas de VIH [31]. Além disso, a migra-
ção coloca frequentemente essas mesmas pessoas em vul-
nerabilidade acrescida ao VIH e suas complicações [31]. As
potenciais explicações incluem os longos períodos longe de
controlo social da família e dos parceiros, a experiência de
exclusão social e a falta de proteção legal [31]. Além disso, a
subutilização dos serviços de saúde para a prevenção doVIH,
testes e tratamento, associada a barreiras culturais, linguísti-
cas, socioeconómicas e legais, foi identificada como um fa-
tor que contribui para a vulnerabilidade dos imigrantes [31,
40]. Um estudo sobre infeção VIH e imigrantes em Portu-
gal mostrou que grupos de imigrantes específicos, como os
imigrantes homens, provenientes da Europa do Leste e em
situação irregular reportaram taxas mais baixas de testes de
VIH, sugerindo constrangimentos culturais, legais e linguís-
ticos no acesso aos serviços de saúde da infeção porVIH [40].
O estudo também indica que esta população apresenta ten-
dencionalmente altas taxas de infeçãoVIH não diagnosticada
e utiliza os serviços de saúde em fases posteriores da doença
[31, 40]. Um estudo bio comportamental comTS imigrantes
em Portugal revelou que muitos imigrantes infetados pelo
VIH não têm conhecimento do seu estado serológico (dados
não publicados).
Desafios emergentes para a vigilância, in-
vestigação e tradução do conhecimento
Mais do que nunca, na era da terapia antirretroviral altamen-
te eficaz, o diagnóstico precoce e o tratamento dos indivíduos
infetados é essencial para a prevenção, tratamento e controlo
doVIH. Uma grande percentagem das pessoas infetadas por
VIH continua a ignorar a sua infeção - dos 35 milhões de pes-
soas infetadas porVIH no mundo, 19 milhões não sabem que
são seropositivos para oVIH (3). Essas pessoas não vão poder
beneficiar de um tratamento eficaz e vão continuar, sem sa-
ber, a transmitir o VIH. Além disso, as pessoas infetadas re-
centemente têm cargas virais elevadas, o que aumenta o ris-
co de transmissão [31]. Medir com precisão a prevalência do
VIH e comportamentos ao longo do tempo, nomeadamente
nas populações em maior risco é essencial para o planeamen-
to e a implementação de programas de prevenção adequados
e custo-efectivos [31]. Infelizmente, a nossa compreensão da
carga e epidemiologia doVIH em populações em maior risco
é escassa, em grande parte porque essas populações estão
pouco representadas nos sistemas nacionais de vigilância do
VIH, estando “escondidas” e sendo estigmatizadas em muitos
lugares. Neste sentido, a existência de populações de difícil
acesso apresenta um desafio para a vigilância doVIH, que ul-
timamente tem levado a uma grande expansão de inquéritos
de vigilância bio comportamentais para determinar a preva-
lência deVIH e comportamentos de risco associados nas po-
pulações mais vulneráveis [41]. No entanto, definir e aceder
aos subgrupos em maior risco é um grande desafio. Dadas
as recentes tendências do VIH, e considerando os diversos
perfis sócio comportamentais e níveis de risco e exposição
ao VIH entre essas populações, surgem questões relevantes:
são os subgrupos que foram estudados até agora os mais im-
perativos? Estamos a usar os métodos mais eficazes para ob-
ter amostras suficientes e diversas das populações que mais
interessam? Estas preocupações têm destacado a necessidade
de estratégias de amostragem alternativas para subgrupos
populacionais que não são eficientemente “capturados” através
das estratégias de recolha de dados convencionais [41].