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A n a i s d o I HM T
neutralizante levam aproximadamente por 2 anos para
serem produzidos pelo sistema imunitário após a infeção
por VIH, contudo apenas uma pequena percentagem de
indivíduos desenvolvem anticorpos com capacidade para
neutralizarem o VIH-1 [47]. Os anticorpos neutralizan-
tes, que neutralizam diversos subtipos de VIH-1, são pro-
duzidos por cerca de 20% dos indivíduos infetados [48].
Estes anticorpos são caracterizados por uma elevada fre-
quência de mutações somáticas nas regiões que determi-
nam a complementaridade [49]. Os anticorpos neutrali-
zantes contudo, não evitam o escape do vírus na maioria
dos indivíduos [50]. A produção de anticorpos monoclo-
nais humanos neutralizantes utilizando novas abordagens,
como é o caso de células B de memória específicas para
antigénios doVIH-1, esta é uma das principais estratégias
na pesquisa de vacinas para o VIH-1 [51-53].
Os estudos sobre o desenvolvimento de vacinas para a
infeção por VIH-1 no IHMT, através do grupo do inves-
tigador José Marcelino, tem sido centrada na avaliação
do papel dos anticorpos na infeção por VIH-2 [54-58].
Para avaliar estes objetivos foi estudado o VIH-2, o se-
gundo retrovírus que causa também a SIDA no homem
como acontece com o VIH-1. A infeção pelo VIH-2 tem
sido descrita como um bom exemplo de como o sistema
imunitário é capaz de desenvolver ferramentas eficientes
para controlar a replicação deVIH-1 e evitar a progressão
da doença. Os estudos para avaliar este tipo de resposta
foram realizados em murganhos e utilizaram uma coorte
de indivíduos infetados por VIH-2.
A imunogenicidade e a resposta neutralizante induzida
por proteínas recombinantes derivadas do invólucro de
um isolado primário de referência,VIH-2ALI, foram ava-
liadas num modelo animal, murganhos Balb/C, em que
os animais foram imunizados com várias combinações do
vírus
vaccinia
expressando proteínas do VIH-2ALI e de-
pois com proteínas recombinantes da região do invólucro
do VIH-2ALI [59].
Os resultados demonstraram que podem ser induzidos
anticorpos neutralizantes muito reativos utilizando uma
estratégia de imunização, utilizando numa primeira fase
o vírus
vaccinia
e depois uma proteína recombinante da
região C2V3C3 da gp125. O estudo permitiu sugerir
também uma possível relação entre o escape do vírus à
neutralização e o tropismo celular [57, 59].
A natureza e a dinâmica da resposta de anticorpos neutra-
lizantes obtida e o escape viral foram caracterizadas num
grupo de indivíduos crónicos infetados por VIH-2 [57]. A
maioria dos doentes infetados com isolados R5 de tropis-
mo desenvolveram anticorpos neutralizantes específicos
para a região C2V3C3, contudo potência e amplitude di-
minuíam com a progressão da doença. A resistência aos
anticorpos neutralizantes ocorreu na fase mais avançada
da doença e estava geralmente associada aos vírus com
tropismo viral X4 e com grandes alterações na sequência
de amino ácidos da região V3 assim como na sua confor-
mação. Estes estudos suportam um novo modelo para a
patogénese doVIH-2 em que os anticorpos neutralizantes
desempenham um papel central e têm fortes implicações
para o desenho de uma vacina para o VIH-1 [57].
Estes estudos demonstram pela primeira que a maioria
dos indivíduos infetados por VIH-2 desenvolvem anticor-
pos que os protegem da progressão da infeção por VIH-
2. A progressão da infeção para a fase de SIDA ocorreu
apenas nos pacientes em que se observou uma redução
da presença de anticorpos neutralizantes contra o VIH-2.
Nestes pacientes o vírus era resistente à atividade dos an-
ticorpos neutralizantes, e adquirindo a capacidade de in-
fetar novas células. Observou-se que havia uma região do
envelope do vírus que foi o alvo da resposta de anticor-
pos neutralizantes e que também foi alterada em contacto
com estes anticorpos. Os resultados dos estudos realiza-
dos poderão contribuir para o desenvolvimento de uma
vacina que proteja contra a infeção por VIH-2 e no dese-
nho de novas estratégias para uma vacina para o VIH-1.